0.1 Chegada

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26 anos e alguns meses depois

A mansão pulsava com agitação, todos se preparavam para a iminente chegada dos príncipes. Os empregados, como abelhas em frenética atividade, meticulosamente ajustavam a decoração, atormentando-se com minúcias que, no final, passariam despercebidas. Era uma futilidade buscar o olhar atento dos superiores na esperança de conquistar uma promoção. Em meio a esse frenesi, Mescla, acompanhada por Lady Regina e Senhorita Branca, observava a movimentada cena enquanto deslizavam pelos caminhos floridos do jardim.

"Mescla", chamou Lady Regina, "você parece distante, o que está acontecendo?"

"Nada, milady! Estou perfeitamente bem!", respondeu Mescla, mantendo sua voz gentil e calma como sempre.

"Mescla, o Lorde está te esperando em seu escritório", disse uma das empregadas que se aproximou para dar o aviso.

"Com licença, minhas senhoras, devo atender ao chamado do lorde", despediu-se Mescla.

"Naturalmente, Mescla. Sabes onde nos encontrar...", despediu-se Lady Regina.

Enquanto se afastava, Branca cochichou: "Por favor, tenha cuidado, Mes, não o irrite...". Em seguida, Branca se afastou e dirigiu-se à sua mãe.

Mescla apressou-se em atender ao chamado de Lorde Damiano, pois já aprendera da maneira mais áspera que ignorar seus chamados não era uma alternativa. Postou-se diante da porta de seu aposento e, após três discretas batidas, recebeu a permissão para ingressar.

"Você me chamou, milorde?", disse Mescla, colocando-se em posição de prontidão em frente à mesa do lorde.

"Mescla, é bom ver que você está disposta a responder ao meu chamado!", disse o lorde com um tom sarcástico. "Infelizmente, não posso gastar mais tempo com você. Estou estressado com a chegada dos príncipes e outros assuntos..."

"Chega de rodeios, informe-me assim que os nobres visitantes desembarcarem, assegurando a vistoria das medidas de segurança, senhor!", interrompeu Damiano, alterando subitamente seu tom. Então, soltou um riso mordaz. "A meu ver, esses bastardos estariam melhor debaixo da terra, mas, infelizmente, eles me são de alguma utilidade."

"Senhor, a chegada deles está prevista para daqui a dois dias, pouco antes do anoitecer, se não houver imprevistos no caminho. Caso ocorram atrasos, talvez cheguem ao anoitecer", respondeu Mescla.

"Minha leal cadelinha, por vezes, surpreendes-me...", aproximou-se dele, plantando um beijo rude em seus lábios e puxando seus cabelos para fitá-la nos olhos. Mescla permaneceu imperturbável, já tendo se acostumado com os comportamentos abusivos do lorde. "Lamentavelmente, és apenas uma rata de sague imundo, sua beleza poderia ser mais bem aproveitada...". Ele deslizou a mão pelo ombro de Mescla e apertou seu braço com firmeza, através do tecido, mas então, ele se afastou e ajustou suas vestes, Mescla permaneceu impassível, sem emitir uma reação ou objeção, aguardando tão somente ordens.

"É bom ver que você conhece seu lugar, caso se esqueça, farei questão de lembrá-la. Seu trabalho até o momento tem sido impecável, e é por isso que ainda não me desfiz de você. Está dispensada", concluiu ele.

Ao sair da sala e seguir em direção ao jardim, Mescla foi interrompida por uma voz misteriosa no meio do caminho. "Esteja preparada. A estadia deles será um presente de boas-vindas ao inferno para todos!" A voz surgiu e desapareceu rapidamente. Mescla não sabia o que pensar sobre aquilo e continuou seu caminho em direção às mulheres que a esperavam no jardim.

Os dias se desenrolaram com rapidez e, finalmente, chegou o tão aguardado dia. A mansão estava impecável, os guardas postados em suas posições, enquanto Mescla dirigia-se ao escritório, batendo à porta antes de entrar, como era costume.

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