CAPÍTULO NOVE

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Dedicado a:

DRGoncalvesWriter

MraSoe

LarissaDias235



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Um capítulo enorme. As coisas vão começar a pegar fogo a partir de agora. Eu sei que a leitura foi cansativa por causa das muitas descrições, mas elas fazem parte do processo. Obrigada pela paciência de ter chegado até aqui. 



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Amanhã é dia de oferenda. Eu estou no pequeno depósito fazendo a conferência: geleia de uva, de morango, doce de caju... Estão faltando potes de doce de caju. O desespero começa a bater e eu conto novamente, dessa vez mais devagar. Falta um pote de geleia de framboesa também, justo um produto nobre. Eu estava tão feliz de o rendimento ter sido bom. Pensei que fosse comer carne depois de amanhã. Há duas semanas sumiram cinco potes de doce de leite do nosso rendimento, e agora isso. Basta se conseguir uma coisinha a mais que já acontece o pior.

Começo a roer as unhas e sinto aquele conhecido gosto metálico do barro e dos grãos de areia quebrando em meus dentes. Arranco um pedaço tão grande que o sangue desce, o qual eu só percebo quando bate o ardor por causa da saliva. Chupo o dedo com força a fim de estancar.

– Vovó! Vovó! As oferendas sumiram de novo!

Ela fala lá de dentro. – Deixe de gritar, Margarida! Alguém pode ouvir.

– As oferendas sumiram de novo. – Falo baixo dessa vez.

– Conte isto direito.

– Já contei! De novo e de novo! – Ela finalmente dá atenção ao meu desespero e vem ao meu encontro. Dona Consuelo põe a cabeça dentro do depósito.

Suspiro. – Não acredito! – E leva as mãos trêmulas à cabeça. – Mas a gente produziu muito, não vai fazer tanta falta. – Ela falou aquilo contida demais, conformada demais, paradoxal ao seu susto inicial.

Cruzo os braços e abaixo a cabeça, chateada.

– Olhe, tivemos galinha da outra vez, sendo que nem sempre dá. Eu sei que você queria carne, mas quem sabe a gente não consegue algo ainda melhor depois? – Ela ergue a sobrancelha, encorajando-me.

Dou um sorrisinho, pensando em macaxeira com um grande pedaço de queijo assado. Melhor do que isso, só um par de sapatos.

– Venha, ajude-me a colocar a geleia nos potes.


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Hoje choveu bastante e eu pude lavar o meu cabelo. Me sento na rede com um tubinho de óleo entre as pernas. A barra do meu short está se rasgando e os fiapos ficam se enroscando uns nos outros, assim como os cachos do meu cabelo. Passo o óleo, desembaraço com a ponta dos dedos e fico repetindo o processo. O meu cabelo já está na metade das costas, porém quando estico as mechas, ele vai parar na cintura.

Meu sangramento chegou ontem à noite e eu sinto que até as minhas orelhas estão inchadas. A dor pulsa na parte de baixo da barriga e é transferida para as minhas canelas finas em forma de fraqueza. Andar é difícil e carregar um balde de leite cheio até a borda fica muito pior. Bate um cansaço só de lembrar que terei de fazer isso mais tarde.

Além do riacho proibido [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora