Nascimento.

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Quando não temos a capacidade de explicar algum acontecimento, procuramos uma resposta no sagrado, divino, folclórico e até mesmo surreal... Um esclarecimento com pouca lógica em que, se torna fácil acreditar quando o desespero se faz presente e necessário, é assim que se cria religiões e crenças regionais e os seres amedrontados e talvez um tanto quanto leigos, disseminam sua fé por todo o globo.

Sumiços inexplicáveis de crianças, casos de canibalismo devido à crueldade ou extrema fome de algumas pessoas, assassinatos grotescos, sejam de humanos ou bichos e os diversos tipos de crimes que, as pessoas da época, leigas e desconhecendo transtornos mentais e acreditando numa igreja que demonizava até mesmo mulheres ruivas, acusavam falsamente e criaram lendas fictícias de monstros sugadores de sangue e que viram lobos a luz do luar.

Bom, diz-se que toda lenda, de alguma maneira, tem um fundo de verdade. Houve um tempo que sim, os seres capazes de se modificar e se tornarem um lindo lobo, podiam viver juntamente com humanos comuns e proteger aqueles seres tão frágeis, podiam andar livremente pelas ruas e mercados... Mas tudo isso mudou quando a tão temida caça às bruxas passou a ocorrer.

Os filhos da lua, antes vistos como salvadores, passaram a ser considerados demônios e qualquer mero sinal, como sair à luz do luar cheio e brilhante, era motivo para irem parar numa enorme fogueira, enquanto um padre gritava para que ele se arrependesse de seus pecados antes de ir ao inferno e muitos, muitos mesmo, irmãos e não irmãos, foram sacrificados em prol de uma fé que sequer lhes pertencia.

Isso fez com que os outros fugissem para as florestas escuras que na época, ninguém ousava sequer se arriscar a entrar.

Felizmente, nasciam com instintos de sobrevivência e não foi tão difícil assim viver em meio a mata, caçando animais e vivendo de plantas e água fornecidas direto da mãe terra, no entanto os anos se passaram e conforme os egoístas chamados de humanos sentiam necessidades de ter mais e mais terra, as florestas escuras já não os amedrontavam mais e encontrar estes aspirantes, se tornou fácil.

Os lobos então viram necessidade de proteção e pouco a pouco, passaram a se organizar em grandes bandos que construíram uma espécie de sociedade própria, casas, templos, enfermarias... E conforme as gerações passaram, suas histórias se tornaram lendas e os mais novos pouco ou sequer sabiam que existia um mundo fora dos grandes muros das chamadas alcateias, saiam apenas em necessidade de caça e em algumas ocasiões sequer precisavam, pois tinham tudo para sobreviver dentro das muralhas.

Humanos? Poucos sabiam do que se tratava, e era menor assim.

A Alcateia Norte fora uma das sociedades que se formaram conforme as estações mudavam, descendiam de um pequeno clã de filhos da lua asiáticos que foram a França para conseguirem melhores condições e acabaram fugindo para o interior de uma densa mata em meio a montanhas geladas do país. Foram criadas então três regras, para garantir a continuidade de linhagem e sua proteção, além de sua própria segurança banindo mulheres que poderiam ser consideradas as famosas "bruxas servas do diabo", fortemente respeitada por todo e qualquer membro.

Crescer, Fortalecer e Criar novos Homens.

Graças a estas regras, hoje é uma data em que todos os irmãos estão em festa, porque um novo herdeiro estava vindo ao mundo e sempre que um novo bebê nascido, todos faziam questão de lhe dar presentes e organizar uma grande comemoração com flores e comida, para que a deusa Lua soubesse que um novo irmão havia chego, também servia para que seu pai ômega, o que gerava o bebê, se sentisse acolhido, especial e confortável, era uma felicitação por ter conseguido.

O nascimento de um filhote era sangrado.

—Vamos lá, assim que a dor vier, faça força e empurre, está quase lá! — O ômega mais velho do local diz, incentivando o adolescente ao ver que a cabeça do pequeno bebê já estava aparecendo, estava quase vindo ao mundo, bastavam algumas poucas forças.

A Dádiva de ter dois laresOnde histórias criam vida. Descubra agora