Naquele papel impresso, havia alguns números e símbolos matemáticos estranhos. Cristaldo nunca foi um cara de exatas. Não entendia o que números e símbolos matemáticos tinham a ver com coordenadas, e como sequer poderiam indicar um certo local. Não saberia como decifrar aquilo, e se dependesse dele, jamais achariam o ponto de encontro indicado. "Por que simplesmente não colocaram isso num GPS, iria ser bem mais fácil", pensou ele, enquanto usava todos seus neurônios para tentar ler o papel impresso pelo robô-bola.
- Me dê isso aqui. - Doys, com toda a sua pompa, tomou o papel das mãos do vendedor.
Doys, no entanto, sabia muito bem o que estava fazendo. Diferente dele, se destacava nos meios exatos e numéricos. Um verdadeiro nerd do cacete, segundo Pony.
- Aqui indica que o ponto de encontro é próximo ao Morro Claravan. – após ter entendido as coordenadas, dobrou-o e o guardou no bolso do colete que usava.
- E onde fica isso? - perguntou o vendedor.
- Não é da sua conta.
Não respondeu aquele furioso ato de rispidez. Seu dia já havia sido bastante agitado e cheio de brigas para seu gosto. Gosto esse que se assemelhava muito a sangue. Cuspiu-o mais uma vez.
- Por que será que marcaram lá? - perguntou Pony.
- Provavelmente porque é o lugar mais afastado dos muros. - Doys tirou os óculos rachados do rosto, e os limpou com uma flanela que havia em um dos vários bolsos de seu colete.
- Não é aquele lugar que fica literalmente no centro da Floresta? - disse Verdy, passando seu recém-amigo de um ombro para outro.
- Exatamente. – após ter limpado a lente intacta, começou a limpar a danificada. - Longe pra cacete, diga-se de passagem.
- Quantos minutos até lá exatamente? - perguntou Cris, pouco se importando se seria maltratado novamente.
- Minutos? - Doys, não resistiu à uma dose de ironia. - Deveria te dar um pontapé por dizer isso. E por muitas outras coisas, inclusive.
- Dois dias, Cris. - falou Pony. - No mínimo.
- Dois dias? Mas a bola-robô-voadora disse que temos três dias para pensar.
- Bom, então acho que vamos ter que pensar na resposta enquanto seguimos caminho para o local determinado. - Pony se sentou no chão, com as pernas de cabra cruzadas.
Droga. - enquanto Doys limpava a lente rachada, ela se partiu em outros três pedaços menores. Apenas o aro esquerdo dos óculos redondo havia sobrado. - Viu só o que fez com meus óculos? Deveria fazer você me pagar outro. - mesmo faltando uma lente, colocou os óculos no rosto. - E que história é essa de "Temos"?
- Encontrar Pioggia também é o meu objetivo, e eu não vou ser intimidado por um zé-ruela que nem você! - apontou o dedo.
- Olha só, por mais que suas intenções sejam altruístas, como a volta da chuva no mundo, eu não me importo. Você pode até ir procurar pelo Pioggia, mas não vai com a gente. - guardou no bolso esquerdo do colete a flanela, e retirou do bolso direito o pano que usava para enxugar a testa do suor e do estresse. - Além do mais, já sabemos com quem ele está, e as condições para libertá-lo. Você não vai encontrá-lo primeiro que nós, então desista.
"Já pensei em desistir diversas vezes, e não, minhas intenções não são nada altruístas"
- Doys, essa não é a hora para mais brigas e discussões. – falou Pony. - Já não brigamos o suficiente hoje?
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O Vendedor De Guarda-Chuvas: Volume I
HumorO vendedor de guarda-chuvas, Cris, tem o emprego por um fio quando o Deus da Chuva some. Agora que as chuvas cessaram, e ninguém mais compra seus guarda-chuvas, ele embarca numa aventura para descobrir o que houve com o tal Deus, e salvar seu meio d...