capítulo único

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Leiam as notas da autora no capítulo anterior! Obrigada por me esperarem e boa leitura!

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Cesar olhava incansavelmente para a foto que haviam tirado no primeiro dia em que chegaram à Carpazinha, quando ainda estavam no hotel. Joui havia passado-a para ele três dias depois de retornarem para a correria de São Paulo, e o rapaz mandara revelar a tempo de estar ali para o velório de Christopher, que ocorreria naquela noite.

Só demoraram esse tanto para enterrar seu pai porque o corpo meio que ficara desaparecido entre os escombros da floresta, e as pessoas geralmente não entravam naquela floresta tão facilmente. Foi com a ajuda do policial Viktor que eles conseguiram retirar Chris em boas condições, visivelmente parecido como se estivesse apenas adormecido por horas.

A mão do garoto tremeu enquanto ele se dirigia de volta para seu apartamento, guardando a foto no bolso da calça suja e rasgada. Não trocou uma palavra com o porteiro, nem com um dos vizinhos que passava por ali acompanhado de sua filhinha pequena e da esposa. Infelizmente, esses últimos notaram que ele estava meio cabisbaixo e se aproximaram dele sorrateiramente.

- Está tudo bem, menino? - perguntou o homem. Cesar engoliu em seco. Não queria que ninguém falasse com ele agora. - Você parece meio acabado.

- Bem. - Respondeu simplesmente, procurando a chave da porta no bolso e a abrindo rapidamente sem olhar para trás, as mãos tremendo mais ainda. Tinha medo de que a família percebesse sua tristeza e inquietação e fizesse mais perguntas invasivas.

O apartamento de Cesar era uma completa bagunça. Ele não era muito ligado em arrumação, mas não era do tipo que deixava suas roupas velhas jogadas na cama nem a toalha molhada em cima da cama. Assim que chegou em seu quarto escuro e abriu a janela para um pôr do sol bonito, o moreno retirou a camisa e começou a desabotoar a calça indo em direção ao banheiro.

Queria não precisar pensar nas tragédias e nas coisas que vira naquele lugar. Queria não precisar pensar que a culpa de tudo era sua por ter aceitado aquela maldita missão naquele maldito prédio. Ligando o chuveiro, Cesar percebeu que a água disfarçava suas lágrimas, e passou as mãos no rosto tentando não chorar intensamente e mudar o foco do pensamento.

Seu celular, que estava no quarto, tocou alto o suficiente para que pudesse ouvir, mas agora não era tempo de atender qualquer ligação, de quem quer que fosse. Ele só queria descansar a cabeça e não ter contato social pelo menos por uns nove meses.

Filho! Eu te amo!

Cesar? Por qual lado a gente veio?

Isso não tá certo... Não era pra ter sido assim...

Quando menos percebeu, Cesar estava desabando no chuveiro, sentado com as costas na parede fria, as mãos no rosto e o corpo completamente trêmulo - que não tinha nada a ver com a temperatura que a água estava -.

* * *

- Eu tô indo pra aí, eu e a Ivete, pode ser?

- Arthur, não, eu só quero ficar um tempo sozinho. Valeu mesmo.

Cesar retornara a ligação de Arthur Cervero assim que seu corpo parou de tremer, assim que parou de chorar e assim que teve forças para seguir sua vida naturalmente, procurando não lembrar de nenhuma das pessoas que o acompanharam nessa longa jornada. Ninguém acreditaria nele mesmo se contasse suas aventuras. Ninguém jamais acreditou em Cesar.

CHERRY WINE | joesar/kaoui oneshotOnde histórias criam vida. Descubra agora