Norte.

156 24 5
                                    

A dor talvez seja uma das (se não a pior) sensação que algo ou alguém pode sentir. Absolutamente todos os seres passam toda a sua vida evitando acabarem de alguma forma, com a sensação agoniante de saber que tem algo de errado em seu organismo. Baratas fogem para esgotos onde não existem predadores e bebês leões ficam perto de suas mães, que irão lhes proteger de cair ou de serem atacados por algo que seja uma ameaça para suas vidas frágeis.

Com os seres humanos e filhos da Lua, não seria diferente.

O instinto para sobreviver sabe que há algo errado, algo incomodando e que pode significar um perigo ao bem estar, um perigo iminente que precisa ser resolvido o mais rápido possível. Então ele envia uma mensagem para que nosso corpo possa reagir de algum jeito, se houver sangue, para parar o sangramento, se for um machucado grave, que peça ajuda e mais milhões de tipos de reações que podem acontecer, contanto que salve sua vida, então qualquer coisa poderá ser válida.

Dizem os mais sábios que sua escala de dor é definida ainda na infância, conforme as experiências que você vivencia na tenra idade onde ainda está aprendendo como andar com as próprias pernas e se defender por si mesmo. Por exemplo, se a primeira sensação de dor veio através de uma queda que apenas ralou seu joelho, seus níveis de dor liberados quando algo ameaça, é menor e completamente diferente de alguém que acabou por ter uma queda feia de um local muito alto.

Ameaça maior, sofrimento maior, isso é óbvio para qualquer um.

Renjun foi um tipo de bebê superprotegido, se é que podemos dizer assim. Criado em meio a uma matilha que sobrevivia à deriva do tempo de do local onde se hospedavam, os filhotes precisavam de um cuidado a mais para não sofrerem acidentes e apesar de ser um intruso em meio ao local, seu pai ômega nunca fizera distinção entre seus filhotes, ele não amava mais Hyunjin por ser o mais velho, ou Han por ser o mais forte, muito menos Felix por ser o mais amoroso, tão pouco Seungmin por ter o cheiro mais agradável, ou mesmo Jeongin por ter sido a gestação mais tranquila e muito menos Shuyang por ser o caçula; todos eram filhotes de Mark Tuan, e eram amados igualmente.

Mas no fundo, o chinês sabia que isso era apenas para seu pai ômega. Todos os betas e alfas que participavam da pequena comunidade mal lhe olhavam e muito menos lhe tratavam bem, e mesmo sem ter entendido os motivos para isso, ele preferia ignorar. No entanto, depois de sua apresentação, de repente todos o amavam, estavam sempre por perto despejando seus cheiros insuportáveis no ar para atraí-lo e lhe dizendo coisas completamente vergonhosas sobre seu corpo, elogiando sua bunda e coxas, que cada vez mais o fez esconder suas partes, constrangido com aquele tipo de coisa.

E então vieram as críticas, as ameaças, ele se lembra de cada uma delas. "Você é um ômega imprestável", "você não serve nem para ser nossa cadela", "que piada, um ômega que não gosta de seus alfas e betas", "não seja tão puritano, ômegas são vadias" e por aí vai... Milhões de insultos que precisava ouvir todos os dias, quando ia lavar as roupas de todos no lago, simplesmente porque resolveu que seu corpo não era algo para ser objeto de desejo para os demais, porque escolheu guardá-lo apenas para si.

E essa é a dor de Renjun, a dor emocional, o pior tipo que existe.

—Hm? — Sua boca solta um resmungo quando ele finalmente volta a sua própria consciência, um incômodo em seu pescoço o faz remexer em uma superfície macia, mas desconhecida e desconfortável, com cheiro de lavanda forte.

Leva algum tempo para que Renjun consiga abrir seus olhos, já que uma luz de vela vinda de algum lugar o incomoda levemente, e sua primeira reação é levar uma das mãos completamente geladas às têmporas, parecia ter sido atropelado por um javali selvagem ou algum tipo de animal pesado, que passou exclusivamente por sua cabeça ou então adentrou a mesma a estava martelando sem parar por dentro de seu crânio, quebrando completamente com qualquer pensamento ou raciocínio lógico que ele poderia ter no momento.

A Dádiva de ter dois laresOnde histórias criam vida. Descubra agora