Tinha terminado de trocar de roupa e estava dando mais uma geral no quarto quando ouvi um barulho no corredor.
Fiquei tensa achando que pudesse ser outro invasor. Todo o nervosismo do que havia acontecido horas antes voltou ao meu corpo me fazendo querer me esconder. Mas eu não podia largar Brahms sozinho. Ele havia me protegido, não posso deixá-lo lutando sem ajuda.
Coloquei meu corpo para fora do quarto, com o maior esforço diga-se de passagem, mas tudo parecia em ordem.
Estava pronta para voltar quando ouvi um choramingo vindo do banheiro. Me aproximei da porta e mais um choramingo.
- Brahms? Tudo bem? Vou entrar.
Brahms estava de costas para a porta, sentado no chão do boxe. A água continuava caindo e ele ficava cada vez mais molhado. Ele me olhou com o cabelo úmido caindo sobre o rosto e meu coração deu um solavanco.
- Eu caí. – parecia uma piada de mau gosto aquela voz de criança num homem daquele.
- Tem que ter cuidado, Brahms. – me aproximei pra ajudar ele a se levantar e não sabia o que fazer com um Brahms todo molhado e sem roupa na minha frente.
- Pronto, Brahms. Se limpe direito, ok? – me virei para deixá-lo sozinho e senti sua mão segurando firme meu braço. Senti o calor de sua aproximação atrás de mim e um arrepio percorreu todo o meu corpo.
- Me ajuda com o banho.
(...)
- Brahms . . .
- Por favor, Greta.
Eu meio que quis morrer com aquele pedido.
Me virei e Brahms olhava fundo nos meus olhos. Eu não consegui dizer não.
- Me passa a esponja com sabão, então.
Peguei a esponja e comecei a esfregar seu peito e seu pescoço. Meu corpo todo tremia e eu rezava para que Brahms não notasse, se não ele começaria a fazer perguntas que eu não queria responder.
Desci para seu abdômen e aquela visão ensaboada fez minhas pernas bambearem. Evitei olhar mais embaixo e subi de volta aos ombros.
- A parte de baixo você mesmo limpa. – ele acenou com a cabeça e continuei por toda a extensão dos seus braços.
A parte mais difícil foi as mãos. O sangue seco se misturou com a terra e parecia quase impossível de limpar aquilo.
- Deixa eu limpar agora. – Brahms pegou a esponja da minha mão e começou a lavar suas pernas. Depois subiu para o meio delas e eu não conseguia parar de olhar. Percebi um leve gemido vindo dele e desviei meus olhos. Tenho certeza que estava vermelha.
- Pronto.
Me voltei para Brahms e fui em busca do shampoo. Fiquei de frente para o maior e comecei a ensaboar o cabelo comprido.
O shampoo tinha um cheiro bom de morango e eu me permiti fechar os olhos para aproveitar o aroma.
Brahms estava tão quieto que eu quase me esqueci dele ali. Mas isso acabou quando senti o toque da sua boca na minha.
Eu não queria abrir os olhos. Não queria me afastar. Só queria aproveitar aquele momento com cheiro de morango.
(...)
- Você pode dormir aqui hoje, se quiser, Brahms. Eu me sentiria melhor, na verdade. – ele apenas acenou com a cabeça e se deitou na cama. Terminei de arrumar as cobertas e me deitei de costas para ele. Eu havia gostado do beijo selado, mas estava um pouco envergonhada com a situação. – Por que você fez aquilo, Brahms?
- Você tava bonita. Eu senti vontade de fazer. Você não gostou?
Eu não devia ter perguntado.
- Gostei, Brahms.
- Eu posso fazer de novo?
Eu queria morrer, outra vez.
- Pode, mas agora vamos dormir, Brahms. Boa noite.
Brahms se aproximou e me abraçou por trás num encaixe perfeito.
- Boa noite, linda Greta.
Fiquei um tempo tentando ajeitar meus pensamentos. Mas quanto mais eu tentava, pior ficava.
Comecei a me concentrar na respiração leve de Brahms na minha nuca. E embora aquilo tivesse um efeito bem diferente, no geral, me ajudou a relaxar. Ele me apertava forte num abraço quente, como se quisesse me proteger mesmo dormindo.
Eu me senti segura.
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A Herança Heelshire
FanfictionMinha família se foi em um grande incêndio anos atrás junto de quase toda a mobília da mansão Heelshire. (...) Ou eu cuido do que é meu, de uma vez por todas. Ou eu perco o que restou de meus pais.