Todos temiam aquela floresta, um lugar obscuro e tenebroso, onde tudo era regido por uma única lei.
Ou você é a caça, ou o caçador.
A competição pela sobrevivência, era fundada sobre o princípio da fera mais forte. Predador dominante.
Uma terra mergulhada em lendas e contos de finais abomináveis. Tal qual tinha tantos segredos e mistérios que nunca foram desvendados em centenas de séculos e inúmeras gerações. Muitos diziam que era amaldiçoada, que muitos homens após adentrarem por entre aqueles bosques sombrios nunca mais eram vistos. E os miseráveis que saiam de lá vivos, nunca mais eram os mesmos.
Diziam, que era o lar de criaturas malignas. Bestas horrendas e sem consciência, que não pensariam duas vezes antes de atacar ferozmente qualquer infeliz desavisado que cruzassem o seu caminho, seres capazes de partir um homem ao meio, dilacerando seus ossos e tripas com somente uma mordida selvagem.
Todos.
Todos, exceto o demônio vermelho.
Algumas pessoas acreditavam que ele era uma lenda, assim como os infindos contos da floresta.
Os rumores contados pelo povoado que habitava o lado Sul da floresta, - onde ela se encontrava menos densa, separada por montanhas íngremes - supunham que ele era filho de uma família de bruxas, e que o garoto enfeitiçava caçadores indefesos com seu cheiro doce de ômega para depois mata-los com uma flecha no coração e beber do seu sangue. Um demônio.
Tolos. Era o que Jimin pensava.
Pessoas tendem a temer aquilo que não tem domínio e controle, temem o desconhecido, o abominam como uma aberração maldita. Repudiam tudo o que se encontra acima de sua compreensão ignorante e limitada. Se exaltam como os próprios deuses, e tudo aquilo de ameaça seu posto deve ser aniquilado e destruído.
Porém o lado Norte da floreta era indomável, e foi ela que os acolheu, ele e sua família. Aquela era sua casa, o ômega conhecia aquelas terras como a palma da própria mão, ele cresceu sendo polido a se torna um só com vento, a camuflasse com os bosques. Era esse o maior ensinamento de seu falecido progenitor. Incluir-se ao ciclo.
A sua caça não se tratava de tentar dominar a floresta e usurpar de seus recursos, mas sim respeitar seu domínio que estava acima da compreensão do homem e abraçar de forma cativa seu posicionamento.
Era ele a colocar comida na mesa, afinal sua mãe ômega tinha uma doença a qual a impossibilitava de fazer muito esforço físico, precisava de repouso constante, a medicina remota e precária não tinha conhecimento do que se tratava, e sua querida irmãzinha beta era muito nova para ajudá-lo, além de que alguém precisava ficar na pequena cabana no caso de alguma coisa acontecer com a mulher de saúde frágil.
E uma vez que o ômega não tinha medo das histórias de o povoado contava, acreditava que eram contos para crianças não desobedecerem seus pais ao se afastarem em direção a floresta densa, até porque o mesmo cresceu por entre aquelas árvores e nunca viu nem mesmo o rastro de nenhuma dessas feras tão temidas e horrendas.
E mesmo que aparecessem, ele era um Park, o filho de um dos maiores caçadores que já tinham pisado naquelas terras, não temia criatura alguma. Antes de seu falecido pai partir por conta de uma doença no coração, ensinou a Jimin tudo que precisava para honrar o seu legado, ele nunca precisaria de um alfa pra manter sua família ou fornecer comida de caça. Customizava as próprias flechas e manuseava o arco como se fossem uma extensão do próprio corpo, sua mira era certeira e fatal.
Mas diferente de muitos, o Park não caçava por divertimento e sim porque precisava, sua família dependia dele, e eles precisavam aquilo para sobreviver.
E ele precisava protege-la. Não dos animais selvagens ou feras mas sim de homens que queriam suas cabeças.
O alfa ou beta que findasse a vida de qualquer Park seria recepcionado por entre as pessoas que moravam no miserável povoado do Sul como um herói por executar uma das aberrações que habitam as profundezas da floresta do Norte. Sua família nunca fez mal a ninguém. Mas o caçador arqueiro não hesitaria nem por um segundo em matar qualquer um que ameaçasse aqueles a quem ama.
Se esse era o preço a pagar por se dedicar a cuidar de sua mãe e irmã, ele estava disposto a pagar. Se tornaria um verdadeiro demônio trajado de vermelho rubro, a última cor que seus inimigos iriam ver. A cor do sangue, a cor em nuances do conflito eterno; amor e ódio.
Esgueirando-se em meio os arbustos, silencioso como um felino, ele segurava a flecha firme com os dedos delicados e curtos junto a bochecha, os olhos rasgados de íris em um verde profundo acompanhavam sua atual presa.
Seu corpo pequeno era coberto por uma capa em um tom vermelho escuro. Um rubro intenso, herdado de seu pai assim como a arma em suas mãos. Os fios dourados cobertos pelo capuz da peça, possibilitava uma camuflagem discreta.
A respiração compassada era controlada para não que prejudicasse a mira, quase podia sentir como se seu coração também decidisse bater de forma leve, em um acordo silencioso com seu corpo. O olfato e audição em sintonia com tudo a sua volta. Ele era um arma viva.
Distraído e alheio ao período tão próximo uma corça macho adulto, se alimentava de pequenos graminhos, a poucos metros de distância de onde o ômega tinha sua flecha posicionada, já estava a um tempo naquela posição, sem contar o período que tinha ficado escondido apenas esperando algum animal parecer. Sentia alguns de seus músculos doloridos, as juntas ardendo e dedo no qual mantinha a corda do arco flexionado já estava um pouco branco e frio. Mas o pequeno arqueiro se mantinha obstinado, nem mesmo piscava, sustentando uma face concentrada de sobrancelhas franzidas em uma expressão seria de queixo erguido.
