Pequeno engano. Quase.

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O quarto de Santana era bem diferente do que Brittany havia imaginado, muito mesmo. O papel de parede nas paredes era preto, a cama de casal ficava no meio dele, uma cômoda com abajur no canto, com uma cadeira preto, espelho, um quadro em cima da cabeceira da cama, criado mudo, mesinha com livros de estudos e notebook, um tapete de zebra comprado com a mesada que juntou em uma das viagens que fez com a prima Rachel, TV e muita, muita roupa jogada em um monte no chão. Santana era bagunceira demais. Brittany notou que a única coisa bem guardada de Santana no quarto era seu violão, ele ficava em pé no suporte próximo da janela. Todo o resto, era bagunçado, inclusive, seus lençóis e cobertas. Alguém além dela havia dormido ali? Era algo a se questionar com base no estado da cama.

- Agora entendo sua reação ao ver meu quarto - Brittany deu uma risadinha - seu quarto é o oposto do meu.

- Completamente yin yang Britt. Seu quarto fez meus olhos arderem de tão colorido.

- Há Há, sua chata. E o seu mais parece uma caverna abandonada.

- Meu covil, não fale assim dele - as duas riram - E aí, com qual música vamos começar hoje?

- Pensei de fazer algo diferente. - Brittany falou se jogando na cama e sentindo o quão confortável ela era.

- Diferente? Diferente tipo o que?

- Tipo um filme?

- Com pipoca?

- Cla-ro... só se assiste filme com pipoca.

- Sabia que você é uma gênia, Britt. Escolhe algum aí, vou fazer pipoca pra gente.

Santana foi alegre para a cozinha, adorava cantar e tocar para Brittany, mas seus dedos ainda estavam doloridos do dia anterior. Pegou uma bacia de acrílico grande do armário da cozinha e quando a pipoca terminou de estourar no microondas, despejou todo o conteúdo. Levou também dois copos com refrigerante, tentando equilibrar tudo nas duas mãos.

- Me ajuda aqui Britt... - Santana falou a Brittany que ainda estava concentrada olhando os diversos filmes que Santana tinha. - Espertinha, pegou logo a pipoca hein... dragãozinho.

- Hey... não tenho culpa se amo pipoca demais.

- E qual filme você escolheu?

- Ainda nenhum. Você só tem filme de terror ou de guerra. Não tem nenhum de romance ou animação. Nem comédia tem aqui.

- Os melhores são esses, Britt. Esse aqui - falou enquanto pegava o DVD - é o melhor .

- Invocação do mal? Olha o título. Deve ser macabro.

- Eu amo essa trilogia. Será esse.

Brittany sabia que sentiria medo, ela morria de medo de filme de terror e coisas do gênero, mas não podia e não iria ficar demonstrando isso a Santana. Justo a Santana, que parecia ser tão forte e tão corajosa. No meio do filme, Brittany se rendeu e virou o rosto rápido, indo em direção ao pescoço de Santana que paralisou totalmente quando sentiu a respiração da amiga ali. Seu coração acelerou e o ar pareceu pesado. Que situação. Estava nervosa demais e quanto mais o filme rolava, mais o nariz de Brittany afundava em seu pescoço, respirando forte.
Deu pause no filme, para que pudesse voltar a respirar normal de novo e bom, Brittany já estava tempo demais naquela posição. Quando se deu conta que o filme não passava mais, Brittany mexeu sua cabeça, levantando-se e encarando os olhos castanhos a sua frente. As duas fitavam-se, seus lábios trêmulos pediam um pelo outro e por pouco não se encaixaram, se não fosse pelo celular de Santana tocar. - Porra, Rachel.
Brittany ficou vermelha de vergonha, e deu um sorriso amarelo enquanto Santana falava meio "brava" com a prima. Sua cabeça girava. Ela beijaria a amiga se não fosse a interrupção? Ela queria beijar? Santana a beijaria?. Se bem que, aquele perfume que sentiu antes do filme ser pausado a deixou nas nuvens. Poderia ter ficado ali por horas, a dos olhos castanhos era cheirosa demais. Céus, isso estava ficando difícil de lidar.

(...)

- O que você quer Rachel? - Santana falava em um tom bravo enquanto se afastava de Brittany, cambaleando, ainda tonta do que havia rolado. Aqueles olhos azuis eram fogo.

- Vamos juntas amanhã, ok? Vou passar aí para te buscar.

- Haaa sim... escola. Eu vou com a Quinn. Você sabe.

- E não vai comigo? Sério?

- Já havia marcado com ela.

- Tudo bem, fazer o que. Vou com o Kurt então.

- Guarda meu lugar, pode ser? Mas não na primeira fileira.

- Vai chegar atrasada por acaso?

- Não. Mas você sabe como Quinn é.

- Vê se não faz merda, ok ? E vai ser na primeira fileira.

- Tá. Era só isso?

- Sim.

- Tchau

- Grossa... tchau, né.

Santana desligou o celular e voltou sem graça para o quarto, como iria encarar Brittany? Elas quase se beijaram. Será que Brittany curtia beijar garotas? Ou ela estava viajando?. Dúvidas e mais dúvidas.
As duas agora estavam sem jeito de se olhar e se encarar, mas não tinha pra onde fugir. Brittany para quebrar o clima, jogou uma pipoca em Santana a fazendo rir, e jogou mais outra e depois outra, até que Santana começou a fazer cosquinha e Brittany ficou vermelha de tanto que ria, até que Santana ficou em cima de Brittany e a brincadeira cessou. Aquele encontro de olhares mais uma vez. Suas respirações aceleradas devido a brincadeira e devido a situação.
Santana encarava os olhos azuis de maneira que não fez com Quinn quando a beijou, não teve todo esse contato, mas ali com Brittany tudo estava diferente. Sentiu os polegares de Brittany tocarem a lateral do seu braço, silenciosos, até sua bochecha. Que porra estava acontecendo, aquilo era um sinal para beijá-la? Deveria beijá-la?. Santana agiu por impulso, com o coração na mão e encostou os lábios nos de Brittany, que arregalou os olhos assim que os sentiu. Não aguentava mais aquelas dúvidas rondando-lhe a cabeça.
Quando voltou a abrir os olhos novamente, Brittany ainda estava com os olhos arregalados.

- Haaaan. É...

- O que...

- Desculpa Britt... Eu...

- Eu tenho que ir.

- Britt... desc...

- Ok, está tudo bem. Né? - Brittany levantou-se rápido da cama, sorrindo sem graça, nervosa. Nunca havia passado por sua cabeça beijar uma menina. Aquilo era errado demais. Que maluquice. Não deveria ter acontecido, ou melhor, não iria mais acontecer.

Saiu em disparada para casa e se jogou na cama, afundando o rosto nos travesseiros. Santana estava tirando sua paz, acelerando seu coração. Demais.
A morena olhava triste para a janela, queria um sinal de Brittany que sua amizade ainda estava intacta, mas não obteve nada. Que merda. Tinha feito merda, interpretou os sinais errado. Não deveria ter beijado Brittany. Não mesmo.

Me conta da tua janela ...Onde histórias criam vida. Descubra agora