𝐩𝐫𝐨𝐥𝐨𝐠𝐮𝐞.

146 10 3
                                    

O homem engravatado estava concentrado na pequena bagunça de papéis em sua mesa enquanto a garota loira á sua frente balançava a caneta entre os dedos, como se estivesse brincando com o objeto. Pelas suas contas, aquela já era a terceira vez só naquele mês que a mesma estava presente naquela sala. Bullying com os colegas de classe, constantes reclamação dos professores pelo mal comportamento, destratar os funcionários... a lista era extensa.

No período de quinze minutos, Romanoff já havia checado o esmalte de suas unhas cerca de três vezes e ajeitado todos os fios devidamente cuidados com os produtos mais caros ​​enquanto observava o diretor da escola. Dessa vez, a presença de seus pais havia sido solicitada e, lá no fundo, ela duvidava que eles apareceriam.

Ivan Petrovich é um advogado criminalista e dono de um dos maiores - se não o maior - escritório de advocacia do país, adquirindo reconhecimento defendendo - e ganhando - casos famosos que obtinham cobertura jornalística, portanto, sendo citado pela mídia frequentemente. Era definitivamente louvável nesse quesito. Já Abigail Romanoff havia se formado com excelência em Harvard e agora atuava como cirurgiã cardiovascular, sendo um dos grandes nomes da medicina norte-americana. Ou seja, apenas mais um casal que, aparentemente, tinha a vida profissional perfeita, eles só não esperavam ter que lidar com o comportamento irregular da própria filha que estava prestes a se formar no ensino médio da melhor escola dos Estados Unidos.

Natasha carregava um semblante despreocupado. Observava a decoração apavorante e pensando em como um dia ali com seu arquiteto pessoal resolveria todos os problemas estéticos que aquele ambiente tinha. Quem em sã consciência usaria aquele tipo de carpete com aquele tom de papel de parede? Fala sério.

Foi tirada do transe quando uma breve batida na porta, que a fez arrumar a postura na poltrona no mesmo instante. O casal entrou e não carregava uma cara nada boa, pelo contrário, o mais velho parecia estressado enquanto a mulher loira, talvez em estado de aceitação pela filha, não parecia tão surpresa com a solicitação da sua presença na sala do diretor da escola.

— Boa tarde, Diretor Sutton - o advogado foi o primeiro a se pronunciar.

— Dr. Petrovich, antes de tudo gostaria de dizer que eu tenho do quanto o senhor é ocupado, no entanto, temo que sua presença seja realmente necessária dessa vez ...

— Claro que sim, caso contrário o senhor não me ligaria no meio de uma reunião de extrema importância por conta de mais uma brincadeira de mau gosto da minha filha - ele o interrompe enquanto Natasha revira os olhos disfarçadamente.

— Bom, não é a primeira vez que a senhorita Romanoff está envolvida em confusão, porém dessa vez foi mais sério. Essa instituição não compactua com nenhuma falta de respeito para com os alunos e muito menos os funcionários. No entanto, sua filha achou interessantes tarrachas de colar na cadeira da Senhorita Eastlake, professora de Biologia, atentando contra uma saúde física da mesma.

— Foi só uma brincad...

— Natasha! - foi repreendida pelo pai de forma firme e quando o encarou, seu olhar duro a fez encolher-se levemente na poltrona em que estava.

— Continuando, apesar das notas excepcionais da sua filha, o comportamento dela não está de acordo com o que pregamos nessa escola e, como eu disse, não é a primeira vez que os eventos desse feitio acontecem, ela está suspensa pelo resto da semana.

— O quê? Mas é a última semana de aula - argumenta em tom de indignação.

— Exato, Senhorita Romanoff. Temo que a detenção já não seja mais suficiente. E mais, indico que seus pais tomam alguma providência quanto ao seu comportamento, afinal, com essa conduta em sala de aula, pode não ser aceita na faculdade que deseja.

