Ele voltou

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   Um mês se passou e ele finalmente estava de volta, eu tentava me colocar no seu lugar e jamais conseguiria imaginar o que ele esteve sentindo por esse tempo. 
  Não sabia como me aproximar, isso seria mais difícil do que o normal, e sinceramente, aquela foi a primeira vez que me senti daquele jeito, me faltou ar, o coração acelerou como nunca, a ansiedade já era visível, um milhão de coisas passavam na minha cabeça, mas nada saía, absolutamente nada. Como alguém poderia me fazer sentir isso? Por que eu não conseguia agir normalmente? Seja lá o que for isso, é bom, sensação de 30 borboletas no estômago, e apenas a presença dele era capaz de melhorar a minha semana.

  Sim, devo admitir, talvez eu realmente estivesse apaixonada. Mas rezei para que fosse coisa de criança e assim como o Léo, passasse logo. O problema era que no fundo eu sabia, sempre soube, ele não seria apenas mais um garoto, ele seria "O Garoto", o que eu provavelmente amarei até o fim dos meus dias.

  Os dias eram tão curtos, e por mais que meu dever fosse estudar, o que me motivava a cada dia a levantar da cama era saber que eu o veria, mesmo que não tivesse coragem para dizer um simples "oi", ele estaria lá, na primeira carteira da segunda fileira, sem dizer uma palavra a aula toda, apenas se algum de seus amigos o perguntasse algo.
  Meus dias foram assim, ir para a escola e observá-lo, eu amava isso, todo dia a mesma adrenalina quando ele chegava, mas assim como a maioria das garotinhas de 11 anos, contava tudo para minhas duas amigas Marina e Gaby, e elas não sabiam muito bem guardar segredo, só que o pior de tudo foi ter escrito o nome dele na capa do caderno, foi questão de tempo até todos verem. E adivinha só, foi constrangedor, tanto para mim quanto para ele, a partir disso, todo santo dia os dois meninos mais irritantes da sala (Robert e Henry) me zoavam, mas nem assim Peter e eu trocamos uma palavra.

  Em dezembro às férias chegaram, e eu odiava a ideia de ter que ficar tanto tempo sem ver o Peter, como todo ano o combinado era passar o fim do ano na casa do meu pai, ele morava a 2 horas de San Francisco e a cidade era bem maior.
  A única coisa que me animava em ir pra lá era saber que eu veria a Mona, filha da minha madrasta e apenas um ano mais velha que eu, nos consideramos irmãs e ela fez aquelas férias valer a pena. Ela já tinha 13 anos e eu havia acabado de completar meus 12, achava que ela entendia mais sobre tudo, e então tive a ideia de pedir conselhos sobre como falar com o Peter, ela na hora entrou no facebook dele, e mandou uma mensagem, simplesmente surtei, ela tinha mandado "oi" e eu nunca tinha falado com ele, e se ele não respondesse, minha cabeça começou a produzir um turbilhão de pensamentos negativos, mas no fim ele respondeu. A partir daquilo foi conversa o tempo todo, a gente conversava a madrugada toda e eu não poderia ser mais feliz, eram tantos assuntos e quando ele mandava áudio, eu morria e voltava a vida, aquela voz era tão linda.  Da para acreditar que assim foram os dois meses de férias, nada era mais importante do que a volta às aulas pra mim, eu finalmente poderia conversar com ele pessoalmente, sei lá dizer o quanto ele é fofo e inteligente ou até me declarar né.

  Crianças, sempre tão sem noção, sempre tão ingênuas.

   As aulas começaram e indo para o 8°Ano já me sentia adolescente, sentia que poderia fazer tudo, inclusive entrar naquela sala e falar com o Peter.
   Mas adivinha só, eu travei de novo, fiquei parada, minha voz não saía e minhas mãos suavam, continuava com a timidez intacta, por mais que tivesse falado mais com ele do que com a minha própria mãe a férias toda.

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