A Caçada Selvagem

7 1 0
                                    

Todos os candidatos ao teste já se esgueiravam pelas sombras das árvores, se aproximando do local de encontro cuidadosamente, esperando que o próprio encontro em si já fizesse parte do teste. Mas não o era. O local de encontro era em uma clareira localizada no centro da Floresta da Neblina, ao norte de Maedva, e a participação só seria aceita daqueles que chegassem antes do pôr do sol do último dia da Primavera das Maçãs. Atrasos não seriam tolerados.

A ordem dos Caçadores Selvagens era antiga, reclusa, poderosa e respeitada. O teste para fazer parte dessa ordem não levava em conta nenhum tipo de antecedente, raça ou adoração divina, se tratava de uma profunda experiência de naturalização do espírito, limpeza da alma e uma evolução da percepção, proveniente dos sentidos da visão, paladar, audição, tato e olfato para algo maior e místico. Mesmo assim, algumas habilidades seriam necessárias caso a intenção dos participantes fosse, ao menos, sobreviver ao teste. Rumores dizem que poucos sobrevivem ao teste para se tornarem Caçadores Selvagens, alguns conseguem sobreviver mas retornam do teste da mesma forma que entraram, pois a sobrevivência somente não garante que se obteve sucesso em sua ascensão para Caçador Selvagem. A morte com certeza é um fracasso no teste e são conhecidas como Expurgos da Natureza, uma maneira que essa terra encontrou de mitigar os riscos de uma ascensão não merecida a alguém com potencial de corromper a força da natureza. E esse era o bem mais precioso para um Caçador Selvagem, proteger a força da natureza, a ordem natural e seus domínios nesse mundo e nos outros.

Uma mulher de pele morena, olhos castanhos e longos cabelos negros presos em um rabo de cavalo já se encontrava próxima ao centro da clareira, se expondo ao entorno formado por uma floresta repleta de um verde escuro alaranjado pelos últimos raios de sol daquele dia. Tinha seus vinte e quatro anos e carregava uma mochila, um arco longo feito de madeira com tom avermelhado que brilhava por conta das várias demãos de cera de abelha aplicadas à arma. Trazia duas adagas, uma escondida em sua bota direita e a outra exposta dentro da bainha de couro na cintura. Bebia água de seu cantil quando ouviu uma esperada movimentação em seu flanco esquerdo. Num lampejo soltou o cantil e posicionou uma flecha em seu arco antes mesmo do recipiente de couro tocar o chão. Girou e mirou em direção ao barulho. Seu alvo estava na mira.

— Veio para o teste? Saiam daí, os dois.

— Calma lá! Viemos para o teste sim, perdão pelo susto minha senhora. Me chamo Gilt. Irmão, saia daí, se aproxime! — Outra figura masculina se revelou por trás de um arbusto com as mãos para cima e com expressão de medo no rosto, se apresentou:

— Estou aqui, estou aqui. Peço desculpas, me chamo Krog. Não vamos lhe fazer mal algum.

— Sei que não, foram os últimos a chegar. Julgando por suas habilidades de se moverem silenciosamente, acho que deveriam ser mais cautelosos, ou ir pra casa. — A arqueira tinha o olhar perfurante como uma lança e a língua mais afiada que um machado anão recém forjado. Krog enrugou sua testa e com raiva respondeu à mulher:

— Fala como se fosse poderosa, conheço esse tipo. Espero que não seja Expurgada, adoraria te confundir com um Melker e colocar-lhe um virote no meio da testa! — Ao término dessa última frase de Krog três figuras se revelaram, saindo das sombras das árvores e dos arbustos. Sua aproximação assustou os dois irmãos e provocou um leve sorriso no canto direito da boca arqueira.

— Como eu lhes disse, foram os últimos a chegar. Não preciso me preocupar com vocês. — A arqueira havia pensado em tudo, desde sua demonstração de agilidade e destreza no saque de sua arma de longa distância até sua aguçada percepção. Ela já sabia que era espreitada por algumas pessoas escondidas na densa floresta, mas nada temeu. Esperou calmamente por uma oportunidade de mandar um recado às figuras escondidas na floresta, já que não notou intenção de emboscada por parte delas. Priya, a caçadora das terras do norte, quando se aproximou da área central da clareira se expondo deliberadamente, só quis se certificar de que nenhum deles era Baltes, o anfitrião do teste para ascensão Selvagem. Ser capaz de detectar o grande Baltes, o Caçador Selvagem que lhe ofereceu uma escolha distinta de sofrer o luto do próprio filho, já lhe traria uma porção extra de confiança, mas Baltes assistira a tudo de longe ainda indetectado.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 27, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Caçada SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora