∙ Relato de uma criança solitária

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Hoje ao inusitadamente abrir a janela em uma madrugada fria, vi a lua em meio á infinitas estrelas e emoções. E por instantes sem fim, meu corpo cedeu e minha alma sorriu, a mais bela canção de esperança percorreu sob este peito martirizado que chamo de meu.

Queria viajar aos céus e dançar entre os astros porque sei que pertenço ao mundo fora dessa prisão, não sou daqui, mas estava presa dentro de casa. Mesmo com outras pessoas, ela permanecia vazia, porém ao mesmo tempo tão lotada que não havia espaço para sentimentos.

Me pergunto como que por tanto tempo eu coube nesta casa sem ao menos uma poesia qualquer para me esquentar. Aqui é frio, mas uma chama ainda queima e arde dentro de mim, sei disso porque se ela não existisse, eu nem teria coragem de abrir a janela e olhar para os céus. Mas esta chama (atualmente abandonada em um espacinho escuro) não é capaz de me esquentar por completo.

Ninguém (além das estrelas) nunca conseguiu me ajudar a vencer este vazio, mas imploro para que alguém a invada e me tire daqui, antes que as estrelas se apaguem e a lua se esconda atrás do seu amado sol. Queria conhecê-lo mas não tive a oportunidade de sentir seu brilho e calor, pois nesta casa se vive pela noite ou se entristece com o dia, enquanto as crianças dormem e os adultos discutem por motivos que eles mesmos criaram...

Do outro lado da rua consegui ver outra casa, outras pessoas e outras histórias. Todos eram genuínamente completos, a casa tinha portas abertas e não haviam grades nas janelas. Por alguns segundos desejei estar naquele lugar, mas como posso explicar ao mundo que apenas dinheiro não foi o suficiente para me manter humana e me manter aqui? Palavras destrutivas ecoam pelas paredes melancólicas que já se cansaram de escutar tais absurdos, nenhum bem material foi capaz de preencher este espaço em meu coração.

Acho que isto explica eu abrir a janela mesmo com o véu da noite se estendendo por esta pequena cidade, esse é o único momento em que tenho uma prova do que significa paz, onde só existem eu, as estrelas e a lua. Sem gritos ou questionamentos; sem mágoas ou ruínas. Sem pessoas.

"As vezes a única coisa que podemos fazer é observar a lua e esperar que dias melhores venham" No fundo sei que esses dias não vão chegar, mas esta é minha única razão para continuar viva, então só espero o tempo passar com essa falta de afeto que me invade e me toma pouco á pouco.

"As vezes a única coisa que podemos fazer é observar a lua e esperar que dias melhores venham" No fundo sei que esses dias não vão chegar, mas esta é minha única razão para continuar viva, então só espero o tempo passar com essa falta de afeto que...

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Entre dores, amores e ventaniasOnde histórias criam vida. Descubra agora