POV SKYE BLYTH CHANCELLOR
Os meus batimentos cardíacos acabaram sincronizados com os passos do meu padrasto que pareciam cada vez mais rápidos. A culpa pesou sobre os meus ombros e eu praguejei mentalmente por ser tão fraca e me aproximar de uma pessoa da qual eu deveria manter distância. No entanto, após alguns segundos de autodepreciação a questão que grudou nas paredes do meu cérebro foi: "Será que Kester - meu padrasto - descobriu algo sobre o motoqueiro e não me contou?" Se sim, aguardo esperançosa que não seja a identidade dele, pois eu não poderia protegê-lo de ir parar atrás das grades.
Entretanto, quando Kester estava à cerca de dois ou três metros de nós dois, um sorriso estampou seus lábios no mesmo instante que fixou sua atenção em mim. O alívio foi um sentimento de plenitude que se espalhou pelo meu corpo e não consegui conter um longo suspiro.
Parado diante de mim, os seus braços rodearam o meu corpo em um gesto carinhoso e protetor, de modo que apenas ele sabia fazer. Fechei os meus olhos e apoiei o queixo em seu ombro.
- Chevie, vamos? - uma voz feminina e, de certo modo, dengosa, despertou-me.
Admito, não fiquei muito surpresa quando encontrei a garota do primeiro ano - que estava sumida há dias - parada ao lado daquele homem que encarava a mim e ao meu padrasto com curiosidade nos olhos. Desci um pouco mais o olhar e observei os dedos dos dois entrelaçados, como se, de alguma forma, um transferisse segurança para o outro.
Kester estabeleceu uma distância entre nós novamente e, assim como eu, observou os dois até o momento em que a secretária apontou na porta e o chamou. Com uma rápida olhada e breves palavras, ele se despediu momentâneamente de mim e justificou o seu aparecimento repentino no colégio com a ligação que recebeu para tratar de alguns assuntos.
Observei-o se afastar enquanto as luzes do corredor refletiam em seu cabelo loiro avermelhado. O seu porte másculo e bem definido por horas à fio na academia a fim de se impor como o grandioso policial que era marcava presença e parecia tornar o corredor um pouco mais estreito do que realmente era.
No momento em que Kester, guiado por Angeline, adentrou à sala do diretor, virei-me para as duas pessoas estáticas ao meu lado. As semelhanças entre eles eram mínimas, porém, bem marcadas, como as linhas dos maxilares ligeiramente quadradas e o modo que recurvam as sobrancelhas para demonstrarem confusão. E não pude deixar de chegar à conclusão de que os dois pertenciam à mesma família, talvez eram irmãos. Ou primos. Ou tio e sobrinha. Ou qualquer coisa que faça com que o mesmo sangue circule em suas veias.
- Frangine, aguarde por mim no carro - o homem ordenou sem soar ignorante e a garota de cabelos castanhos o beijou na bochecha antes de acatar a sua ordem.
A sós novamente, voltamos a nos fitar com intensidade. Eu podia sentir os nossos olhos estabelecendo uma ligação única. Era como se faíscas pudessem percorrer a linha invisível que nos mantinham, de forma totalmente inapropriada, conectados um ao outro.
- Estou voltando para a França juntamente com a Victoire.
Essas palavras tiveram o efeito de um belo tapa em minha face e, como se isso já não fosse o bastante para provocar um sentimento de angústia e... gastura, ele prosseguiu:
- A pressão desta cidade está se tornando insuportável e, além do mais, digamos que a segurança dela está comprometida. Assim como a sua ficará se eu continuar aqui - completou num sussurro tão baixo que me fez questionar ele tinha realmente dito isso.
Os seus lábios se tornaram uma fina linha rígida e os seus olhos piscaram demoradamente.
- Eu escrevi algo que talvez possa clarear a sua mente ou escurecê-la ainda mais, porém, isso só depende se você vai ou não contentar-se com as respostas que vou lhe dar ou buscará ainda mais perguntas - disse enquanto remexia no bolso de sua calça jeans escura.
Ele me estendeu um papel um pouco amassado e dobrado umas duzentas vezes e nossos dedos se esbarraram por milésimos de segundos durante a minha captura. Segundos esses que me pareceram horas.
- Adeus, ma fée - colocou um ponto final na conversa e deu as costas para mim que, à essa altura, já sentia as pancadas fortes do meu coração contra o meu peito.
- Espere! - gritei com o desespero alarmante dentro de mim.
Ele se virou com um sorriso típico daqueles cafagestes que sabem muito bem o que estão fazendo e, logo depois, retomou os passos que o levava para longe de mim.
⭐⭐⭐
Frangine: tradução livre - irmã.
Ma fée: tradução livre - minha fada.