CAPÍTULO UM

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Dedicado a leitoras fiéis:

ei_cacau (meu chocolate com flocos)

MicaelySilva558 (seu momento de brilhar)



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VOLTEEEEEEIIIIIIII

E voltei com este livro que eu amei escrever e espero que vocês amem ler.

Se você já tinha adicionado esse livro antes do lançamento, dê uma conferida no capítulo de avisos. Tem novidades por lá.

E que comece a desgraça:



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Vovó costuma dizer que eu já nasci com cara de fome, porque é isso que acontece com as crianças do mundo. Ela me chama de Margarida Flor, porque esse nome foi previamente escolhido. Não por ela, claro, já que Vovó nunca tomou uma só escolha na vida. De fato, eu sou branca como uma Margarida, ainda que o meu cheiro seja bastante desagradável. E assim, fiquei sendo eu Margarida Flor, apenas. Nada mais. Margarida Flor de-mais-nada. Não poderia ser diferente, afinal minha Avó nunca teve posses para me dar um sobrenome. 

Isso é irônico de se pensar: sou uma Flor sem raízes, mas para além da ironia, não há motivos para que eu me sinta inferior, tendo em vista que nunca conheci uma pessoa com sobrenome em toda a minha vida. Não temos notícia, na verdade, de alguém que já tenha conseguido. As coisas funcionam assim desde que o mundo é mundo e, pelo rumo que estão tomando, serão desse jeito até o fim. 

Se é que o fim disso existe. 

Eu moro no mundo, simplesmente. É assim que nós chamamos o lugar em que vivemos, porque ele é o único lugar que há. Ainda não apareceu ninguém que desse um nome para ele, o que me leva a crer que eu mesma deveria fazer isso. Então, eu lembro que ninguém iria se importar se o arcabouço de nossa existência tivesse um nome para chamar de seu, fazendo com que a minha ideia vá embora tão rápido quanto veio. Ideias são coisas perigosas! 

Nesse mundo sem nome, não existe necessidade de localizações específicas. Basta você dizer com o que você trabalha e quem são os seus vizinhos. Eu moro perto daquela árvore, depois daquela curva. Pronto! Agora todos sabem quem é você. Isso acontece porque o mundo é um lugar muito pequeno. Na minha opinião, ele deveria ser bem grande, para que nós sempre tivéssemos coisas novas para conhecer, mas opiniões são coisas perigosas, e novidades mais ainda!

Eu conheço cada pedaço do mundo, cada casa, cada árvore. Não passa de um enorme círculo, arrodeado por uma floresta e com alguns pontos de água. 
E, claro, tem o riacho proibido. 
Lá é o lugar mais lindo do mundo. Aliás, é o único lugar bonito que existe nele. O riacho é longo, com águas limpas e transparentes, um fundo cheio de pedrinhas coloridas e na margem existe um gramado verde e cheiroso. É totalmente o contrário do que fica perto das nossas casas.

Nas nossas casas o que tem é um gramado marrom e seco. Eu sei que para que ele fique verde, nós temos que regar, mas não se pode desperdiçar o pouco de água que temos com a grama. Todos sabem que a água limpa é apenas para as oferendas, que por sinal são amanhã. 

As oferendas acontecem no sexto dia da semana, como sempre. Entre uma lua cheia e outra tem quatro semanas, logo são quatro dias de oferenda. Vovó quem me disse isso. Eu não entendia porque os dias eram contados assim, do um até o sete, infinitamente. Mas Vovó falou que esse é o tempo da lua, e do sangramento das mulheres, e da chuva, e do nascimento dos bebês. Daí a importância de contar os dias por semana. Depois ela me deu um cocorote na cabeça porque eu estava sendo muito curiosa. Tudo o que eu tenho que saber é que as oferendas são feitas no sexto dia da semana, ao pôr-do-sol, sempre no mesmo lugar, mas isso é obvio, porque todo mundo sabe que ninguém pode sair depois do pôr-do-sol. É burrice e suicídio, o que faz de mim burra e suicida, porque eu já fugi à noite. 

Além do riacho proibido [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora