Capítulo 6

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"Eu quero ficar perto de tudo que acho certo até o dia em que eu mudar de opinião... "

COISAS QUE EU SEI - Danni Carlos

COISAS QUE EU SEI - Danni Carlos

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Isabella Castelle

    Olhos azuis, pele pálida, cabelo quase branco de tão claro. A imagem de um anjo, diziam eles. Um invólucro perfeito, onde estavam trancados todos os meus instintos. Eu me avaliava no espelho do vestiário, ainda no estúdio, tínhamos feito a penúltima apresentação da temporada. Já passava da meia-noite e eu ainda estava com a maquiagem carregada. O collant muito brilhante, o tutu vibrante, tudo realçando uma imagem que alimentava o que os outros gostavam de acreditar. 

    Geralmente, logo após um espetáculo e tudo que envolvia os parabéns, o reconhecimento, fotos e atenção, eu ficava reclusa dentro de mim, em total silêncio. Eu só queria me convencer, como convencia todos os outros, de que era uma pessoa como qualquer outra. Mas o vazio, o nada, sempre deixava-me sentindo um recipiente muito bonito, porém vazio. Vazio de tudo o que realmente importava. Aproximei a minha mão do espelho e contornei o meu rosto. Minha mão ficou ali, contornando cada aspecto que os outros consideravam belo. 

    Quando as pessoas começavam a me enaltecer demais, eu ficava com essa sensação incômoda. Se eu pudesse dizer o que sentia, diria que seria pena. Pena por essas pessoas acreditarem tão cegamente no que os olhos delas diziam. Eu diria para que elas não fossem tão ingênuas, que nem tudo é o que parece. E quando uma mãe traz sua filha, afirmando que a mesma “me ama” e quer ser como eu… tenho vontade de fugir. Tenho vontade de ir para um lugar materialmente tão longe quanto vou em minha mente.

    Com esses pensamentos, simplesmente saí pelos fundos do camarim, escutei alguém me chamar, algum colega da companhia, mas somente fui. Peguei meu sobretudo no caminho e confirmei se minha adaga estava no bolso. Sabia que poderia me render problemas, mas não costumava pensar com clareza quando minha insanidade borbulhava. Pensei em ligar para meu pai, logo desisti. Então, eu saí.

    Saí sem destino, andando pelas ruas de Nova Iorque. Eu sabia que não demoraria muito para que os soldados me encontrassem, contudo, não queria fugir deles. Eu só queria respirar. No fim das contas, quem eu era? Eu não sabia. Eu não tinha a mínima ideia. 

    Se as pessoas olhavam a estranheza que era uma garota andando com o rosto branco devido à maquiagem carregada pelas ruas de Nova Iorque, eu não percebia. Era como se eu estivesse perdendo o controle e precisasse… não sabia exatamente do que precisava. Eu precisava de controle, sempre. Em um beco um pouco mais afastado, entrei e encostei-me à parede de tijolos, recebendo o silêncio e o vazio, fechando os olhos. Precisava me acalmar, desacelerar minha mente. Contei até dez, como Lillian me ensinou, e aos poucos minha respiração, que tinha começado a ficar superficial, se acalmou. 

Unidos Pelo Destino (Pétalas em Sangue 3) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora