Prólogo

697 83 294
                                    

Cheguei em casa completamente revoltada e bati a porta com violência para descontar nela toda a minha raiva, já que mais do que fiz na escola não poderia ser feito.
Minha mãe veio correndo para a sala para ver o que houve e me viu sentada no sofá com meu uniforme manchado de resquícios de sangue e minha trança suja de cola até a metade.

— Posso saber o que significa isso Liz ? — Minha mãe disse me fazendo virar para lhe dar atenção.

— O quê? — Disse mau humorada.

— Recebi um comunicado da escola dizendo que querem falar comigo e com seu pai sobre o seu comportamento. Que história é esse de dar um soco no nariz de Alec?

— Ele que começou mamãe, olha o que ele fez com meu cabelo. — Mostrei a trança suja que sabia que demoraria um bom tempo no banho para retirar aquilo que grudava cada fio de cabelo meu.

Minha mãe se sentou ao meu lado e pegou em minha mão fazendo um carinho que me transmitiu um conforto imediato. Com a mão livre, limpou uma lágrima que correu por minha bochecha e sorriu.

— Não foi assim que seu pai e eu te ensinamos Yaegiva*.

— Foi sim. Papai me disse para revidar sempre que um menino se aproximar de mim.

— Ah foi é? Não me diga que ele também andou te ensinando alguma luta que ele praticava quando mais novo?

— Sim — falei sorridente sem saber que encrencava meu pai. — Ele disse se for bater em um menino não deixe que vejam.

Minha mãe fez uma careta, mas nada disse. Ela sabia que papai vivia me dando conselhos sobre meninos, aos quais a maioria eu nem entendia o que ele queria dizer.

— Não liga para seu pai. Sabe que o que fez foi errado não é querida? Tem que pedir desculpa para o Alec.

— Nem morta. — Falei emburrada cruzando meus braços.

— Já pensou na hipótese de que Alec goste de você e só saiba demonstrar da forma bruta dele.

— Mãe, não tem como aquele menino gostar de mim, olha o que fez ao meu cabelo. — Peguei a trança e mostrei de novo para enfatizar meu ponto.

Nenhuma menina de sete anos iria querer ouvir que seu inimigo gostava dela.
Alec Durand não era do tipo de menino que gostava de meninas como eu, era loucura e minha mãe estava viajando.
Eu mesma nem sabia como havia começado todo aquele ódio, só sabia que foi pela parte dele e tudo piorou com a relação dos nossos pais que eram amigos. Piorou porque aquela amizade abriu brecha para ele vir para minha casa quase sempre, o que eu odiava diga-se de passagem.

Alec Durand me infernizava em meu quarto quando eu brincava com minhas bonecas, puxava meus cabelos quando eu passava pelo corredor e não o via escondido e sempre trapaceava nos jogos de tabuleiro que meus pais insistiam em nos fazer jogar.
Mas naquele dia ele passou dos limites ao ensopar minhas mechas negras em cola líquida.

Meus cabelos eram o que eu mais gostava em mim. Eram de uma cor bem escura que chegavam até a cintura. Era difícil cuidar deles, mas eu não os cortava por nada pois adorava fazer penteados neles.

— Eu o odeio mamãe e prometo sempre fazer a vida dele um inferno. O soco foi pouco. — Disse determinada.

Mamãe fez um muxoxo com a boca e nada disse. Ela sabia que eu podia ser tão ou mais teimosa que meu pai e naquele momento eu tinha certeza de uma coisa:
Eu odiava Alec Durand e aquilo não iria mudar nunca.

Yaegiva = apelido carinhoso coreano para bebê.

Namorados por contrato (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora