Ricardo
Eu passei o fim de semana quase todo em casa. Estava exausto física e psicologicamente . Eu ainda não tinha conseguido digerir tudo que tinha acontecido.
Recebi várias mensagens e ligações de Michel mas além de não atende-lo, apaguei todas sem ler.
Eu sempre imaginei que ele tinha medo de “sair do armário” por causa de sua família ou pelo julgamento da sociedade. Mas ficou claro que o problema era muito mais profundo. Ele era um gay homofóbico. E isso foi pior do que a traição.
Nitidamente ele tinha vergonha de mim. Vergonha de estar saindo com um viadinho. Eu podia ter meus fantasmas e paranoias, mas nunca tive vergonha de quem eu era.
Ele tinha demônios para enfrentar e eu não podia ajuda-lo. E nem queria. Não depois de ontem.
Robson me ligou para saber como estava e contei sobre a briga que tive com Michel. Ele me parabenizou por ter conseguido não ceder a ele. Apenas ficou chateado por não ter jogado as roupas pela janela. Eu acabei rindo alto. Foi impossível não lembrar do meu amigo Marcos. Seria algo que ele diria.
Eu sentia falta de sua amizade mas foi melhor me afastar. Estar apaixonado pelo irmão dele não era algo que me fazia bem.
No fundo eu me sentia um trouxa por sempre escolher me apaixonar por quem não merecia.
Mas tentei não ficar deprimido por isso. Apenas tentei. Na prática era outra história.
Vivi um dia cheio de contradições. Fui da saudade absurda para a raiva extrema.
Mas nenhum momento pensei em atender o telefone ou ler as mensagens. Eu já estava decidido a ignora-lo. Tudo que tinha que falar para ele já tinha sido dito. Confesso que fiquei esperando ele aparecer na minha porta novamente. Apenas para ter o prazer de ignora-lo. Mas acredito que minhas ameaças surtiram efeito.
E isso doeu também. Saber que o medo de ser descoberto era maior do que buscar meu perdão. E lá ia eu de novo me martirizar. Novamente meu instinto masoquista aflorando.No fim acabei pedindo uma pizza e terminei a noite comendo e vendo um filme de terror dos ano oitenta.
A segunda chegou e eu ainda estava cansado. Como não tinha o hábito de passar a noite em claro, meu corpo ainda clamava por descanso. Eu me sentia quase um Benjamin Button. Um velho no corpo de alguém mais novo.
Pensei seriamente em faltar as aulas, mas se eu fizesse isso Michel poderia pensar que eu estava abalado demais para sair de casa. E tudo que eu não queria era mostrar qualquer fraqueza a ele. Não daria a menor brecha para ele se aproveitar e tentar uma reaproximação.
Depois de tudo que vi, não sei do que ele seria capaz.
Assim que cheguei na faculdade, escaneei a entrada e o pátio a procura de Michel mas não o vi. Eu achei que ele poderia estar de tocaia me esperando. Não sei se me sentia frustrado ou aliviado.
— Pode para agora!— falou Robson me dando um susto.
— Fazer o que?
— Procurar aquele infiel maldito.
— Eu só estava vendo se ele não estava me esperando.
— Você realmente acha que ele faria isso?
Eu odiava como Robson podia ser insensível as vezes. Mesmo quando ele estava com razão.
Vendo meu desânimo, ele apertou meu ombro tentando me confortar.
— Não falei por mal Ric. Mas vamos ser realistas, ele nunca se expôs antes. Por que faria isso agora?
— Eu sei. — menti— Mas queria ter certeza.
— Foda-se ele! Seu pudesse colaria uma letra A vermelha bem no meio da testa dele! Assim todos saberiam que ele é um maldito adúltero.
Acabei rindo do seu comentário. E imaginar Michel carregando a tal letra em vermelho no meio da testa me deu uma boa imagem mental.
As aulas foram puxadas naquele dia, o que acabei agradecendo. Foi uma excelente distração para minha mente inquieta.
Entre um dos intervalos, estava tão distraído que não notei um grupinho familiar se aproximando.
E no centro dele, estava Michel. Com a garota da boate pendurada em braço.
Vê-lo me deixou abalado, não posso negar. Mas pior que isso, era perceber que nada tinha mudado.
Ele estava rindo como sempre, brincando e agindo como o maldito rei que ele achava que era.
Infelizmente, mesmo eu cursando administração e Michel contabilidade, algumas de nossas aulas eram no mesmo prédio. Eu sabia que nosso encontro seria inevitável. Mas eu pensei que ele estaria pelo menos um pouco cabisbaixo.
Será que toda aquela cena de desespero na minha casa foi apenas um teatro?
Sem perceber, agarrei a manga do casaco de Robson procurando apoio. Ele entendeu na hora e começou a falar várias coisas aleatórias para me distrair. Não consegui me concentrar em nenhuma delas.
Quando por fim nos cruzamos no corredor, ele olhou para mim. Diretamente nos meus olhos. E não vacilou nem por um segundo. Apenas se virou para a garota e continuou rindo. Seu rosto ainda tinha um pequeno hematoma, provando que a surra que ele levou foi real. Mas nem isso abalou sua alto estima.
Ódio e decepção subiram pela minha garganta. Como eu queria gritar com ele! Devia ter extravasado mais durante a briga.
— Que cara babaca! — resmungou Robson— Não tem nem dois dias que estava na sua casa implorando perdão! Ele merece mais umas vinte surras daquelas!
Não podia descordar. Eu realmente queria que essa atitude dele fosse arrancada na marra. Dentro ou fora do ringue.
Agradeci internamente por Robson estar ali do meu lado. Não sei se conseguiria manter a pose se não tivesse me apoiado nele.
Mas preciso confessar que queria sumir. Me esconder em buraco muito fundo até esquece-lo. Mesmo eu não tendo feito nada de errado, me sentia um lixo.
— Vem. Eu pago uma Coca-Cola pra você.— falou Robson me puxando para a máquina no fim do corredor— Nada que um pouco de açúcar e cafeína não resolva.
Após todo esse drama, tivemos mais uma rodada de aulas muito bem vindas.
Na hora do almoço eu e Robson tivemos um impasse.
Eu queria comer no lugar de sempre, e ele queria me arrastar para o refeitório.
Justo no território inimigo.
— Não sei de onde você tirou isso! — reclamou Robson quando falei — Lá é tão nosso território como dele! Você não está em um filme americano Ric! Daqui a pouco você vai me obrigar a comer no banheiro!
— Não sei se tô preparado pra ver o que rola lá.
— Ric, eu entendi quando você não ia quando estavam juntos. Mas isso acabou. Você não pode abrir mão de frequentar um lugar por causa dele! Chega de abrir mão de tudo por causa do bem estar de Michel.
— Não é por ele. É por mim. Não me sinto preparado ainda.
— Desse jeito você nunca vai estar! Sei que tem muito pouco tempo, mas você precisa mostrar pra ele que também seguiu em frente.
— Mas eu ainda não segui!
— E ele não precisa saber disso!
Eu estava divido entre me preservar e ver o que de fato Michel fazia lá.
— Olha, nós vamos até lá e se você se sentir mal, saímos.
— Não seria mais humilhante assim?
— Não vai. Qualquer coisa eu finjo que estou passando mal okay?
Acenei com a cabeça deixando meu lado masoquista vencer.
Entrei no refeitório de cabeça erguida e lutando para não olhar para os lados e procurar por ele.
Pegamos a comida e nos sentamos na primeira mesa disponível que vi. Só quando estava sentado me dei ao luxo de olhar o salão.
O clima lá era bem agradável. Exatamente como eu me lembrava. Faziam quase seis meses que não ia até lá. Ao contrário do que mostrava os filmes, não existia grupinhos pré definidos. Todos estavam misturados independente de seu estilo. Bem quase todo mundo.
Como já suspeitava, a mesa mais agitada e com pessoas claramente da elite escolar era a mesa onde estava Michel.
Novamente nossos olhares se encontraram mas me mantive firme. Robson tinha razão. Eu não tinha que me esconder.
No fim, ele se sentiu desconfortável e afastou os olhos de mim.
Me senti vitorioso por alguns momentos. Até uma garota que parou ao seu lado foi puxada para sentar no seu colo. Lógico, o gesto foi feito repleto de risos e brincadeiras.
Engoli seco e tentei manter meu rosto o mais impassível que consegui.
Comecei a conversar com Robson tentando me distrair e não cair na tentação de olhar novamente.
Mas após alguns minutos, senti olhares sobre mim. Tentei ignorar o máximo que pude, mas eram como agulhas me perfurando.
Desisti de lutar e olhei para a mesa de Michel, mas ele estava entretido conversando com um dos caras ao seu lado.
Não era ele que estava me olhando.
Sondei o salão e vi um cara olhando fixamente para mim na mesa a minha frente.
Ele estava com uma camisa cinza escura e um boné cobrindo boa parte do seu rosto.
A mesa dele estava também movimentada mas ele parecia não se importar.
— Você conhece aquele cara?
— Não faço ideia Rob. Não consigo ver seu rosto direito.
Não sei se ele leu nossos lábios ou viu a confusão em meu rosto, mas ele deu um sorriso discreto e tirou o boné ajeitando o cabelo castanho.
— Puta que pariu Ric! — sussurrou Robson chocado— É a porra do Beast!
E meu queixo caiu quase batendo na mesa.
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Fight- Lute por mim
عاطفيةFIGHT - LUTE POR MIM Nesse jogo insano de sedução só existe uma única regra. A DISPUTA PELO AMOR VERDADEIRO! Ricardo estava apenas querendo pegar seu namorado no flagra mas não esperava encontrar um lutador disposto a tudo para conquista-lo. Beas...