Após mais ou menos três horas que os malvados bateram a minha porta estou mais calma, porém, ainda com resquícios de desespero. Isso faz sentido?Levo as mãos ao peito como se isso fosse acalmar o meu coração e respiro fundo, não funciona, porque logo o pensamento em looping parece ganhar proporções ainda maiores.
Deus, onde eu conseguirei tanto dinheiro?
O toque de chamada do meu celular ecoa pela sala e corro para silenciar, mesmo sabendo que em poucos minutos Maitê irá acordar. Ela nunca dorme mais do que três horas.
Minha mente só registrar o refrão do toque quando já é tarde demais e a chamada já foi silenciada."Seja forte e corajoso. Eu sou teu Deus..."
Respiro fundo e fico repetindo mentalmente a frase por vários minutos, quando novamente o toque ecoa. Dessa vez atendo.
— Marineide, não precisa vim hoje no mercado. Tenho seus dados bancários, passarei o dinheiro dos dias que trabalhaste. — a voz velha parece fazer um eco macabro em minha mente.
— O quê? Senhor Daniel...
— Sinto muito. Na verdade, não precisa nem mais pisar aqui, ta bom?
Desliga.
Sente muito...
Continuo afundada no sofá não acreditando que essas coisas estão realmente acontecendo comigo. Meu celular logo começa a tocar novamente e atendo esperando pelo próximo baque. Porque nesse momento a única certeza que tenho é que a lei de Murphy com certeza funciona.
"Nada é tão ruim que não possa piorar."
— Oi, Marcia. Tudo bem? — tô no perrengue, mas não custa nada ser cordial.
— Sim, Mari. Eu... — ouço no fundo Laurinha soltando "não faz isso, mãe." — Cala a boca, Laura. Sinto muito, mas minha filha não vai mais poder mais olhar Maitê.
Depois a menina esta mandando os outros calarem a boca e vai dizer que não sabe com quem ela aprendeu.
Abro e fecho a boca sem saber o que dizer e por fim só sai um:
— Tudo bem.
Desliga.
Como já disse minha cidade só tem uns 10 mil habitantes, ela parece um ovo de tão pequena. Se um desavergonhado quiser sai pelado na rua às 23:00 horas ninguém vai ver, porque estão todos dormindo. Mas se um capanga do maior agiota do maranhão bater na porta de uma viúva de irmã safada, todos veem e já...
— E já começam a julgar!
Termino meu pensamento em voz alta, pois tamanha é a indignação que estou sentindo. No automático vou para meu quarto e encontro Maitê brincando com os pezinhos em seu berço. Raramente ela acorda e fica quietinha, acho ótimo não levar um susto com o seu choro, mas confesso ficar preocupada quando ela não emite nenhum som. Porque assim ela pode acordar sossegada em seu silencio e aprontar todas (leia-se: machucar-se com algo).
Sim, eu sou bem paranoica quando se trata dela.
— Oi.— é impressionante o poder que os incríveis olhos verdes de minha pequena tem sobre mim. Meu coração é inundado com tanto amor que não tem espaço para angustia, apenas calmaria e um grande senso de responsabilidade. — Tu é uma bruxinha?
Brinco e ganho um sorriso banguela.
— Certo, vamos: banhar, comer e depois pensar no pepino que seus pais deixaram pra gente. — olha atenta e pisco. — Isso ai, nessa ordem. Se vamos queimar neurônios com problemas que seja limpinhas e de barrigas cheias, né?
O gritinho que recebo interpreto como sim e então me apresso para preparar nosso banho.
🍼❤️
Como o planejado, estamos em nossa cama, porque ainda não consigo deixar ela dormir a noite sozinha no berço. Eu deitada, encostada na cabeceira da cama, pernas dobradas e os pés apoiados no colchão para apoiar a folgada da minha bebê.
— Precisamos pensar em algo... — beijos as pequenas mãozinhas. — Não posso perder essa casa, ela é herança dos seus avós.
Aperto os olhos e engulo o bolo que se formou em minha garganta; pois, sou uma mulher forte e não irei chorar. Olho para o teto e encaro as madeiras, as telhas um poucos já desgastadas.
Volto meus olhos para a pequena com uma ideia já se formando.
Talvez se eu conseguir vender...
Droga, não vai da certo. Povo dessa cidade são tudo canguino. O máximo que vão querer pagar na casa é uns 30 mil e olhe lá.
— Canguinos!— bufo e Maitê da risada do som. Sorrio, os olhos enchendo de lagrimas. — Talvez na cidade grande eu consiga um comprador o que acha?
A bebê começa a se agitar assustada com o meu tom desesperado , respiro fundo. Não da certo para me acalmar, respiro novamente, continua não dando certo, pelo contrario parece trazer um peso ainda maior ao meu coração. Maitê começa a fazer barulhinhos manhosos atraindo minha atenção e somente quando fixo meu olhar no rostinho da bebê inocente é que me acalmo e uma certeza ainda mais forte do que a desagradável lei de Murphy se faz presente em meu coração.
Por você, e somente por você eu serei forte.
Penso com toda a convicção que ainda me resta ao enxugar uma lagrima e abrir um sorriso para acalmar minha pequena Maitê.
"Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito." ROMANOS 8:28
Já ouviram falar que Deus também trabalha por meio da dor?
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Por você, Maitê
RomanceMarineide(Mari para os íntimos e os não íntimos) perde a memória e consequentemente uma pequena e muito preciosa parte de sua vida, no entanto, ela não se preocupa com isso. Até porque ela tem coisas mais importantes para se preocupar no momento, co...