Capítulo III: Quanto Mede Um Pigmeu?

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     Estava escuro, muito escuro. Estava tão escuro, que em nada diferenciava se estivesse de olhos abertos ou fechados. Aquilo o aterrorizou. Lamentou-se por não ter trazido a lanterna. Em certo momento se lembrou que havia esquecido a lanterna. "Droga, lembrei que esqueci a maldita lanterna", e por ter lembrado que havia esquecido a lanterna, se permitiu sentir-se um pouco mais burro. Realmente não era nada fácil caminhar por aquela mata, ainda mais num breu como aquele. A coisa que mais lhe foi útil naquele momento foi o tato, pois a cada árvore que tocava, planta desconhecida que encostava, a cada galho que esmagava com seus pés, pôde orientar-se com um pouco mais de cautela. Andou, andou, andou e andou, andou por alguns minutos, e nada. Andou num passo lento, pois não poderia se arriscar em cair em algum buraco ou barranco.

     Quando percebeu que a decisão mais sábia seria acampar, ele tirou das costas a mochila que trazia consigo, e retirou dela todos os aparatos para acampamento e sobrevivência na selva, que seu tio Mingau, havia lhe dado de presente no seu aniversário de doze anos. "Com toda certeza esses Mata-Moscas 2000 serão úteis", disse, retirando a tal coisa. "Não posso me esquecer também, do isqueiro de Zjarr", e quando se lembrou do tal isqueiro de Zjarr, se sentiu ainda mais burro do que se sentira antes, quando se lembrou de seu esquecimento anterior.

     O famoso isqueiro de Zjarr, era com certeza o aparato mágico mais conhecido em todo o mundo, e na Albânia também. Poucos itens mágicos, feitos por deuses, são entregues assim para os humanos, mas Zjarr por algum motivo quis dar essa dádiva para seus filhos se divertirem. O isqueiro, quando aceso, emitia uma chama tão brilhante, tão linda e tão quente, que seria capaz de até mesmo comparar-se a uma Supernova.

     Era de uma beleza realmente exuberante.

     Sua chama dourada, com um núcleo lilás, ardia como um amor secreto de adolescente. E mesmo com qualquer vento, a sua chama jamais se apagava, até seu portador a desativar, apertando um botão em sua lateral. Foram feitos apenas duzentos destes isqueiros no mundo inteirinho, e jamais seriam feitos de novo, já que Zjarr já havia se aposentado de seu cargo de Deus do Fogo. Cada um desses isqueiros mágicos, custavam o olho da cara, pois haviam colecionadores pelo mundo inteiro, colecionadores estes que achavam realmente que quando juntassem todos os itens mágicos que os deuses entregaram para a humanidade, seriam deuses também. Enfim, tolos.

     - Eu não acredito nisso. - disse ele, olhando para o isqueiro já aceso. - Eu poderia ter vendido essa coisa, e não precisaria ter vindo para cá. - se lembrou que conseguiu o isqueiro num leilão online, de um carinha no Linstagrem. O adquiriu na época por quatrocentos Pingos D'Ouro. Uma pechincha! - Uhul, eu tenho a chama de Zjarr! - se levantou do chão, e deu pulos de alegria. Aparentemente aquilo significava alguma coisa. Um item caro, raro para caramba, e que poderia salvar sua vida. - Estou rico, rico, porra! Como que eu tinha esquecido disso. Coloquei na minha mochila e nem me toquei.

     Pois é, aquilo poderia sim ter salvo a sua vida, não fosse um pisão errado, numa folha úmida errada, no momento errado, que por fim o fez escorregar com as pernas abertas. Sua felicidade não o permitiu ver que ao seu lado, havia um barranco, com uma queda considerável de uns quatorze metros ao desconhecido breu. Sua última visão, foi ver seu precioso item ser atirado para o mais profundo e abissal vazio. A chama dourada com seu núcleo lilás, foi engolfada pelo soturno, e caía no mais profundo esquecimento. Cris, jamais encontraria seus setecentos milhões de Pingos D'Ouros novamente, isso na cotação atual, pois num futuro não muito distante, a moeda sofreria um aumento considerável, triplicando-se em menos de uma década.

      - NÃO! - gritou ele, encarando o vazio na qual a chama a cada segundo que passava, ficava cada vez mais distante e fraca. Sumiu.


O Vendedor De Guarda-Chuvas: Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora