02 (I) - Aqueles olhos me foderiam para sempre.

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POV CHEVALIER GAUTHIER

Quanto tempo dura um minuto? Algumas pessoas dirão sessenta segundos, mas eu irei contrariá-las e afirmar que um minuto pode demorar dez segundos ou dez minutos para passar. A primeira opção pode ser confirmada durante uma trepada com a mulher que você rodeou durante toda a noite ou no decorrer de uma festa que você esperou a semana inteira para ir. E a segunda opção ocorre enquanto você está naquela fila de banco gigantesca ou anseia por uma ligação importante. Mas, no meu caso ocorria durante a espera por alguma notícia da garota que pendia entre a vida e a morte em algum daqueles cômodos atrás da porta de vidro que eu estava fitando por horas.

A minha mente era traiçoeira e ficava dando voltas e voltas, enlouquecendo-me vagarosamente ao mesmo tempo em que a impaciência me engolia impiedosamente e fazia com que os meus pés e mãos se mantivessem agitados.

Cada pessoa de vestimenta branca que cruzava a porta fazia com que eu ajeitasse a minha postura na cadeira e esperasse com clara esperança por alguma notícia de Skye. Mas nunca era sobre ela. Penso que a espera era o suficiente para mandar alguém à um hospício em pouco tempo.

Tentei distrair a minha cabeça folheando uma revista de motos que encontrei, mas não foi o bastante para desviar os meus pensamentos da única imagem que me atormentaria durante toda a minha vida: Aqueles olhos... Malditos olhos, tão profundos, cinzentos como fumaça e quentes como fogo, que estavam ligados aos meus no mesmo tempo em que permaneciam milhas de distância. As suas pálpebras pesando, o brilho de seiscentos vagalumes sendo ofuscado pela negritude da morte, tirando-me o fôlego e a ânsia pela vida. Ah, aqueles olhos me foderiam para sempre.

O meu coração martelava o peito dolorosamente e, em uma recaída, a minha visão embaçou por conta de uma ou duas lágrimas que formaram uma cortina em minha retina. Seja homem, porra! Ordenei a mim mesmo. E, naquele momento, o ambiente ao meu redor pareceu diminuir de tamanho e a pressão se tornou insuportável. Toda a brancura que me rodeava, de repente, começou a me deixar claustrofóbico.

Em um único impulso, saltei da cadeira azul e caminhei apressadamente para a saída. Cruzei um enorme corredor bem iluminado que parecia nunca ter fim. Era como se a cada passo que eu desse ele aumentasse ainda mais. Quando finalmente me aproximei da porta que continha uma placa neon logo acima indicando ser a saída, a empurrei com brutalidade.

Tudo o que eu estava vivendo se mostrou ser sufocante demais enquanto eu estava naquele cubículo, mas quando os meus pés cruzaram o batente, os meus pulmões se inflaram e o alívio foi imediato. Embora o abismo em meu peito tentasse incansavelmente me arrastar pra dentro dele, eu me agarrava com afinco nas beiradas. Eu não me permitiria uma queda.

O meu olhar perdido e cansado vagou sem rumo e acabou parando no céu acima da minha cabeça. Ele parecia tão melancólico desde o ocorrido, ou talvez fosse apenas impressão minha. Mas eu podia jurar que as estrelas quase não reluziam e a lua não se destacava no meio de todo aquele breu. Era como se, de alguma forma, Skye tivesse levado a luminosidade de tudo junto com ela.

Por mais que eu estivesse me esforçando para manter o controle da situação, eu sabia que isto não duraria muito tempo, pois tudo estava rumando para o descontrole catastrófico. Eu me sentia remando contra a maré, mas eu não ousaria abandonar o barco.

Embora eu estivesse impaciente por notícias dela, um medo filho da puta corroía todo o meu interior. Não sabia se estava preparado psicologicamente para o caso do médico colocar uma bomba em minhas mãos. Mas eu me sentiria a pior pessoa do mundo se deixasse o local sem saber a verdade. Sinto-me encurralado.

Troquei o ar dos meus pulmões pela última vez e voltei para dentro com um pedido silencioso de que tudo ficasse bem, ou todos os meus esforços para mantê-la intacta iria por água abaixo.

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