O encontro

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O ENCONTRO

Clara havia saído sorrateiramente naquela madrugada.  Aproveitara-se que o marido após ter conseguido o que queria com ela, estava lá desmaiado na cama.

     Não pegou muita coisa.  Reuniu algumas peças de roupas na bolsa, alguns produtos de higiene que encontrou no banheiro e saiu sem olhar para trás. 

     Estava cansada daquela vida ao lado do homem que constantemente a espancava e a forçava se deitar com ele.  Tinha que pôr um basta em tudo aquilo.  Nem que para isso precisasse viver fugindo. 

     Naquela noite mesmo, ele chegara em casa muito violento e quando ele mais uma vez a forçou,  a única coisa que ela sentiu foi repulsa.  Além é claro do medo e da sensação de humilhação que já eram constantes em sua vida.

     Não muito longe dali Conrado colocava um ponto final em uma situação que também não poderia mais se suster.

     Um tiro, único ,cravado no peito da mulher com quem convivera por quase cinco anos colocava fim à uma vida infernal.

     Pegou alguns pertences, jogou-os em uma mochila entrou na caminhonete preta  4x4 e saiu sem destino, sem olhar para trás.

     Nunca pensara que fosse capaz de uma atitude tão extrema, mas agora não tinha mais volta.

     Pegou a Rodovia Assis Chateuabriand e partiu sentido São José do Rio Preto.  Lá pelas 2:00 hs da manhã abandonou a 4x4 e pegou uma caminhonete que estava estacionada em um sítio pelo qual passou.  Bem dizia sua mãe;  “um abismo chamava outro abismo “  .  E mais uma vez pensou não ter volta o caminho que trilhava a partir de agora.

     Seu corpo já estava dando sinais de cansaço; fazia umas quatro horas que dirigia, parando somente para a troca de carro, quando resolveu parar em um rancho à beira da estrada para molhar o rosto e pegar alguma coisa para comer.  E assim fez.  Não demorou muito.  Não podia correr riscos de alguém o reconhecer, pois apesar de estar longe de casa, ele era um homem de muitas relações naquela região interiorana do estado de São Paulo.

     Já na estrada, passou por um carro quebrado com o capô levantado.  Não ia parar, mas quando olhou pelo retrovisor a mulher, que olhava para o motor do carro e o emaranhado de fios que lá estavam numa tentativa vã de fazer algo, chamou sua atenção.

     Era Clara que desde quando havia deixado o marido na humilde casa em que vivia na cidade de Rancharia vinha enfrentando dificuldades com o carro velho.  E que agora tinha resolvido parar de vez.

     Deu marcha ré no carro, e a medida que foi aproximando-se da pequena e frágil mulher, seus sentidos ficaram todos em estado de alerta.

     Por instantes ficou como se tivesse sido enfeitiçado pela deliciosa mulher, loura de corpo curvilíneo que o olhava receosa, e por que não dizer amedrontada. Seus olhos se perderam naquele olhar verde, profundo.  E naquele momento ele enxergou sua alma.  E teve a certeza que o mesmo acontecia com ela, pois ficou parada, extasiada, apenas fitando-o.  Segundos que pareceram uma eternidade.

     Ambos tiveram a clara ceteza que algo especial estava acontecendo.  Almas predestinadas uma à outra.  Nada mais importava, somente um para o outro.

      Conrado disfarçando sua excitação, foi o primeiro que quebrou o silêncio.  Já descendo do seu carro indo em direção a parte dianteira do veiculo de Clara,  perguntou:

     _ Precisa de ajuda?.  Mal dando tempo de Clara responder já foi tentando dar partida no carro, mexendo com um fio e outro.

    Clara que apenas observava, ainda envolta daquela sensação, daquela eletricidade palpável, não teve forças de pronunciar uma só palavra.  Embebida  pelo cheiro forte e sensual que emanava do corpo másculo e muito bem definido de Conrado sentiu suas pernas bambearem.

    _ Você está bem?  Perguntou Conrado, tentando disfarçar o atordoamento que aquela mulher também estava lhe causando.  Como deveria ser perfeita  a julgar pelas curvas que  insinuavam-se pelo vestido que estava usando.

     _ Sim.  Estou.  Muito obrigada por ajudar.  Tem jeito?  Perguntou olhando para o carro.

     _ Bem, acho que não.  Você vai precisar de um guincho.

     _ Não acredito.  Não posso esperar.  Disse com os olhos marejados.

     _ Calma,  Pra tudo tem um jeito.  Você quer que ligue pra alguém?

     _ Não!  Disse desesperada.  Era tudo o que menos queria.

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