Henry escondeu o rosto entre as mãos, seu corpo inclinado para frente era o retrato da exaustão, há meses procuravam por Charlotte, cinco meses e treze dias para ser mais exato. Passou por todos os estágios possíveis, da raiva ao ódio, do medo ao desespero, da esperança a exaustão. Não conseguia trabalhar, comer no início se tornou impossível e por muita insistência e apoio de sua família não se entregou por completo. Ela ainda estava em algum lugar do mundo, ainda estava bem e viva e esperando por ele, ele ainda iria encontrá-la.
- Nada hoje?
A voz de sua irmã veio baixa, Piper estendeu um copo com café para ele que aceitou prontamente. Os dois estavam no novo centro de controle de Ray enquanto o Manchester treinava a nova turma de super heróis, surpreendentemente o seu método trazia resultados e a escola foi ampliada.
- Schowz está tentando outros métodos, mas fica difícil quando não sabemos quem a levou e por que.
Piper somente assentiu, bolsas roxas sob seus olhos eram a prova de que ela também não estava bem. A Hart mais nova sentou ao lado do irmão no sofá, torceu as mãos sobre o colo e abriu a boca como se fosse falar algo, porém parou. Balançou a cabeça como se estivesse irritada consigo mesma e prosseguiu.
- Hen. - o tom suave de sua voz chamou sua atenção. - E se estivermos fazendo errado?
- Como assim?
- Eu estava pensando e procuramos por todos que tiveram algo para odiar você e o Ray, todos que poderiam querer fazer algum mal a ela por causa dela ou por causa de vocês. Mas e se não tiver nada haver com vocês?
- Olha, Pipes. - esfregou os olhos com a ponta dos dedos, precisava dormir. - Eu não estou entendo onde você quer chegar.
Piper suspirou impaciente e reformulou seu pensamento.
- E se alguém estiver atrás dos seus poderes?
- Então essa pessoa teria que ter vindo atrás de mim.
- Mas e se...
- Piper, vá direto ao ponto, por favor. - pediu nervoso.
Ela torceu a boca e respirou fundo, resolveu então verbalizar sua teoria.
- Eu vi um filme outro dia onde perseguiam uma criança por conta de seus poderes. - gesticulou para o irmão, querendo estapeá-lo quando uma expressão confusa tomou seu rosto. - Ela nasceu com eles, Henry, então não foi atingida por nada ou escolhida para isso. Ela nasceu naturalmente com poderes.
Olhou incisiva para ele, o Hart começou a compreender onde sua irmã queria chegar, a ideia chegava a ser absurda.
- Mas não existe criança alguma. - assegurou firme, notando que ela não ficou convencida. - Disso eu tenho certeza.
- Absoluta? - era claramente uma pergunta retórica. - Vocês estavam naquela enrolação de serem só amigos, mas é claro a tensão entre vocês. Nunca, nunca mesmo aconteceu nada que pudesse provocar algo... assim?
Henry abriu a boca para protestar, porém flashes de memória vieram a sua mente. Algo assim realmente aconteceu, meses atrás em uma noite de cinema improvisado. Ele havia saído tarde do trabalho, ainda com pétalas de flores espalhadas em suas roupas pelos ornamentos que passara a tarde fazendo, ela estava estressada por conta dos trabalhos finais que deveria entregar à faculdade para finalmente aproveitar seu recesso.
Lembrou dos dois muito próximos no sofá, das risadas que viraram sussurros, da escuridão que os envolvia sendo quebrada somente pela luz fraca da televisão onde um filme passava. A sensação dos lábios de Charlotte, das mãos suaves em seu corpo e de tudo o que aconteceu depois foi revivida. Não aconteceu somente uma vez naquela noite ou madrugada, mas... será?
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A matter of time
Fiksi PenggemarO leve chute a fez abrir os olhos, um sorriso cansado adornou seu rosto enquanto sua mão deslizava pela barriga em um gesto de carinho. - Nós vamos sair daqui, estrelinha. - sussurrou firme. - Nós vamos sair daqui e conhecer seu pai. Eu não vou desi...