02. Lullaby

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Três luas sucediam-se em que o arqueiro não via sequer um mísero rasto do lobo negro de olhos carmim, no entanto a sensação de sentir-se observado era constante, sua consciência podia dizer que ele estava louco, mas o Park era capaz de jurar pressentir a sombra dos pelos opacos como um vulto por entre as árvores.
 
Ele simplesmente não conseguia tirar aqueles olhos marcantes da mente. Era desesperador, a presença o cheiro. Causava um turbilhão de sensações que estavam enlouquecendo o Park.
 
Pois dês de a primeira noite em que tentou dormir depois do encontro com a fera, o ômega era atormentado sonhos estranhos.
 
Nos últimos dias seus nervos delimitavam as fronteiras da sanidade. Não permitia-se baixar a guarda por um  átomo de segundo, com a premissa de um lobo selvagem pelas redondezas a cautela por sua família era dobrada. Passava a maior parte do tempo zelando pela segurança das mulheres que amava, só se permitia sair pelo mínimo tempo possível varrendo as redondezas se certificando da ausência do lobo. Nunca se perdoaria se algo acontecesse com elas devido uma negligencia própria.
 
E entre esses incluía não permitir de forma alguma que sua irmã perambulasse sozinha pelos bosques.
 
- Você é insuportável, irmão! – A beta reclamou, farta do ômega a seguindo como uma sombra. – Não sou mais criança, não preciso de babá, está a me encher a paciência!
 
Resmungou irritada enquanto erguia com uma mão, o vestido branco de tecido gasto e mangas longas, coberto por um corpete simples de calda azul escuro desbotado, e usava a outra para segurar a alça de um balde velho de metal.
 
- Então não posso mais acompanhar minha querida irmã até o córrego de água? – Ele respondeu em uma falsa magoa. – Me entristece cada dia mais Sana.
 
- Ya! Não é sobre isso, e você sabe. Não venha tentar me colocar como a vilã da história quando não me da paz nem mesmo para ler um livro! – Disse indignada, e ele a lançou um olhar surpreso. – Sim irmão, eu vi você me espionando pela janela ontem a tarde inteira enquanto eu estava a ler sobre a sombra da cerejeira. Sinceramente Jimin, não é como se uma pessoa normal demorasse metade de um dia amolando uma adaga. Estou farta! Não tenho um pingo de privacidade! – Findou bufando alto a passos apressados.
 
Realmente, no dia anterior ele havia ficado boa parte do dia vigiando a beta, não esperava que a mesma notasse a sua presença.
 
- Ora irmã, não seja tão dramática, não é como se você tivesse algo relevante a esconder. – Murmurou sério.
 
- Exatamente Jimin, - Ela então parou bruscamente o fulminando com os olhos bicolores. – Se tem alguém escondendo alguma coisa aqui, com certeza não sou eu. Mas já não posso dizer o mesmo sobre você. – Disse em um tom acusador.
 
Mas uma vez a beta confrontava o arqueiro, não era simplesmente a constante supervisão do irmão que a irritava, mas sim saber que ele estava escondendo alguma coisa da mesma.
 
 Oras, eram irmãos. Passaram a vida inteira juntos sendo a companhia um do outro. Para então o mais velho mudar repentinamente seus hábitos se transformando em um verdadeiro cão de guarda sem a mínima explicação. Ela sabia que tinha alguma coisa errada, algo que o caçador estava escondendo, e isso estava a irritando profundamente. Haviam prometido nunca manter segredos um do outro, e ela podia ver claramente Jimin quebrar a promessa.
 
- Não venha com essa história novamente Sana, já disse que não tem nada de errado acontecendo, isso é coisa da sua cabeça jovem e fértil. – Ele suspirou começando a andar na frente.
 
- Mas é claro que tem Jimin, até mamãe percebeu. – Insistiu puxando o vestido que arrastava as pontas sujas pelo chão, em busca de uma resposta que não veio.
 
Quando chegaram no córrego de águas calmas, o ômega sentou em uma das várias pedras coberta por musgo enquanto via de longe sua irmã sustentar um expressão emburrada enchendo o pequeno balde com água, o vento gelado da manhã fria soprava gentilmente seus cabelos castanhos e compridos.
 
