"Abismo"

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Eu estava quebrado.

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Sexta-Feira, 26 de março - Dois anos depois da guerra contra Thanos

Sim, Tony Stark possui sentimentos, por mais que isso não pareça possível.

Já se passou dois anos desde o dia em que vi minhas duas pessoas mais queridas morrerem. Me lembro como se fosse ontem da minha filha Morgan dizendo: "Eu te amo mil milhões".
Me recordo constantemente da minha esposa Pepper, ela era uma pessoa incrível.

Mas era isso que Thanos fazia, tirava as pessoas que representam seu ponto vulnerável, e depois disso, você fica fraco, esperando que a morte te acolha como um amigo.

Mas eu estaria morto agora, se não fosse por Stephen Strange.

Na exata hora que Thanos estalou seus dedos com a manopla que iria dizimar o planeta Terra inteiro, eu fechei os olhos, permaneci no mesmo lugar aguardando virar pó, mas isso não aconteceu.

Abri os olhos de novo, e o que vi foi inacreditável: Strange havia usado suas últimas fontes de energia para pegar a manopla e colocá-la na própria mão. E, obviamente, eu entendi o que ele pretendia fazer ao mesmo tempo que queria impedi-lo.

Pra alguns pode ter sido um ato de coragem ter reunido forças para vencer Thanos nos quarenta e cinco do segundo tempo, mas para mim, quando ouvi o estalo vindo da mão de Strange ao invés de Thanos, isso só me fez querer gritar em agonia.

Não que eu gostasse de fato daquele mago arrogante, afinal, nós discutíamos o tempo todo. O fato é que aquilo já havia sido demais, Thanos tirou muito de todos os presentes na guerra, inclusive de mim.

Ultimamente tenho recebido bastante apoio da minha melhor amiga Natasha, todos os dias depois do trabalho ela passa aqui em casa para me animar um pouco, apesar de não devolver o bom humor que eu costumava ter antes da Guerra Ultimato acontecer. É, esse foi o nome escolhido pela mídia, pessoalmente eu prefiro chamar de inferno.

Estava de noite, por volta das nove horas, acabo de sair do banho. Visto apenas uma calça de pijama vermelha e me deito na enorme cama.

Respiro fundo e fecho os olhos.

Eu nunca pensei que seria tão dependente de amor como sou agora, quer dizer, eu sou Tony Stark, antigamente conhecido como "Gênio Solitário" pelos paparazzi, mas depois que perdi Pepper e Morgan, uma parte de mim foi junto.

A terapia não funcionava, remédios não tiravam a angústia que eu sentia no coração, nada que eu tentasse me fazia melhorar, ou ao menos sorrir.

Me perco nos pensamentos, ainda de olhos fechados. Penso na risada de Morgan, nos abraços de Pepper, e em Stephen Strange.

Espera, o que? Eu acabei de pensar naquele egocêntrico?

Abro os olhos fazendo uma expressão confusa, e me sento na cama olhando para o nada. Talvez fosse sono.

Acabo por tomar meus remédios antidepressivos e capotar na cama, eles costumam me dar sono.

Naquela noite, meu sonho foi nada mais nada menos do que inesperado.

Eu estava deitado num chão branco, parecia ocupar uma sala grande e vazia, com paredes e o teto também inteiramente brancos. Era um pouco fria. De repente, sinto um toque em minha mão, com o susto, fico sentado e estranho o fato de não ter ninguém naquela sala além de mim.

Sinto novamente o mesmo toque, dessa vez nos dois pulsos.

Mas que merda era aquela?

Sábado, 27 de março - De manhã

Acordo sem vontade alguma de levantar, mas era necessário se eu não quisesse morrer de fome.

Me levanto e coloco meu hobbie de cetim vinho, me dirijo até o armário do banheiro que ficava atrás do espelho, pego meus remédios matinais e fecho, logo paro para olhar meu reflexo.

Nunca pensei que chegaria a esse ponto.

Olhos inchados e roxos, expressão morta...

Eu estava a depressão em pessoa.

Tomo os remédios e vou até cozinha preparar algo, mas aparentemente não era necessário. Chegando lá, sinto um cheiro deslumbrante de ovos com bacon, o típico café da manhã americano.

Era ela, minha amiga. Ela estava no fogão preparando tudo. Natasha sempre fazia isso, cuidava de mim como se fosse alguma espécie de mãe/melhor amiga, e eu não vou mentir, gostava disso, de saber que alguém ainda se importava comigo, porque ultimamente nem eu mesmo o faço.

Me aproximo e puxo a cadeira.

- Quero suco de laranja, Srta. Romanoff.

Ela se vira e sorri para mim de forma brincalhona.

- Como quiser, Sr. Stark.

Natasha serve a mim e a ela, logo se sentando na mesa para comermos juntos.

- E então, Tony? Você dormiu bem? Teve algum problema?

Como sempre, preocupada comigo.

- Os remédios ajudaram um pouco.

Digo me lembrando do sonho que tive na noite anterior. De certa forma, foi esquisito, nunca havia sonhado com nada parecido, mas considerando que minha mente estava literalmente fodida... talvez não seja ruim ter sonhos diferenciados, apesar de peculiares.

Nat parece perceber meu semblante.

- Tony, diga a verdade... aconteceu alguma coisa ontem a noite? Desculpe, eu fico muito preocupada com você nesse estado.

Olho pra ela e me forço a sorrir de maneira cansada, apenas para deixá-la despreocupada com relação ao meu estado mental.

- Natasha, está tudo bem, é sério.

Percebo seu olhar fixo em mim, como se estivesse duvidando da minha resposta.

- Você precisa voltar a ver algum psicólogo urgente! Ninguém merece ficar mal desse jeito, Tony.

- Sabe que tentei por um ano e meio, de nada adiantou. Olha, veja pelo lado bom, ao menos estou tomando os remédios.

Ela abaixa os olhos, encarando a jarra de suco.

Tenho que deixar ela confortável, não suportaria perder a minha última pessoa, não, nem fodendo.

- Nat, obrigado por tudo, eu amo você.

Ela volta a olhar para mim e sorri. Que alivio.

- Você é meu melhor amigo, Tony. Eu também amo você.

Uns minutos de conversa se passam e Natasha tivera que ir embora por conta do trabalho. Havia prometido a mim mesmo de não comentar nada a respeito do sonho que tive, considerando que se fosse tão importante ele se repetiria no meu próximo sono, certo?

Resolvo passar meu fim de semana fazendo exatamente porra nenhuma.

𝕀 𝔽𝕠𝕦𝕟𝕕 𝕐𝕠𝕦 - 𝕀𝕣𝕠𝕟𝕤𝕥𝕣𝕒𝕟𝕘𝕖Onde histórias criam vida. Descubra agora