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Bacaca otário burro💙:
hoje Shura conseguiu me fazer entender a matéria
ela disse que eu até tinha chances de não repetir de ano

Você:
Shura é uma idiota, não a escute
Você vai entrar em uma faculdade em Tóquio comigo, então trate de estudar bastante

Bacaca otário burro💙:
pode deixar
e, Bon

Você:
Hm

Bacaca otário burro💙:
deixe pra lá
até mais


Rin soltou um bocejo exagerado e se espreguiçou, colocando os dedos entrelaçados acima da cabeça e esticando todo o corpo de uma só vez. Havia poucas coisas em que ele exagerava, mas fazia um verdadeiro drama quanto ao cansaço quando achava que tinha ido bem em algo.

E tinha quase certeza de que havia se saído muito bem na prova para a universidade. Não tinha muita certeza sobre o que tinha escolhido para fazer - gastronomia, e os seus amigos não ficaram surpresos -, mas não havia problema nisso.
O campus era grande e bonito, com árvores cortadas em forma de pinheiros e até mesmo um lago cor de esmeralda com carpas. Ele e Ryūji fizeram a prova em outra cidade, com litoral, apenas para poderem fugir um pouco da ansiedade da família.

-Como foi? - Suguro o puxou pela cintura quando se aproximaram e lhe roubou um selinho. Sua prova havia sido uma hora antes, mas preferiu esperar por Rin.

-Não faça isso em público, bobo. E eu fui bem. Claro que eu fui bem, eu me tornei um exemplo de aluno estudioso.

-Eu tenho minhas dúvidas quanto a isso - o Okumura lhe acertou um soquinho no braço - é brincadeira, você se saiu bem, tenho certeza.

-E se não tiver me saído, não tem problema, eu posso virar stripper.

-Claro que pode - Ryūji riu - agora vem, eu tive uma idéia


-Cruzes.

Suguro o guiou pela cidade até a beira dos penhascos, onde rumaram o caminho íngrime e sinuoso até a praia. Não dizeram muito além do ocasional resmungo bem-humorado sobre como ia ser horrível subir de novo aquela montanha.
Ao nível do mar, o céu estava radiante demais para ser real. Não havia vivalma além deles - ninguém mais seria tolo o bastante para fazer uma caminhada que desce dos penhascos -, então os dois tiraram os casacos e os deixaram amontoados no canto da praia. Rin fez uma cena para retirar os tênis vermelhos, chutando-os em um arco alto e os deixando onde caíram, o que fez Ryūji rir. Ele é muito mais civilizado tirando os seus, colocando-os lado a lado e enrolando as meias antes de guarda-las dentro dos tênis.
Rin começa a andar ladeando as ondas e dançando para longe sempre que uma de aproxima.

-Entre na água, bobo - chama Suguro, com o mar na altura dos joelhos.

-Não, obrigado.

-Covarde, não vou te obrigar a nadar.

Ele avança aos tropeços de volta para a praia, indo em direção a Rin e tentando pegar seu braço. Okumura fez menção de se desvencilhiar e quase caiu com a cara na areia branca, mas Suguro o segurou, abrigando subitamente suas mãos na cintura de Rin por baixo da jaqueta, que agarrou um punhado de sua camisa. Seus rostos se aproximaram.

-Calma - Suguro torceu uma mecha de cabelo de Rin entre o indicador e o polegar.

Os dois oscilam juntos as ondas, ensopando os joelhos de suas calças jeans, e quando Rin não consegue pensar em nada, diz:

-É lindo aqui - então imediatamente se encolhe, porque, por Deus, será que chegaram a um ponto tão morto de seu relacionamento que estava reduzido a fazer observações sobre a paisagem apenas para iniciar uma conversa? Se fosse o caso, iria encontrar uma concha afiada na praia para cortar os pulsos bem ali.

Mas Ryūji apenas sorri.

-É, sim. Foi uma boa fazermos a prova fora de Tóquio.

-Você quer me contar algo? - Okumura perguntou depois de sentir em si o bolo que formava na garganta de Ryūji.

-Bom, sim. - ele puxou o ar, pigarreou e começou a dizer  franzindo de leve o nariz - Rin, eu sempre vou gostar de você, espero que saiba disso. Talvez se tivéssemos sido mais diretos e confiado mais um no outro, não teríamos brigado tanto. Mas não confiamos, e agora estamos aqui.

Rin prendeu a respiração. Bon provavelmente estava tentando dispensa-lo de um jeito carinhoso, mas é como se começasse uma execução arrancando suas unhas. Agarraria uma bala de fuzil com os dentes dezenas de vezes no lugar de um término como esse.

-Apenas diga logo, Bon. Por favor, apenas diga que não me quer. Está tudo bem

-O quê? - ele ergue o rosto - não. Não! Não é isso que... Estou tentando dizer que amo você, seu idiota.

O coração de Rin começa a tropeçar nos próprios batimentos.

-Você...o quê?

-Maldição - Ryūji inclina o rosto para o céu com um gemido, um som gultural de decepção  - preparei esse discurso todo na cabeça, estou planejando há semanas. Até procurei por essa praia para termos um momento à sós perfeito...

-Ah, não, estraguei tudo então?

-Estragou completamente.

-Me desculpe - Rin choramingou.

-E era tão bom!

-Desculpe mesmo.

-Não conseguiu manter essa boca fechada por dois minutos, Jesus.

-A culpa não é minha, você começou de um jeito estúpido! Achei que estava seguindo na outra direção e entrei em pânico.

-Sim, bem, não estava.

-Sim, bem, sei disso agora.

Ambos estavam com o rosto vermelhos, gargalhando, embora ao mesmo tempo, trocando um olhar que parece seda contra a pele.

-Diga mesmo assim - Rin deliniou seu nariz com a pontinha do dedo - pode ser só a parte que importa.

-A parte que importa era que se agir pela minhas costas, juro pelo bom Deus, vou te esfolar vivo...

-Não agirei.

-... assassinarei você, então vou te ressuscitar para te matar de novo.

-Não vou, Bon. Não vou, prometo, não vou - Okumura ficou nas pontas dos pés para estarem separados por um sopro - diga o resto.

-Rin - ele sorriu com o nome de Rin em seus lábios - Rin, Rin - era uma poesia, um feitiço, um encantamento - eu te amo. E quero ficar com você para todo o sempre.

-E você, senhor Ryūji - respondeu Okumura, levando o nariz ao dele - é o grande amor da minha vida. O que quer que aconteça daqui em diante, espero que seja a única coisa que jamais mude.

Rin estava com as mãos no pescoço de Ryūji. Sob os olhos dele, o mundo parecia importar menos, como se apenas os dois existissem. Mesmo com as inúmeras dificuldades, não eram coisas quebradas, nenhum dos dois. Nenhum de nós.

Somos todos cerâmica rachada reparada com verniz e flocos de ouro, inteiros como somos, completos em nós mesmo. Completos e valiosos e tão amados.

-Posso te beijar? - Ryūji perguntou.

-Sim, sim, absolutamente sim.

E então, o beijo.

Sussuros Do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora