UM - A MARÉ SE AGITA

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A aura da Universidade estava diferente naquela manhã. Estudantes dos mais diversos cursos sentiam uma desconhecida sensação assim que entravam no grandioso campus da maior universidade do Japão, o vento parecia abraçar os alunos suavemente e o cheiro de mar estava mais perceptível do que nunca. A maré estava mais agitada que o normal, e a simbologia afirmava ser o início de uma era de reviravoltas.

Notícias circulavam de que existia uma nova aluna na faculdade de Ciências Sociais. Estrangeira, transferida no meio do ano letivo e pelo que as fofocas diziam coberta de tatuagens e piercings, o total oposto do que todos que cursavam a UTokyo conheciam e encaravam como comum.

O Bloco 2 inteiro ansiava por conhecer a garota e diversos alunos criavam teorias e hipóteses sobre quem poderia ser aquela estudante. Oikawa entretanto não parecia se abalar ou se afetar de qualquer maneira com a chegada da futura cientista social, nada tiraria o chamado Rei de seu trono e esse não se preocupava com nada além da próxima festa em que iria.

Monalisa, a brasileira que recentemente se mudara pra Tóquio nem sequer imaginava que todas aquelas pessoas estavam falando sobre si. Caminhando tranquilamente enquanto escutava música no volume máximo, a garota não foi capaz de perceber as dezenas de olhares direcionados a ela e muito menos os burburinhos que a cercavam.

Não que fosse fazer alguma diferença significativa ela estar ciente do que a rondava, ao longo dos anos a mulher de cabelos pretos com mechas azuis havia feito uma promessa de que viveria apenas para si mesma e aos poucos a opinião de outras pessoas se tornou tão irrelevante quanto derrubar um copo d'água na rua enquanto uma tempestade acontece.


Seguindo seu trajeto despreocupada enquanto digitava uma mensagem para sua melhor amiga dizendo que tudo estava correndo bem em sua nova vida, Falcone não foi capaz de perceber um certo moreno se aproximando e esbarrando propositalmente na tatuada. A menor virou-se rapidamente, prestes a deixar que um pedido de desculpas escapasse de seus lábios em um japonês esfarrapado até seus olhos encontrarem aquelas írises castanhas que penetravam toda sua alma e a julgavam silenciosamente.

— Sabe...Não é exatamente educado esbarrar em alguém e nem sequer desculpar-se... —  Oikawa disse em um tom de voz suave, arrancando suspiros de algumas das meninas que passavam pelos corredores da faculdade e mascarando as segundas intenções presentes em suas palavras despejadas com tanta facilidade.

Monalisa teve de segurar sua risada por segundos enquanto cuidadosamente tirava um de seus fones. A menina suspirou e voltou a encontrar aqueles olhos tão expressivos, sem paciência para aguentar que a tratassem como inferior.

— Também não é exatamente cortês ficar encarando alguém, principalmente uma dama. Mas parece que isso não o impediu de fazê-lo desde que esbarrou em mim, não? — A brasileira vociferou com toda a confiança que tinha dentro de si, a falta de conhecimento sobre o idioma que utilizara seria suprida com seu jeito de falar direto e sem tropeços. Falcone então sorriu amavelmente e acenou com a cabeça, voltando a encaminhar-se para sua primeira aula do dia.

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O restante do dia da brasileira correu normalmente e sem a ocorrência de nenhum outro confronto ou conversa acalorada. Apesar das ainda presente dificuldades com o idioma, Monalisa se adequou rapidamente as aulas de análise política, sendo capaz até de iniciar um diálogo com um menino de cabelos prateados chamado Sugawara.

A garota de estatura mediana tentava se acostumar com a ideia de a chamarem pelo seu sobrenome enquanto seguia seu mais novo amigo pelos corredores, os dois caminhando em direção a cafeteria imersos em uma animada conversa sobre o que fariam na noite de sexta-feira.