De repente, Natasha sente seu estômago revirar com uma possibilidade citada pelo diretor. Isso era totalmente inaceitável levando em conta que Natasha era filha de quem era. Não é aceito em Yale, faculdade em que desejava se formar em advogada como seu pai, não era uma opção. Ela sabia que não. Nem que seu pai tenha que subornar até o cargo mais alto da faculdade, da mesma forma que fez em relação ao histórico escolar da filha. O mundo era movido por dinheiro e poder e, bom, uma família Petrovich possuía os dois.

— O senhor pode ficar tranquilo que eu e meu marido sabemos muito bem como educar a nossa filha. Já podemos ir ou o senhor tem mais alguma recomendação? - a mulher loira se pronunciou pela primeira vez com a voz carregada de ironia, que fez tanto o major da escola quanto a filha do casal engolirem o seco.

— Não duvido, Senhora Romanoff. Preciso que os senhores assinem aqui e, novamente, é um prazer tê-los em nossa escola e eu sinto muito por qualquer inconveniente.

O casal apenas concorda antes de assinar os documentos de suspensão. Natasha respirou fundo algumas vezes antes de segui-los até o carro luxuoso parado no estacionamento, onde entrou na parte traseira, pronta para escutar os sermões.

Porém, eles não vieram.

Os dois seguiram calados pelo resto do trajeto até a mansão em que moravam. E quando chegou nela, Natasha emanava um misto de alívio e felicidade por ter se livrado mais uma vez, até escutar a voz de seu pai num tom tom tom sério e rígido.

— O celular - ele aponta, indicando o aparelho eletrônico nas mãos da filha, que o encara desentendida.

— Espera ai, o quê?

— É exatamente isso o que você ouviu! Eu não acredito que você me tirou de uma reunião de trabalho importante por conta de mais uma reclamação de mau comportamento. Essa já é o que? A terceira só esse mês? Será que você não vai crescer nunca? - ele falava com uma voz alterada como Natasha nunca tinha presenciado antes.

— Por que fez isso Natasha? Sabe o problema maior que poderia ter causado?

— Eu estou decepcionado com você, Natasha. O tanto que eu e sua mãe batalhamos para te educar e é isso que recebemos em troca? Reclamações e mais reclamações acerca do seu comportamento?

— Mas...

— Sem mas! - ele a interrompeu, assustando-a. Era a primeira vez que falava com Natasha fragrância - quer saber? Eu estava considerando a idéia de te mandar para Huntington, mas com isso está decidido. Você vai passar o verão trabalhando na casa do seu avô?

— O quê? Você não pode fazer isso comigo!

— Ah, eu posso! E é a última chance de você mudar e se redimir de uma vez por todas. Caso contrário, vai ficar sem seu carro pelo resto dos seus anos na faculdade e eu me recuso continuar a bancar seus luxos. Terá que conseguir um trabalho e se sustentar sozinha, está me ouvindo? Você não é mais uma criança, Natasha, então pare de agir como tal! Eu e sua mãe não temos tempo e muito menos paciência para lidar com suas infantilidades!

A garota subiu as escadas em direção ao seu quarto sem argumentar com seu pai - porque sabia que era uma causa perdida - mas a tempo de ouvir a discussão eminente que se formou entre os dois quando a mesma se retirou. Aquilo havia tornado proporções maiores do que imaginava. Ir para Huntington? Não havia estado lá desde o natal do ano em que completou sete anos. Fazia muitos anos, dez para ser mais precisa.

Costumava gostar de passar as férias na pequena cidade litôranea, no entanto, após a morte de sua avó, tudo mudou. O homem que antes era doce e gentil com todos a sua volta, se tornara rabugento e mal humorado. E conforme Natasha fora crescendo, seu interesse em viajar para um lugar onde sequer havia sinal de internet, as pessoas só sabiam viver de praia e surf e ainda ter que lidar com seu avô velho e cada vez mais ultrapassado não era algo que lhe despertava tanta animação quanto antes.

Sua vida não poderia estar pior.

SUMMER LOVE | buckynatOnde histórias criam vida. Descubra agora