Neve

Pedaços

Nas horas que se seguiram, foi apenas ladeira abaixo, e a melancolia pela casa se espalhava.
Quando todos os visitantes foram embora, pouco depois meu pai e meu irmão chegaram, sem êxito na procura.
Os três tentaram me animar, me garantiram que procurariam ele amanhã cedo, meu pai até disse que iria com o pai de meus amigos, como o Leonardo e Silas.
Uma noite inteira de procura e não conseguiram nenhuma pista, tudo parecia inútil, e pensar no Neve perdido e com frio só despedaça ainda mais meu coração.
Logo fui para meu quarto dormir, não que tenha conseguido pegar no sono.
Em algum momento da madrugada realmente consegui dormir um pouco.
Fui acordada por minha mãe:

-Bom dia filha, não queria te acordar, mas você tem visitas importantes. - Célia falava com voz encorajadora, querendo me animar.

Ainda estou acordando e processando as palavras, mas me sinto sem ânimo para conversar, então me viro de costas para porta, enquanto minha mãe ia na sala falar que podiam entrar.
Aqui vai uma breve descrição dos três:
-Igor: é o mais velho, sério e inteligente, tem apenas um ano a mais que eu. No auge dos seus 13 anos, com corpo esguio, cabelo grande Black, bem encaracolado, e que esticado daria quase no ombro.
-Leonardo: magro, o mais alto do grupo e esbelto, sempre sorridente, deixando todos mais felizes onde passava, tem minha idade, assim como Silas, 12 anos.
-Silas: sorridente e bastante perspicaz, de corpo atlético e amante da literatura como eu, mas ele parecia sempre saber o que dizer, não importava qual assunto discutimos.
Perdida em pensamentos só notei eles quando alguém estava me puxando pelos pés, e estava quase caindo da cama.

-Eii! - falei sobressaltada.
-Você não estava respondendo. - disse Igor, que puxava meus pés.
-É verdade, e estamos aqui faz horas! -disse Silas sorrindo.
-Tentei evitar. -disse Léo dando de ombros.
-Julia, sinto muito. -falou Igor me soltando e sentando na cama. Acabei não respondendo nada.
-Ele está perdido, e não morto, e se tem uma coisa que você faz bem Júlia, é desenhar e criar estratégias. -falou Silas.
-Não sei se realmente posso ajudar em algo, tem tantos lugares que ele pode ter ido...- falei com olhos marejados.
-Vamos desenhar cartazes de "procurasse Coelho", e vamos espalhar nos bairros próximos. - sugeriu Igor. - todos estamos aqui para ajudar.

Mesmo relutante, e sem tantas esperanças, comecei a fazer cartazes com meus amigos, passamos a manhã fazendo eles.

-E então? Tudo pronto, certo? vamos lá! E não se esqueçam de perguntar as pessoas se não viram ele por aí. - disse Léo

Saímos colocando os cartazes em todos os postes.
Perguntamos a todos que passavam por nós, mas todos negavam, ninguém viu ele.
O sol começava a descer, nós quadro estávamos esgotados, e bem longe de casa, os cartazes acabados, continuamos a perguntar as pessoas se não o viram:

-Moço, por acaso você não viu um coelho nas ruas?. -disse eu.
-Não, sinto muito. - e o senhor afastou-se
-Eu vi, no parque municipal -disse um menino sorridente, da minha idade.
-Sério? Um coelho branco? Por aqui?- meus olhos brilhavam de esperança.
-Sim, até tentei chamá-lo, sempre quis comer carne de coelho...- disse ele com um sorriso maldoso.

Eu não aguentei, reprimindo tudo por todo o dia, aquela foi a gota d'água, dei um tapa no rosto dele com toda a minha força.

-Ele não é comida!. -tentei me controlar mas comecei a chorar, nesse momento meus amigos chegaram correndo até mim.
-Julia, o que aconteceu? - falou Silas, e Léo me deu uma toalhinha. Já Igor partiu para cima do garoto.
-O que você falou para ela!?- Igor estava vermelho de raiva.
-Vocês vão pagar! - o garoto saiu correndo em direção ao parque, que estava em nossa vista bem ao fundo.
-O que houve?. - Igor
-Ele disse que viu Neve no parque.- falei entre soluços.- e que tentou pegar para matar e comer.
-Que garoto maldoso! - Igor.
Depois de alguns minutos, para me acalmar falei:
-Temos que ir ao parque, se Neve está perdido lá, nós temos que acha-lo.
-Eu ia com meu pai acampar nesse parque, conheço o lugar. - Léo
-Então pronto, vamos para casa, peguem comida, lanterna, sacos de dormir, e o que mais precisarem, vamos passar a noite no parque, e procurá-lo. - Silas

Todos concordamos e fomos para nossas respectivas casas, se preparar, pois seria uma longa noite.