Capítulo 1

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Acordei de um lindo sonho onde mamãe entrava pela porta de casa com Liz nos braços e dizia que tudo estava bem. Ela usava um lindo vestido branco com renda e pedras brilhantes no busto, seus cabelos adornados por um uma linda coroa de flores apresentavam estar macios, as ondas caíam por suas costas.

Abri meus olhos e eles logo se fixaram nas manchas amarelas do teto. Ao meu lado, minha irmã de dois anos me encarava e quando retribui a mirada, tirou o dedão da boca e sorriu.

— Bom dia, mamãe.

— Bom dia, meu raio de sol.

Foi difícil explicar para ela que nossa mãe havia falecido em seu parto. Então,  um belo dia, ela chegou da creche me chamando assim e acabei não discordando, apenas complementei que eu era a sua mamãe de coração e irmã de sangue e que nossa mamãe havia virado uma estrelinha no céu. Todos os dias eu lembrava isso a ela em nossa oração.

Maitê Cooper foi uma mulher cheia de energia. Mamãe conheceu papai ainda no high school, eles diziam que foi amor à primeira vista e o relacionamento gerou frutos, já que no primeiro ano da faculdade nasceu eu, Olívia Cooper.

Minha família tinha uma vida muito confortável, cresci com bom estudo e muito amor, mas as coisas começaram a desandar quando cheguei aos meus quinze anos. Papai sofreu um acidente grave de carro e morreu dois dias depois de dar entrada na emergência do hospital.
O terrível impacto que havíamos sofrido foi incrementado por mamãe descobrir que estava grávida dele, o que pronunciava que tínhamos uma longa batalha pela frente.

Lutamos muito para nos manter, não havia ninguém que pudesse nos ajudar, então mamãe começou a fazer bolos e doces para vender e eu a ajudava. Quando não levava para vender na escola, ia à semáforos, onde o fluxo de veículos era maior.

Conseguimos nos manter muito bem, até que exatamente no dia em que eu iria completar dezesseis anos, dona Maitê entrou em trabalho de parto e corremos com ela para o hospital. Eu sabia que alguma coisa estava errada no momento em que descemos do taxi em frente da emergência e ela começou a sangrar muito. Antes de os médicos a levarem, ela me abraçou e disse que me amava e que eu precisaria ser forte para poder cuidar da minha irmãzinha.

Aquele foi o nosso adeus, ela não saiu viva do centro cirúrgico.

Eu, Olívia Cooper, naquele momento me tornara irmã, mãe e protetora de uma linda criança de grandes olhos verdes e cabelos loiros, minha Liz. Eu estava apavorada. Meu pânico era de que não me deixassem sair com ela do hospital por ser menor de idade e sem alternativa, menti sobre minha idade para o médico e enfermeiras, que por uma obra divina, não pediram meus documentos.

Dois dias depois, sai com Liz do hospital, devidamente registrada, para iniciar nossa aventura por uma vida completamente nova para nós duas. Não foi fácil, eu troquei a escola presencial pelo home school, mudei da nossa pequena casa por uma suíte alugada em uma velha pensão numa área mais humilde de Nova York. As paredes e o teto estavam um pouco amareladas de mofo, mas era o que eu podia pagar. Ninguém alugaria um quarto por trezentos dólares na região, então teria que servir.

Da antiga casa levei a cama de casal da mamãe, o guarda-roupa, fogão, alguns utensílios domésticos e nossas roupas. A pensão possuía lavanderia por um preço muito baixo e as pequenas peças eu poderia lavar no banheiro do quarto e colocar para secar na janela. Era simples, mas poderíamos viver assim.

Foi terrível nos primeiros meses, Liz chorava com fome e cólica e eu não sabia o que fazer, chorava junto à ela. Precisava ser forte por nós duas e foi naquele momento que Katherine, dona do local em que morávamos, uma senhora muito acolhedora, entrou em nossas vidas. Durante os dois anos que passou, ela fez muito por nós. Ensinou-me a cozinhar, a cuidar de um bebê e nos alimentou, quando tudo que eu tinha era um pacote de bolacha e água da torneira.

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