{Por Eren Jäger}
Chegando à porta, bati três vezes e esperei. Ela demorou um pouquinho, mas logo ouvi que estava vindo.
Inicialmente, Mikasa abriu a porta apenas o suficiente para ver quem era. Mas, ao me reconhecer, a abriu completamente.
— Eren?
Ela já havia trocado de roupa e vestia o pijama feminino (um vestido branco e longo com mangas compridas). Com uma mão ela segurava a porta e com a outra segurava uma das pontas de seu cachecol junto ao pescoço.
— Posso entrar?
Ela apenas deu um passo atrás, me deixou entrar e fechou a porta em seguida. Talvez, assim como eu, ela não quisesse que o pessoal dos outros quartos notasse a movimentação no corredor. Assim que a porta foi fechada, ficamos apenas sob luz da lua que entrava pela janela.
— O que houve? Você teve algum pesadelo? - Mikasa se aproximou de mim para perguntar.
— Não, eu nem fui dormir ainda. - respondi – Eu... vim apenas ver como você estava – disse hesitante.
— Não há... o que se preocupar comigo, Eren. - ela disse de cabeça baixa – Vou acender uma vela. Sente-se.
Na cama dela o travesseiro estava encostado na cabeceira e os cobertores estavam puxados para a parte superior do colchão, tal como se, antes de eu bater à porta, ela estivesse sentada, encostada no travesseiro e com os cobertores sobre si. Sentei-me próximo aos pés da cama. À minha direita, Mikasa acendia a vela sobre a cômoda, à minha esquerda estava a janela. Só nessa hora notei que a cortina estava aberta. Será que Mikasa tinha se esquecido de fechar ou será que ela queria mesmo que a luz da lua entrasse no quarto?
Mikasa acendeu a vela e se sentou próxima à cabeceira, jogando as pernas para debaixo de seu cobertor.
— Chegue mais perto da luz, Eren.
Foi o que eu fiz. E ficamos nos entreolhando. Fiquei pensando o que falar. Queria ser direto, mas perguntar "o que você está sentindo desde que soube da maldição de Ymir?" parece duro demais. Sei que é o tipo de coisa que eu diria, mas hoje, ou pelo menos agora, estou tentando falar direito.
Além disso, eu sei o que ela está sentindo. Eu ouvi ela dizendo "Não! Isso tem que estar errado! Está... errado!" Eu ouvi o choro dela enquanto estávamos na prisão. Ela tentou abafar com o travesseiro, mas eu ouvi. Eu vi o quanto ela emagreceu nesses dias em que estivemos presos. Eu sei que ela está sem... vontade de continuar vivendo.
Esse tempo todo eu tive coragem para fazer qualquer coisa, nenhum medo foi forte o bastante para me paralisar. E no entanto, o que me paralisa é você. Você com seu cuidado para comigo. Você com sua dependência de mim. Você com todo esse seu afeto para comigo. Eu não tenho medo de enfrentar os titãs, Mikasa, mas tenho dificuldade de ter esse tipo de conversa com você. Hora de romper com isso.
— Eren, como eu disse, não há o que se preocupar comigo. Eu estou bem. E vai ser muito bom poder passar a noite na cama de um quarto, não de uma cela. - ela disse, talvez querendo quebrar o silêncio e possivelmente querendo que eu fosse embora pois a situação estava constrangedora.
— Certamente que sim.
Então, iniciei minha tomada de atitude. Me inclinei e peguei seu cachecol com as duas mãos. Ele estava apenas jogado sobre seu pescoço. Eu o ajeitei na medida certa e o enrolei gentilmente sobre ela, tapando seu nariz e sua boca, como ela faz quando está com medo ou aflita. Terminei colocando a mão por detrás de sua cabeça, olhando em seus olhos e dizendo:
— Hoje e sempre, eu enrolarei este cachecol em você quantas vezes forem necessárias. Eu vou te proteger sempre. Eu estarei do seu lado enquanto eu viver.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Frutos do Porão
Fiksi PenggemarLogo após o capítulo 89 de "Shingeki no Kyojin", os acontecimentos são narrados depressa a fim de que a história prossiga. Pensando nisso, esta fanfic versa a respeito dos intervalos entre um acontecimento e outro que, ao abrir mão de escrever no ma...