Sentia por não poder contar a garota o ocorrido sobre o lobo, amava a irmã intensamente e faria qualquer coisa pela mesma, tinham jurado não haver segredos entre eles. Mas muito antes disso, quando o caçador viu pela primeira vez o pequeno e frágil bebê de olhos bicolores, ele jurou protege-la com a própria vida, enquanto partiam para bem longe do povoado em direção a floresta fechada. E aquela havia sido sua primeira promessa de muitas que carrega até hoje.
 
Ele e sua família já haviam renunciado de muito em meio aquela sociedade primitiva e ignorante. A pouca liberdade que tinham era o que lhe restavam, não era justo vê-la sufocar aos poucos pelo medo da premissa de um ataque a qualquer momento. Apenas precisava garantir a segurança delas e estaria tudo bem.
 
Ser forte e destemido. Em qualquer outro lugar depois da montanha, ao Sul da floresta, qualquer um podia dizer que aqueles não eram nem de longe adjetivos a se darem a um ômega. Que deviam ser sempre tímidos e indefesos, em busca de uma alfa pra protege-los.
 
Mas não Jimin, seu amado pai alfa havia falecido na infância do mais novo, a mãe desamparada com um filha de colo era incapaz de providenciar as necessidades que uma casa precisava. Foi então que o garoto, mesmo tão jovem na época, fez a maior decisão de sua vida.
 
Seria ele, a tomar o papel de alfa da casa.
 
Mesmo pequeno e franzino, um menino de bochechas gordinhas repletas de sarnas, tão frágil quanto um broto de lírio, precisava se tornar um escudo de aço e proteger suas tão delicadas pétalas.
 
Ele mal podia com o peso do arco, as mãos antes macias e delicadas, rapidamente se tornarem grossas com a presença de calos na palma pequena. Mas o garoto sabia tudo o que precisava para manuseá-lo. Então em uma noite de lua cheia, quando sabia que a mãe já havia dormido exausta de tanto chorar. O ômega saiu para fazer o que precisava ser feito, e naquela noite conturbada retornou somente ao amanhecer, coberto de sangue, arrastando pelos chifres um servo que havia caçado durante a noite.
 
Cansado ele nem mesmo ouviu o que sua mãe gritava enquanto o abraçava aos prantos, certamente o reprendendo desesperada pela atitude perigosa, afinal, ele era somente uma criança.
 
Mas ao anoitecer, enquanto jantava a carne saborosa com a mãe e irmã tão nova na época, transbordando felicidade e inocência, ele soube que aquela era sua responsabilidade. O seu dever.
 
Foi então que o caçador percebeu, o quão acovardado estava sendo. Jimin não devia esperar medroso na espreita de um lobo que poderia atacar sua família a qualquer instante. Estava se comportando como uma presa, e o Park foi criado para ser um caçador. Era o Demônio vermelho, ele era uma lenda, o temiam a todo custo.
 
Destruiria qualquer coisa que ameaçasse aqueles que ama. Era aquela sua promessa. E hoje, ele iria cumpri-la.
 
 
- Mamãe, eu exijo que Jimin fique a vinte passos de distância de onde quer que eu esteja! – A jovem entrou pela porta da cabana revolta feito um furacão.
 
- Eu já pedi pra você parar com isso Sana. Não a necessidade de tanto drama. – O ômega entrou logo atrás, pousando o arco e a aljava com as flechas perto onde existia uma lareira de pedras rústica.
 
- E eu já pedi pra você me deixar em paz! Mamãe mande ele parar! – A beta batia os as sandálias pelo chão de madeira.
 
- Ya. Não é para tanto, você já apreciou mais minha presença. Eu apenas quero mais momentos ao seu lado, irmã ingrata. – Respondeu suspirando.
 
- Oh, agora eu sou a ingrata? – Berrou irada. – Ora seu-
 
- Basta crianças. – A voz da mulher madura interveio, dona de uma expressão cansada. Park Chaerin há décadas já havia saído do auge de sua juventude, a doença também a deixava marcas de sua presença cada dia mais forte. No entanto a ômega ainda era inegavelmente bonita, graciosa e elegante.
 