Em um postura impecável e perigosa.
Ele precisava apenas que a corça se movesse alguns centímetros mais perto para que seu tiro fosse letal.
No entanto, o animal repentinamente ergueu a cabeça, com as orelhas atentas e alertas.
Uma mínima confusão acertou seu pensamento que não transpareceu em nem mesmo um mísero movimento, o que teria chamada a atenção do animal? O ômega não emitiu sequer um ruído, e estava perfeitamente escondido, só podia ter sido seu cheiro, ele precisava agir logo ou a presa logo iria fugir.
Lentamente respirou fundo uma última vez, então esticou um pouco mais a corda na altura da bochecha, enquanto com a outra mão espreitava o arco com a flecha.
Quando estava próximo de efetuar o movimento em um disparo preciso, seu corpo inteiro tensionou.
A sua frente, viu a pobre corça ser atacada por um animal imenso de pelagem negra como a noite, com uma mordida tão potente que o arqueiro podia escutar os ossos do animal indefeso quebrarem por entre os dentes afiados da fera selvagem.
O sangue rubro escuro rapidamente pintou o chão em uma arte abstrata e violenta, os órgãos da presa eram facilmente esmagados pela criatura enquanto o animal dava seus últimos movimentos inconscientes em direção a morte.
Assustado Jimin se desequilibrou sobre o joelho que dava apoio ao seu corpo junto ao arco, tombando para trás e caindo sobre as folhas mortas do chão da floresta.
O bicho enfim ergueu a cabeça, e foi então que o arqueiro pode ver com clareza do que se tratava aquela fera.
Era um lobo, o maior lobo que ele já tinha visto em toda sua vida. Tinha peculiares olhos vermelhos que transparência uma ferocidade implacável, comparado a olhar nos olhos da própria morte. De pelagem tão negra e espeça quanto as trevas de um abismo escuro. Manchado pelo sangue da corça destroçada e sem vida sob suas patas de garras afiadas.
Pela primeira vez em muito tempo, Jimin sentiu medo. Não era sempre que um caçador se dispunha do capricho de sentir aquele sentimento. Logo todos os poros do seu corpo se arrepiando dês de a coluna até os finos fios dourados da nuca. Seguidos da boca seca e o frio na barriga que impedia a respiração de chegar corretamente até os pulmões, fazendo as narinas delatarem assim como as pupilas de íris verde.
Os olhos carmim rumaram em sua direção com a face coberta de sangue. O animal farejava o vento em busca do aroma que tomava conta do ambiente, o cheiro de medo.
O terror era tamanho que o impedi-o sequer de lembrar da adaga amolada em sua cintura. Em todos os anos em que morava naquela floresta, de todos os animais que já tinha visto e caçado, nunca tinha presenciado nada igual a fera diante de seus olhos.
E no instante que o lobo firmou os olhos fulminantes exatamente onde ele estava escondido, o arqueiro tinha certeza que aquele era seu fim.
Petrificado ele permaneceu imóvel enquanto o bicho se afastou da corça morta, se aproximando vagarosamente de maneira imponente sob as patas grandes, exibindo os dentes longos e afiados cobertos de sangue, em um rosnar selvagem e apavorante.
O arqueiro tentou recuar, desesperadamente tentando encontrar uma saída, empurrando debruçado o chão com as botas escuras em seus pés.
Mas já era tarde.
A fera assombrosa já estava em sua frente, o fitando diretamente nos olhos. Em um encontro intenso do rubi carmesim e esmeraldas cintilantes.
Cara a cara, o jovem caçador pode sentir o cheiro de seu algoz. Tinha cheiro de sangue, mas também um cheiro forte e peculiar que nunca tinha sentido. Contudo não importava, ele sabia que aqueles lumes seriam a última coisa que iria ver. Seu destino estava traçado e condenado.
Fechou os olhos quando sentiu uma lágrima solitária derramar pela face, com o coração espancando a caixa toráxica. Seus próprios ossos tremiam por baixo da derme eriçada, quando a criatura chegou perto insuficiente do ômega sentir o faro forte contra seu rosto.
Abaixou a cabeça, no instante em que o predador fungou contra seu rosto, sondado seu semblante de medo, como se apreciasse os últimos instantes de terror da vítima."Acabe logo com isso." Ele pensou.
A textura dos fios grossos tocavam a bochecha do Park onde lágrimas descia lentamente. Não tinha nada que pudesse fazer contra o animal gigantesco, a não ser esperar pela mordida violenta contra sua derme clara.
No entanto, a fera assim que tocou o nariz gelado e úmido na altura do pescoço do ômega, inspirou fundo contra a clavícula imaculada resvalando os fios densos do bigode lupino, como se bebesse sedento pela fragrância suave de lírios vermelhos que o ômega possuía. Para logo em seguida olha uma última vez em seus olhos, devorando sua alma e se erguer de cima do corpo pequeno do caçador sumindo em um salto nas sombras dos arbustos fechados.
Jimin piscou as pálpebras úmidas atômico, engolindo em seco o bolo na garganta e soltando a respiração que sequer havia percebido prender.Olá! <3
Me contem se gostaram, huh?Tem alguma dúvida?
Teorias?
Bjnhos até mais!
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A BESTA ESCARLATE • pjm+jjk
FanfictionChapeuzinho vermelho. Uma história contada de diferetes formas ao longo do tempo. Mas, você conhece a verdade oculta por trás do doce conto de final feliz? Diferente das histórias narradas em contos populares, não se tratava de uma garota indefesa...