Só sei que foi assim - Wangxian

A felicidade está nas coisas simples

Wei Wuxian estava quase dando perda total em plena quarta-feira.

Não o tipo "bebi até cair" de perda total, quem lhe dera poder, na verdade. Wuxian não saía para uma noite descompromissada de bebedeira há uns bons anos. Não que houvesse perdido seu amor pelo álcool ou criado aversão por ele de alguma forma, mas é que ser pai solteiro limitava bastante a sua disponibilidade para cuidar dos próprios assuntos. A diversão de Jingyi passou a ser a sua também e Wuxian aprendeu a aproveitar genuinamente os filmes infantis e brincadeiras educativas, mas não ia negar que sentia falta de opções mais adultas na hora de se entreter.

De qualquer forma, pensar em bebida hoje em dia deixava Wuxian triste por inúmeras razões, então ele evitava. Sua cabeça estava ocupada com outras coisas, como a manha desmedida que Jingyi havia feito para acordar naquele dia. Foi um sacrifício conseguir mantê-lo de pé para vesti-lo e lhe dar o café da manhã. A pressa também não ajudava em nada. Wuxian havia acordado atrasado porque passou a noite toda refazendo seu planejamento financeiro. As contas da casa ainda estavam sobre a mesa, decoradas com os desenhos em giz de cera que Jingyi fazia nas partes vazias, quando percebeu que havia dormido em cima delas. Suas costas estavam doendo porque a mesa da cozinha não era exatamente o melhor lugar para se dormir depois de um dia exaustivo de trabalho.

Por fim, conseguiu se arrumar às pressas e deixar Jingyi apresentável para a escola. Os dois saíram correndo e Wuxian se despediu com pressa, mas não sem antes deixar um longo beijo na testa do filho. Não tinha coração para deixá-lo na escola todos os dias sem aquele beijinho de despedida, a simples ideia de Jingyi pensar que estava sendo abandonado lá para o dia deixava Wuxian com o coração na mão. Ele sabia que a maioria dos pais realmente tinha filhos contando com o fato de que poderiam largá-los na escola quando não quisessem mais cuidar deles, mas Wuxian havia escolhido ser pai de Jingyi, apesar das circunstâncias inusitadas que uniram os dois. Ele jamais veria a escola como um banco de crianças a que ele podia recorrer quando estivesse sem paciência, muito pelo contrário. Se pudesse, seria ainda mais presente na vida escolar de Jingyi e estaria ao seu redor o tempo todo.

Mas não, ele tinha que trabalhar para pagar as contas e enquanto isso, Jingyi teria que ficar na escola.

O caminho até seu trabalho também foi corrido. Wuxian trabalhava como secretário numa agência de seguros e não era um trabalho muito bom, mas foi o que conseguiu sem um curso superior. Dependia inteiramente daquele trabalho para cuidar de Jingyi e tentava não reclamar muito, mas alguns dias eram piores que outros. Largou a bolsa em sua mesa e voltou a correr, ajeitando o cabelo no espelho do elevador enquanto ia buscar os primeiros documentos do dia. Seu chefe gostava de ter as coisas sempre na mão, mas ele nunca chegava na hora. Wuxian estava contando com a irresponsabilidade dele naquele dia. Com sorte conseguiria colocar todos os afazeres dele em sua mesa, conferir sua agenda de compromissos e pegar um chá na cozinha antes que ele chegasse.

Mas a sorte não estava do seu lado. Assim que voltou para a sala do seu chefe, Wuxian deu de cara com ele. O rosto cínico e falsamente sorridente de Wen Chao não deixava dúvidas: Wuxian estava ferrado.

— Ah, que ótimo! — Disse ele, contornando a mesa para se largar em sua cadeira acolchoada. — Eu já estava me perguntando onde os meus documentos tinham ido parar. Achei que eles já devessem estar aqui quando eu chegasse.

Wuxian fez uma reverência rápida tentando não demonstrar seu desprezo. Colocou a pasta sobre a mesa de seu chefe e lhe ofereceu um sorriso duro.

— Eu sinto muito, senhor. Não vai se repetir.

— Eu acho bom, mesmo. — Wen Chao respondeu após uma pausa desnecessária de tempo. — Você está desalinhado. Passe no banheiro e dê um jeito na sua aparência. Depois me traga o meu chá, que aparentemente você também esqueceu.