Um mês e um dia na escuridão

103 12 4
                                    

   Nossas conversas foram ficando cada vez mais interessantes e parecia que compartilhávamos dos mesmos gostos, era estranho pois eu nunca havia encontrado alguém como ele. Estava passando por uma fase muito difícil, foi quando a depressão me pegou com força e tudo ficava mais difícil, como ficamos tanto tempo conversando por ligações eu resolvi realmente me declarar, a essa altura já não sabia quanto tempo mais aguentaria nessa vida.

  Me lembro que foi uma decisão estúpida, pois ele me respondeu dizendo que amava a minha amizade mas não passaria disso. 

Desde então a conversa acabou, o brilho nos meus olhos se apagaram, porque eu sentia que não era apenas conversa de amigos mas resolvi respeitá-lo. Desse dia em diante resolvi ignorar meus sentimentos, mesmo que meu coração acelerasse quando ele chegava atrasado na sala, eu apenas olhava para a janela, mas o boato de que eu gostava dele nunca sumia e isso já estava me deixando com raiva, eu não era mais amiga dele, como poderia ser depois de ser rejeitada? Não mesmo.

  Estava tudo correndo perfeitamente, ignorar sua presença, não falar dele, apenas pensar nele era o que me faltava o controle, mas aos poucos todos começaram a acreditar que Peter não era nada além de amigo para mim... Até que eu me deixei ser descoberta novamente, era para ser uma aula de Educação Física como qualquer outra, nós concordamos em jogar futebol mas o Peter acabou caindo e teve que ir imediatamente para o hospital, eu sabia que havia algo de errado com o braço dele, e naquele momento percebi o quanto estava mentindo para mim todo esse tempo. Fui correndo para sala de aula assim que ele foi levado ao hospital, parece bobo mas eu me preocupava tanto com aquele garoto, o fato dele ter se machucado doía em mim, não soube lidar, apenas deitei a cabeça em minha carteira e chorei e assim a sala toda descobriu que meu sentimento por ele ainda existia, eu estava apenas o sufocando dentro de mim.
  Logo a diretora apareceu na porta para avisar seu estado de saúde, ele havia quebrado o pulso e faria uma cirurgia, foi mais grave do que todos ali pensavam, eu só conseguia pensar como ficaria na escola se uma parte de mim não estava lá, eu contei cada dia que ele faltou no caderno.

  Dia 1: meu peito apertava e eu queria vê-lo;
  Dia 2: talvez eu devesse escrever uma carta para que ele se recupere bem;
  Dia 3: melhor não, e se ele não gostar;
Dia 4: já não aguentava mais de saudades;
Dia 5: fiz a carta e para minha surpresa a Lara resolveu fazer também;

Quando finalmente criei coragem pedi para que o Robert, sim aquele menino atentado, entregasse a carta a ele, era minha única esperança já que eles eram vizinhos e muito amigos... No dia seguinte o Robert chegou dizendo alguns trechos que eu havia escrito na carta, é serio isso? Ele realmente deixou esse garoto ver o que eu escrevi para ele? Fiquei com tanta raiva e com vergonha, não faria isso de novo.

Os dias passavam divagares, eu costumava olhar para a porta todos os dias esperando por ele, mas sabia que ele não viria logo por conta da fratura... Já era dia 23 e eu não aguentava mais aquelas aulas chatas, comecei a faltar, sua falta me afetava tanto que chegava a apertar o peito e eu só poderia buscar em meus sonhos.   Dia 30 Robert trouxe com ele boatos de que Peter iria para a escola no dia seguinte, como já mostrei aqui o Robert não é pessoa mais confiável do mundo, por mais que essa notícia tenha explodido meu peito de emoção eu não poderia confiar totalmente.

  No dia seguinte perdi meu ônibus e precisei pegar o próximo chegando um pouco atrasada, por mais que eu corresse os portões já haviam fechado, mas os alunos ainda estavam fora da sala pois os professores ainda não haviam aberto as salas. Toquei o interfone e entrei para o pátio da escola, onde ficava minha sala, de imediato meus olhos se cruzara com o dele que estava em pé ao lado da nossa sala. Minhas pernas ficaram trêmulas, eu fiquei tão feliz por poder vê-lo 1 mês e 1 dia depois, eu queria pular e agarrar seu pescoço, o beijar e pedir para que nunca ficasse longe de mim, mas apenas sorri o mínimo possível voltando meu olhar para o chão e entrei na sala logo em seguinte. Dali em diante eu sabia que teria Peter para iluminar meus dias novamente, mesmo que fosse indiretamente.

Best Friend Onde histórias criam vida. Descubra agora