O pôr do sol havia acabado de acontecer, e o acampamento dos Repugnantys, antes iluminado pela própria luz de Apolium, agora se clarejava de algumas tochas que circundavam o seu entorno. Cinco dos sete membros daquele grupo tão singular, já estavam no centro daquele círculo de fogo, trajando roupões com capuzes que lhes cobriam grande parte do rosto. Doys com uma túnica amarela, Verdy com sua túnica verde, Lody de roxo, Toxy de laranja e Zuly de azul, logicamente. Todos os cinco estavam em círculo, de joelhos, de olhos fechados e com as mãos por detrás das costas, como se estivessem amarrados.
No meio deste círculo, um Y enorme, feito em madeira, tendo e média três metros de altura, que Cris jamais soube da onde diabos eles tiraram aquilo. De repente, ele estava lá.
- Mas o que eles estão fazendo lá fora? - disse o vendedor, que espiava tudo isso de dentro da grande barraca vermelha.
- Estão preparando o ritual de iniciação. - respondeu Pony, que confeccionava algum tipo de liquido negro, denso e grosso em uma tigela de barro.
- Eu não sei por que fui aceitar essa loucura. - retrucou ele, fechando a abertura da barraca pela qual espiava.
- Não é loucura. Além do mais, você iria preferir que meu pai permanecesse sob posse dos Overtrons? - ela mexia aquela mistura freneticamente. - Devo lhe lembrar, que você também está atrás dele.
- E ainda não sei exatamente o motivo. - Cristaldo estava trajado do mesmo tipo de túnica que os Repugnantys, só que da cor preta.
- Ah, deixa disso. Você ficou muito lindo com essa túnica.
- É sério? - duas maçãs surgiram em suas bochechas. - É, obrigado, eu acho. - não estava muito acostumado a receber elogios.
- É super sério. Inclusive, - continuou ela, se aproximando. - eu acho que fica bem melhor em você, do que na Sombrya.
"Não se mije, não se mije, não se mije".
- Esse, esse, quer dizer, essa, es, essa t, tú, túnica era dela, é?
- Não se preocupe, está lavada. - ela pegou no tecido da túnica com a ponta dos dedos. - Ela costumava cheirar a cigarro. A Sombrya era uma verdadeira fumante compulsiva. Acho que ela chegava a fumar uns dez maços por dia.
- Dez? - cheirou a túnica. - São muitos cigarros...
- Orra, e como são!
- É... - olhou para baixo.
- O que foi? - como se já não estivesse perto o suficiente, Pony se aproximou ainda mais. - Nunca esteve tão perto assim de uma mulher cabra?
- Claro que já, - disse ele, dando passos para trás. - quem você acha que eu sou?
- Eu espero não estar atrapalhando algo entre vocês dois. - Sangrento entrou na grande barraca vermelha.
- Não atrapalhou nada. - respondeu ela, se afastando do vendedor. - Nós estávamos só conversando.
- Nunca vi pessoas conversando tão de perto assim. - foi até sua escrivaninha, e retirou de lá o pote de molho de tomate. - Eu talvez não esteja tão acostumado com tanta intimidade. - abriu o pote de molho, e com a mesma colher de sempre, pegou um bocado, e o esparramou na camiseta branca que vestia por debaixo da túnica vermelha.
- Por que você faz isso? - era a segunda vez que Cristaldo presenciava aquela cena estranha, mas mesmo assim não deixou de ser estranha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Vendedor De Guarda-Chuvas: Volume I
HumorO vendedor de guarda-chuvas, Cris, tem o emprego por um fio quando o Deus da Chuva some. Agora que as chuvas cessaram, e ninguém mais compra seus guarda-chuvas, ele embarca numa aventura para descobrir o que houve com o tal Deus, e salvar seu meio d...