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Não se podia dizer que Louis era alguém que se dava bem com relacionamentos, mas que os relacionamentos adoravam Louis era um fato incontestável. Ele se apaixonava muito rápido, e cada novo amor superava o anterior, e então ele sempre usava frases já prontas, onde apenas encaixava os nomes dos supostos atuais namorados: "você não me entende, eu o amo mais que tudo, dessa vez é sério"; "eu nunca senti nada assim antes"; "o que eu sentia pelo x não é nem metade do que eu sinto pelo y". E assim, se fazia acreditar que era sempre uma inacabável paixão.

Mas Stan acabara. E Matty, moreno de cabelos encaracolados do acampamento de verão aos nove anos. E Fred, o entregador de comida chinesa. E Adam, atendente do mercado da esquina. E Connor, o maconheiro que sempre lhe oferecia ervas internacionais de altíssima qualidade. E depois de qualquer uma dessas frustrações, ele simplesmente iniciava o único processo o fazia sentir consolado: sumir. Ele se afastava de todos, todas as vezes, encontrando uma nova forma de mutilar seu psicológico a cada dia.

A aparência marginalmente brusca do prédio afastava qualquer interessado em negociar uma nova hipoteca — o que era a salvação de Louis e o único motivo sobrevivente pelo qual ele não havia sido despejado ainda.

Zayn cumprimentou o velho porteiro, que respondeu com um sorriso desinteressado. Correu pelas escadas rangentes até o quarto andar e se contentou em bater na porta, já que a campainha cujo som ele mal conseguira se recordar estava na lista de coisas-para-serem-consertadas há meses, como boa parte dos utensílios da casa. Do lado de dentro do cômodo, Louis grunhiu.

— Louis?

— Pode entrar. — O fio de voz fraco se arrastava por baixo da fresta da porta.

— O sabor da pizza desse fim de semana era quatro queijos ou portuguesa? Porque se a sua casa estiver cheirando a gorgonzola, eu prefiro manter a comunicação por trás deste magnífico portal de madeira.

— Será que você pode parar de ser babaca? Entra.

— Eu to falando sério, se eu já sou alérgico à queijo, imagina um com fungos graças a sua aptidão admirável de guardar comida até ela ser capaz de se reproduzir e se multiplicar em mil bactérias malignas que planejam dominar todos os cantos da sua casa pra depois engoli-la inteira. Eles já começaram dominando o território a partir do olfato. Qual será o próximo passo?

— Eu não pedi pizza.

Zayn adentrou o apartamento e andou em direção ao amigo, que tomava café da manhã contemplando a montanha de louça que se formava na pia. Beijou o topo da sua cabeça, chamegando seu cabelo sedoso.

— Obrigado por vir... e então? — Louis começou, sem esperar por nenhuma notícia.

— Então? Hoje é seu dia de sorte.

— Eu ganhei na mega sena?

— Melhor.  

— O Stan está do outro lado da porta implorando pra voltar?

— Cala boca. — Zayn lhe beliscou, provocando um grito de dor do amigo, — Isso seria mais azar do que te ver de cueca montado num elefante. Mais uma chance.

— Você virou gay?

— Belas tentativas, meu caro, mas sua sorte hoje ultrapassa barreiras, você acaba de ganhar uma vale-saída comigo. Você tem dez minutos contados no relógio pra terminar esse café horrível e se arrumar.

Louis se virou, revirando os olhos.

— Você não pode me forçar a...

— Sim, eu posso, já que tenho o número da sua mãe e todo o poder de mandar uma mensagem relatando como o filho dela se demitiu do emprego pelo ex namorado e agora vive largado.

Zayn era experiente no jogo e colecionava cartas de chantagem contra Louis na manga. Louis amava sua mãe, eterna e profundamente. Apesar de ser sua melhor amiga, Louis não havia contado nenhuma consequência do término, e desaponta-la tão bruscamente seria algo imperdoável até para si mesmo. Não queria parecer um entulho, um fracassado.

— Minha mãe? Golpe baixo, Zayn... baixíssimo.

— Se você não sai comigo por bem, vai por mal. Seja como for, isso é pelo seu bem. — Zayn observou a tigela de leite com poucos cereais na mesa. — Larga essa nojeira, vamos comer um café da manhã de verdade.

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