Era um dia de Inverno, mas não um dia de Inverno comum. Estava sol, estava calor, estava um dia bonito para se sair à rua. Tudo menos um dia típico de Fevereiro.
Tendo em conta que as suas férias de Carnaval tinham sido passadas em casa, com uma gripe dos diabos, Anabelle não estava nada feliz. Contudo, o sol brilhante que trespassava o vidro da janela da sala fazia com que se sentisse melhor.
A vida de Anabelle estava complicada, cheia de trapalhadas, e ela sinceramente não sabia o que fazer.
Estas trapalhadas eram geralmente causadas pela própria Anabelle. Mas neste caso ela não tinha tido culpa em nada.
No Verão do ano passado, Anabelle apaixonara-se. E, de acordo com ela, não era uma daquelas meras paixonetas que têm os adolescentes. Era uma paixão que a consumia, que a prendia, que lhe tirava o fôlego de pensar nele. E a verdade é que Artur tinha um efeito muito sedutor nas meninas. Ficavam todas completamente apanhadas. Ele era inegávelmente atraente, e bastante musculado. Não aquele tipo de rapaz que tem uns abdominais da treta e se acha. Quer dizer, ele achava-se de facto, mas tinha motivos para isso. Não tinha abdominais, tinha uma barriga bastante fofa mas trabalhada. Quando falo em músculos, eram os bíceps. Pareciam pedra. Eram a perdição de Anabelle. Ele tinha também uma incrível força de braços, e passava a vida a agarrar Anabelle ao colo, como os noivos agarram as noivas quando saem da igreja, pondo as duas mãos debaixo das pernas dela, e ela pondo um braço atrás do seu pescoço. Ela fingia detestar quando ele a agarrava assim, mas a verdade é que adorava. Era das coisas que mais gostava, e derretia-se completamente naqueles minutos em que ele a agarrava. No inicio do Verão, ela apenas conhecia Artur de vista, pois andavam na mesma escola. Ela passara para o nono ano, e ele para o décimo, o que queria dizer que no ano letivo seguinte ele teria que mudar de escola, pois a escola da vila onde viviam não tinha secundário. Mas Anabelle nunca encarara isso como um problema. Artur era muito amigo dos rapazes da turma dela, e foi essa a razão de se terem começado a dar naquela Verão. Antes de o conhecer bem, Anabelle achava-o apenas um arrogante, convencido e incrivelmente bonito drogado. Bem, talvez seja um exagero dizer drogado. Ele fumava umas ganzas, numa tentativa de parecer fixe. Coisa que, incrivelmente resultava. Tinha a fama de comer muitas gajas, e de ter muita experiência com raparigas. Nunca na vida se pensaria que uma rapariga doce e ingénua como Anabelle fosse tornar-se uma grande amiga, e mais tarde apaixonada de Artur. Mas o facto é que foi.