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Passou-se há muito tempo esta história, quando a terra ainda era habitada por deuses que se passeavam despreocupadamente em carros alados e as ninfas dançavam graciosamente em prados verdes. Nessa altura os seres viviam em harmonia, cada um ocupado com os seus assuntos e nunca interferindo uns com os outros. Havia o mundo dos deuses, das fadas e dos duendes, o mundo dos homens e o dos animais, e tudo estava bem. Cabia aos deuses guardar a ordem dos mundos, e o deus maior era o deus-do-céu que tinha o poder da trovoada, do vento e da chuva. Governava sobre todos os outros deuses, menos importantes, como a deusa-do-fogo, o deus-do-mar e o deus-das-profundezas-da-terra. Havia ainda uma imensidade de divindades, algumas com um aspeto temoroso, como era o caso dos centauros, meio homens meio cavalos, outras, pelo contrário, tinham uma beleza especial, como as ninfas do mar.

No mundo dos deuses era sempre Primavera. Nem muito frio, nem muito calor. E o ar era naturalmente perfumado. As árvores estavam sempre cheias de fruta, doces e maduras, prontas para serem comidas. Os riachos e as fontes nunca secavam, as flores eram feitas de todas as cores e os pássaros cantavam melodias em variados tons. Enfim, um verdadeiro paraíso que somente em sonhos os humanos conseguiram vislumbrar.

Os deuses, claro está, eram naturalmente belos e fortes. Embora uns fossem mais velhos do que outros, contudo nunca envelheciam. De vez em quando os deuses reuniam-se para discutir algum assunto, normalmente assuntos familiares como, por exemplo, combinar casamentos. Outras vezes discutiam a distribuição de poderes. Zangavam-se facilmente porque todos achavam que tinham razão, o que dava uma imensa trabalhadeira ao deus-do-céu. Alguns tinham muito mau feitio, quando não obtinham o que queriam congeminavam vinganças que resultavam sempre em conflitos estrondosos. De vez em quando lá ia algum recambiado para os confins das profundezas da terra, onde ficava milénios e milénios até ser completamente esquecido.

Os deuses estavam proibidos de interferir nos assuntos dos homens. Embora pudessem passear-se entre os humanos sem serem reconhecidos, havia ordem expressa do deus-do-céu para se manterem indiferentes às alegrias, tristezas, tragédias dos humanos. E isso tinha uma razão muito forte. Era importante manter a ordem e respeitar a separação dos mundos. Era assim a ordem das coisas e tudo funcionava bem até ao dia em que se passou esta história.

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