"Senhor, tem misericórdia de nós, por ti temos esperado; sê tu o nosso braço cada manhã, como também a nossa salvação no tempo da tribulação" Isaías 33:2
O choro manhoso de Maitê chega até mim e tenho que enxugar minhas próprias lágrimas para ir conforta-la.
— Hey, pequena.— pego a bolotinha em meus braços e instantaneamente ela para de chorar ao abraçar meu pescoço. Estico meus braços e afasto a pequena para que possamos ter uma conversa de meninas. — Sua malandrinha. Já te falei que não precisa abrir o berreiro, num falei? Dê somente um leve gritinho que irei saber que você esta acordada e então te tiro desta prisão, ta bom?
Digo em tom sério e ela da risada, esticando as mãozinhas para tentar tocar meu rosto.
— Tá mom. — sorrio. Se colocarmos o "ta bom" no fim da frase, ela sempre repete do seu jeitinho e se eu não a conhecesse saberia que ela esta falando com muita seriedade e que concordou em fazer o que pedi.
— Hum— a encaro de canto de olho e ela finge fechar os olhos, um sorriso enfeitando seu lindo rosto.
Depois de trocar a fralda da minha menina a levo em direção a cozinha. Coloco Maitê sentada e vou preparar seu café da manhã que hoje será apenas o seu amado mingau.
Ao abrir a geladeira para pegar a mamadeira meus olhos fixam em um bilhete de Luci que está apregado aqui há mais de um mês.
"Mari, cê pode comprar fraldas para Maitê? O dinheiro está no potinho de moedas dela."
Após despejar a gosminha de multi cerais na Mamadeira fico encarando o recipiente, me recordando da ultima vontade de sua mãe. Que era tirar a mamadeira da pequena, olho para o copo de plastico e Maitê segue meu olhar.
— Mamadeia, titi.
Dou risada quando a pequena fixa os grandes olhos verdes no recipiente e faz uma caretinha fofa.
— A titia não vai desistir facilmente, mas outro dia tentaremos com o copinho, ta bom?
Encaro a bebê que parece me desafiar com os olhos, o que é impossível, porque ela só tem 2 anos. Ou talvez, não seja, a mãe dela é uma rebelde...
Era.
— Titi, caiê mamãe?
Faz um mês que nossa Luci se foi e ao menos 5 vezes no dia, ela faz a mesma pergunta e em todas elas sou pega desprevenida e a única coisa que quero fazer é fechar meu olhos bem forte e chorar. No entanto, não posso fazer isso...
— Ela virou estrelinha, amor. Lembra que a titia falou que ela e seu papai estão morando no céu agora?
Maitê balança a cabeça e sai da minha perna para ir ate a porta da cozinha. Observo ela olha para o céu que esta limpo hoje e então voltar pra mim com os olhos cheios de lagrimas.
— Éia foi embola, titia. No tein itelinha. — engulo em seco.
— É que ela esta dormindo agora. Mas tarde ela acorda e ai você pode olhar muitão pra ela.
A pequena corre pra porta novamente e grita:
— Acoidaaaaa, mamãe. Mamãe, acoida.
Meu Deus.
Engulo o soluço e me apresso pra beber agua ao som dos gritos da pequena.
Estou fazendo o almoço quando começam a socar a porta e corro para abri-la antes que o barulho acorde Maitê. Encaro os três homens maus encarados a minha frente e tento puxar na memória se os conheço de algum lugar. Me parecem familiar, porém não recordo de onde, o que me faz imaginar se são pessoas vindas direto do meu passado que esqueci.
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Por você, Maitê
RomanceMarineide(Mari para os íntimos e os não íntimos) perde a memória e consequentemente uma pequena e muito preciosa parte de sua vida, no entanto, ela não se preocupa com isso. Até porque ela tem coisas mais importantes para se preocupar no momento, co...