Os lumes marcantes e felinos, lançaram um suave olhar de repreensão para os filhos, a ômega de cabelos acinzentados preso em uma trança embutida. Trajava um vestido liso verde musgo de mangas largas e compridas, trançando na altura do busto, com cordões de pedras feitos por Sana.
 
- Mamãe há dias Jimin me persegue a onde quer que eu vá, sinto que estou a um passo de enlouquecer.
 
- Sana, pare de inventar coisas.
 
- Jimin meu filho, deixe sua irmã em paz. – A mulher disse se aproximando do filho, balançando suavemente os cordões ao redor de seu pescoço. tocando carinhosamente a bochecha macia pintada por sarnas. –  Ela já é uma mocinha, sabe se cuidar sozinha.
 
- É o que eu vivo dizendo a ele mamãe, mas Jimin não me escuta.
 
Sendo encarado por dois olhares acusadores ele suspirou, rumou até a mesa onde apanhou um jarro de água e um copo.
 
- Já fui mais querido nessa casa. – Resmungou virando o líquido.
 
- Deixe disso. – A mais velha contrapôs seguindo até o fogão a lenha onde tinha uma panela grande e velha. – Eu fiz sua comida favorita. Ensopado de carne. – Disse mansa, a mulher experiente sabia que algo vinha atormentado o filho, como um extinto de mãe ela podia sentir como se a direção dos ventos mudassem.
 
O canto dos lábios grossos e rosados se ergueram em um sorriso fraco, pensando no quanto amava aquela mulher, e até mesmo os ataques emotivos da irmã. Tratou de aproveitar de cada momento daquela refeição, guardando em um lugar especial da memória. Afinal, aquela noite quando passasse pela porta em rumo a caça ao lobo mais aterrorizante que já tinha visto na vida, o retorno já não era uma certeza.
 
Então sob a penumbra da noite, ele aprontava uma pequena bolsa de pele, com os poucos pertences que iria levar. Quando seguiu até o cômodo de estar onde sua mãe é e irmã estavam, contemplou a cena corriqueira de todas as noites.
 
Sua mãe sentada sobre uma cadeira acolchoada com peles, em frente a lareira, cantarolando baixinho a antiga música de ninar em sua língua materna que ele tanto ouvirá em sua infância, seus pais sempre fizeram questão dos filhos saberem de suas raízes. Algumas vezes a ômega mais velha contava histórias sobre os ares esplendorosos do lugar, as montanhas imensas e dos campos verdejantes. Jimin assim como a irmã não haviam nascido lá, o ômega havia apenas sido concebido naquelas terras, mas seus pais precisaram dizer adeus ao paraíso em troca da liberdade de um amor proibido.
 
Ele admirava tanto os dois, era seu único e maior exemplo de amor verdadeiro entre duas almas, ele se perguntava se algum dia iria poder encontrar seu par. Uma grande tolice, – era o que sua consciência dizia – onde já viu? Era o demônio vermelho, qualquer alfa em sã consciência cravaria uma lâmina sem piedade alguma no peito do ômega na primeiro oportunidade.
 
Era mais um dos fardos que carregava, além de sua mãe e irmã, ele nunca teria mais ninguém, era fadado a passar o resto de seus dias sozinho.
 
As chamas queimavam iluminando o local enquanto Chaerin penteava delicadamente os fios castanhos da filha mais nova que lia um livro concentrada.
 
Assim que o viu, a mais nova disse animada:
 
- Irmão, acho que aprendi um novo chá de ervas que pode ajudar a mamãe! – Contou vibrante com os olhos bicolores brilhando em um verde e castanho único.
 
Des de muito nova Sana sempre se empenhou em encontrar algum remédio ou antídoto que curasse a doença de Park Chaerin. Seu conhecimento sobre ervas e plantas era incrivelmente extenso para tão pouca idade.
 
- Você é incrível Nana. – Ele se abaixou até esta a altura da beta sentada em um pequeno banco, e beijou-lhe a testa. – Eu me orgulho de você. - Confidenciou baixinho, como se fosse um segredo dos dois sorrindo manso, acariciando o rosto pequeno.
 
subiu o olhar até encontrar os lumes bonitos da mãe, marcados pela idade. Que encaravam os filhos com um amor maternal incondicional, o olhando fundo nos olhos ela cantou o refrão da canção.
 
- Vargen ylar i nattens skog. - O lobo está uivando na floresta da noite.
 
