Louis calçou suas alpargatas desfiadas e vestiu roupas que estavam jogadas pela casa. Sem evidenciar qualquer expressão humorística além de um vinco em sua testa, dirigiu-se à porta.
— Vamos, senhor-eu-mando-em-tudo?
— Agradeço o apelido charmoso. Infelizmente é necessário se eu quiser continuar tendo um melhor amigo.
Louis bufou. Por pior que fosse a resposta do melhor amigo, sabia que era verdadeira.
Ao chegar no térreo do pequeno edifício, Louis sorriu ao passar pelo porteiro, parara de sair de casa há tanto tempo que sequer lembrava sua feição. As duas quadras pelas quais caminharam foram suficientes para que o condicionamento físico escasso de Louis berrasse de cansaço, e assim, pararam na padaria mais próxima à sua casa.
Apesar de simples, era decorada e caprichosamente enfeitada. Sentaram-se à mesa. Um buquê de margaridas florescidas impossibilitava uma visão perfeita do rosto um do outro.
Um atendende prontamente veio atendê-los.
— Bom dia. — O garoto depositou dois menus sobre a mesa, limitando-se a dar um passo para trás enquanto esperava que os amigos decidissem o pedido.
— Bom dia... eu vou querer um suco de laranja e um croissant. — Zayn disse, ainda com os olhos pousados no cardápio.
— Certo... e o senhor? — O atendente anotou em seu pequeno bloquinho, logo depois direcionando seu olhar para Louis.
— Nada, obrigado. — Louis sequer havia olhado-o nos olhos, mantinha seu olhar fixo em seus dedos, que titubeavam para lá e para cá.
Em segundos, Zayn começou a reclamar da alimentação de Louis e engataram numa discussão infinita. O garçom voltou para seu balcão, envergonhado por atrapalhar a intimidade dos dois.
— Zayn, eu já tomei café da manhã. Dá pra entender? Vou ter que desenhar?
— Louis, um miolo de pão da semana passada e um café gelado não são café da manhã. Eu milagrosamente te tirei daquele apartamento para que você pudesse comer de forma decente.
— É. Mas eu não sou um gênio pra você ter direito à três pedido. Já saí de casa. Pedir que eu coma já é demais.
O funcionário voltou, deixando o pedido de Zayn na mesa e delicadamente colocando um pão recheado com requeijão, um muffin e um achocolatado morno na frente de Louis.
— Isso deve ser de outra mesa, eu não pedi nada disso... — Louis divagou, pegando o prato e a xícara e entregando ao garçom.
Pousou pela primeira vez os olhos no menino cujo contato visual até então havia sido zero. Em segundos, Louis fez uma análise de todas as suas características, anotando-as mentalmente: seu corpo parecia espichado demais para sua provável idade. Apesar de muito alto, a cara de bebê ainda denunciava esse contraste. Suas mãos eram longas e seus ossos formavam um auto-relevo. Seu cabelo era coberto por cachos perfeitamente moldados, como um babyliss natural. Seus lábios eram finos e exuberantemente rosados. Por fim, observou que seu avental estava repleto de farinha.
— Essa é minha primeira semana como padeiro aqui e essa foi minha primeira tentativa de um café da manhã. Sei que não é nada muito elaborado mas... fica por conta da casa.
Louis olhou o único detalhe que havia passado despercebido em toda a sua análise: a pequena placa com seu nome. Harry. As bochechas do atendente queimavam como em um incêndio e certamente gostaria de ser engolido pelos seus próprios cachos.
— Hmm. Obrigado... Harry. — Louis agradeceu, deixando de ser ranzinza para finalmente se alimentar.
Harry saiu, voltando para trás do balcão. Um sorriso tomou conta do semblante de Zayn. Entre algumas mordidas, Louis disse, desconfiado:
— Você pagou ele pra isso? Você sabe que eu me comovo.
— Não. Mas devia... isso foi bem inteligente.
— Zayn. Fala sério. Ele acertou meu café da manhã favorito, tá tudo bem se você tiver contratado ele mas só me fal...
— Eu te juro que não paguei. Destino, Louis. Destino.
Louis franziu. Terminaram de comer e pela primeira vez em meses ele se sentiu fisicamente bem.
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Muffins
أدب الهواةInternado em um quarto há meses, Louis havia largado o emprego e se afastado de todas as almas vivas que conhecera após seu último término. Seu melhor amigo, Zayn, faz de tudo para que ele reencontre um novo amor, ou, ao menos, uma companhia.