Sim, Monalisa começara seu ano escolar em uma sexta. Tendo dedicado os dias anteriores a tarefas como completar sua transferência da faculdade brasileira e uma faxina mais do que necessária em seu loft, a menina só pôde ter sua primeira aula no último dia da semana. Não que fosse reclamar de tal fato, a vida acadêmica nunca foi uma das coisas mais apreciadas por Falcone, e quanto mais pudesse postergar as obrigações universitárias, ela faria sem pensar duas vezes. 


Chegando à enorme cafeteria que unia dois dos muito blocos da Universidade de Tokyo, Sugawara fez questão de apresentar sua mais nova protegida para Daichi, Asahi e Nishinoya, o último deles tendo ficado paralisado por um breve momento depois de conhecer a de quem tanto falavam.


— Então você é brasileira, Falcone-san?! Que doido! Por que veio morar no Japão? Está gostando daqui? Qual curso você faz? Quer companhia até sua sala? — O baixinho tropeçava em meio à suas muitas perguntas, e seus amigos afundavam em um poco de vergonha com medo do que a mulher pensaria deles, mas Monalisa parecia não se importar com o excesso de hospitalidade de Nishinoya.

Não podendo conter uma risada, a brasileira gargalhou em resposta ao garoto que praticamente pulava de curiosidade. Com uma mão em seu peito, a ajudando a nivelar sua respiração e se acalmar, Monalisa suspirou antes de começar a sanar todas as dúvidas do estudante à sua frente.

— Bom, primeiro você pode me chamar apenas de Monalisa. Essa coisa de usar o sobrenome me confunde um pouco! E sim, eu sou brasileira assim como meus pais. Me mudei para cá porque preciso realizar um sonho e uma homenagem. — Falcone se aplaudia mentalmente por ter conseguido explicar o motivo de sua vinda sem precisar se estender ou aprofundar.

O grupo formado por agora cinco pessoas conversava energeticamente, aversos à presença de um certo moreno em sua frente. A primeira pessoa a notar a figura atlética que estava diante de si foi Monalisa, e pode-se dizer que o sorriso que a deixava ainda mais bonita foi aos poucos desmanchando.

— Vi que já fez amigos...Fico de certa forma feliz que tenha sido bem recebida por alguns de nossos melhores alunos. Enfim, não estou aqui como membro do conselho estudantil então vou parar de fazer o papel hospitaleiro do Akaashi. — Tooru se expressou, passando os olhos e tornando a encarar a tatuada com um falso sorriso em seu rosto.

— Por que está aqui então? Pensei que não fosse querer falar de novo com uma pessoa mal educada como eu. — Monalisa não tardou em responder, sem fazer questão de manter contato visual com o garoto já que brincar com as fitinhas no braço de Asahi era muito mais agradável.

Ah, como Oikawa se ofendeu com aquela ação nada planejada e tão repentina. Como assim aquela garota não estava se agarrando a qualquer oportunidade de estar perto dele? Tal movimento o deixou tão mexido que ele se viu na obrigação de convidar as cinco pessoas que estavam na sua frente para a festa que seu melhor amigo, Iwaizumi, daria naquela noite. 

O garoto de olhos castanhos prometeu para si mesmo que arrancaria alguma reação do rosto da brasileira, mesmo que fosse necessário tomar medidas drásticas como ceder um convite de algo tão disputado tão facilmente. Todavia, para o descontentamento de Tooru, a menina respondera somente com um simples "Ok, estaremos lá.", tratando aquela solicitação como se não fosse nada.

A verdade é que Monalisa sabia jogar melhor do que ninguém e, portanto, tiraria tudo de melhor da nova tensão e pequena rivalidade que tinha criado com Tooru. Os dois tinham seus motivos para não gostarem um do outro, Oikawa detestava que Falcone não caísse aos seus pés e a brasileira detestava o ar de superioridade que o japonês fazia questão de esbanjar.

Depois de observar boquiaberto aquele inédito enfretamento, Sugawara foi o primeiro a declarar que todos iriam àquela festa e que ele sentia que a noite seria memorável. 


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Por favor votem e comentem me dizendo o que estão achando!! O segundo capitulo vai sair o mais rápido possível, obrigada por lerem :)

THE CHASE - OIKAWA TOORUOnde histórias criam vida. Descubra agora