Ele sorriu, e respirou fundo o cheiro de sândalo da ômega. O aroma materno o acalmava.
 
 - Han vill men kan inte sova. - Ele quer, mas não consegue dormir. – Continuou o verso, prendendo uma mexa de cabelo atrás da orelha da mulher que tanto admirava.
 
- Rio húngaro i hans varga buk! - A fome rasga seu estômago úmido. – Sana virou o rosto por cima do ombro, com  sorriso animado, recitando a música favorita.
 
- Och det är kallt i hans stova. - E está frio em sua toca. – A voz da ômega mais velha era melodiosa e delicada, fina nas partes certas.
 
O caçador usufruindo-se daquilo como uma despedida velada, suspirou buscando forças e se afastou, apanhando o capuz vermelho junto com o arco e flecha, também se assegurando em obter uma adaga na cintura. Então sussurrou baixinho o verso da canção com um aperto no peito.
 
- Du varg du varg, kom inte hit... - Lobo, lobo, você não vem aqui. – Mesmo que fosse a letra de uma canção antiga, ele disse cada palavra de forma arrastada, como uma afirmação.
 
Mas antes de passar pela porta da pequena cabana, a voz da mãe o deteve:
 
- Aonde vai? – Perguntou confusa.
 
- Vou caçar essa noite. – Respondeu breve. A fim de fugir de explicações.
 
- Filho, eu peço para que não saia essa noite, eu sinto algo que... – A mulher se sentia agoniada, seu filho já havia caçado várias vezes sob a escuridão da noite. No entanto naquela noite, naquela noite em específico Chaerin senti presságio terrivelmente sufocante. Ela apenas queria seu menino ao seu lado.
 
- Eu preciso ir mamãe. Vou ficar bem. – Ele disse querendo encerrar aquela despedida.
 
- Jimin... – A voz soou pelo cômodo iluminado pelas chamas da lareira, enquanto virava de costas em direção a porta. – Jimin, filho...
 
O arqueiro saiba, que facilmente poderia fazer aquilo na noite seguinte, mas era como se seus atos estivessem determinados cumprirem aquele ato sem demora. Ele precisava ir, a qualquer custo.
 
- Park Jimin, eu o proíbo de atravessar essa porta. – Sentenciou com uma voz alterada, a mais velha sentia um presságio tão intenso e dolorido.
 
Relutante, juntando todas as forças contidas no fundo de sua alma, ele finalmente encarou os olhos intensos da mãe e irmã que o fitavam assustadas.
 
Os pais sempre sabem... Era o que sua mãe sempre disse.
 
- Irmão... apenas não vá essa noite... – A irmã se manifestou. – Não deixe mamãe nervosa.
 
- Me prometam, que não vão me procurar se eu não retornar. – Disse sério.
 
- Não peça asneiras Jimin. – A voz de Sana se elevou em um tom fino, em uma expressão confusa.
 
- Apenas me prometam. – Repetiu.
 
- Então prometa que vai voltar. – A beta respondeu primeiro, embargada. – Prometa Jimin! - Semblante que deixava claro a exigência.
 
A mãe o encarava chorosa, ela podia sentir, em seu peito, o sentimento esmagador, o filho não devia sair essa noite.
 
E Jimin, diante do pedido da irmã, se viu encurralado. Ele já tinha promessas de mais para cumprir, e sentia que aquela ele não podia manter.
 
Mas ele não tinha escolha.
 
- Eu prometo.
 
- Mas que exigência parva e infundada, onde já se viu? – Chaerin respondeu primeiro, com olhos marejados e um semblante sério. – Eu estou lhe proibindo!
 
Engolindo em seco, todo o sentimento que o subia pela garganta, o Park respirou fundo, e disse:
 
- Eu volto logo.

 – Eu estou lhe proibindo! Engolindo em seco, todo o sentimento que o subia pela garganta, o Park respirou fundo, e disse:  - Eu volto logo

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Esse cap foi bem paradão mas prometo que o próximo não vai demorar muito pra vir :)

Enfim, tem carinhas novas aqui fico muito feliz, salve galera do tktk <3

Não tenho muito oq falar dessa vez, mas vejo vcs  em breve!

A BESTA ESCARLATE • pjm+jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora