Só sei que foi assim - Wangxian

O destino une até as pessoas mais distantes

O dia primeiro de janeiro teve gosto de renovação.

Não era uma data tão festiva quanto o ano novo chinês e, sinceramente, Wuxian não dava a mínima para ela. Pelo menos naquele ano, porém, estava se sentindo renovado. Na primeira vez em que ameaçou despertar, uma luz incômoda foi o que perturbou seu sono, fazendo-o tapar os olhos com o cobertor. O perfume no edredom grosso de inverno e a maciez do colchão o impediram de acordar de verdade, e o ambiente aquecido e confortável também ajudavam a mantê-lo naquele estado fronteiriço entre estar ou não dormindo.

Quase que imediatamente, ouviu o som das cortinas sendo fechadas e a luz do dia deixou de afligir seus olhos. Descobriu parte do rosto, mas manteve o cobertor acima do nariz para que pudesse continuar apreciando o cheirinho gostoso de roupa de cama recém-lavada e perfume masculino. Houve uma movimentação sutil na cama e sentiu um par de mãos cuidadosas o trazendo para perto, abraçando seu corpo com carinho e entrelaçando suas pernas. Sorriu sutilmente ainda em seu sono, derretendo em meio à doçura de alguém se aninhando em seu pescoço e espalhando uma porção de beijo nele. Talvez estivesse sonhando e aquela fosse a pessoa que sempre quis ter ao seu lado, para colocá-lo para descansar quando acordava antes da hora.

— Durma mais um pouco. — O sussurro grave e rouco de sono lhe causou um arrepio. — Ainda está cedo.

Deveria estar, mesmo. Por mais aquecido que fosse o ambiente, as primeiras horas da manhã eram notavelmente mais frias. Wuxian se deixou embalar pela carícia terna por dentro da camisa do seu pijama e pelos sussurros meigos em seu ouvido, adormecendo outra vez em uma questão de minutos.

Quando voltou a acordar, algumas horas mais tarde, a primeira coisa que fez foi abrir os olhos. Aos pouquinhos, foi focalizando o rosto sonolento em sua frente até perceber que se tratava de Wangji. Antes mesmo de terminar de despertar e recuperar as últimas horas da noite anterior, Wuxian sorriu largo e sincero para ele.

— Está tão frio... — Murmurou, cheio de manha, se aconchegando ainda mais no aperto firme ao seu redor.

Sem demora, Wangji o trouxe para perto, abraçando seu tronco e enchendo seu rosto de beijos apenas pelo prazer de vê-lo rir. Também os arrumou melhor debaixo do edredom, cobrindo-os até o pescoço para que o frio não atrapalhasse o conforto do momento. A mão quente de Wuxian passeava por seu rosto num carinho tão suave que o fez fechar os olhos para apreciar, sentindo sono outra vez apesar de já estar acordado há algum tempo. Estava habituado a se levantar cedo, mas sem Sizhui para alimentar na hora certa ou trabalho para lhe fazer sair de casa, achou melhor enrolar mais um pouco. Também havia o fato de que Wuxian estava bastante cansado. Não iria fazê-lo acordar antes da hora e deixá-lo sozinho não era mesmo uma opção, então se contentou em só ficar ali ao seu lado, velando seu sono.

Agora, com o rosto pertinho do de Wangji e os dedos acariciando as bochechas dele, Wuxian se sentia em paz como nunca antes. Não conseguiu parar de sorrir, nem quando Wangji selou seus lábios após murmurar um "bom dia" bem baixinho. Parecia estar imerso num universo que era inteiramente feito dele. Desde a cama onde estava deitado até o pijama que vestia, mesmo o perfume do sabonete que havia ficado em sua pele, tudo possuía o aroma da colônia de sândalo que Wangji usava e era muito reconfortante. Era como se estivesse sendo abraçado não só pelo homem, mas também pela casa dele. Aquele sentimento de acolhimento e aconchego... Não havia como descrever.

— Bom dia. — Respondeu, aninhando o rosto contra o dele naquele gesto doce e pegajoso que os dois pareciam amar igualmente. — Que horas são?

— Nove. Dormiu bem?

Numa única noite, Wangji conseguiu se viciar em encher Wuxian de afagos. De alguma forma, a ideia de tocá-lo era tão pura que não conseguia mais tirar as mãos dele, alisando a curva da cintura fina por baixo da camisa enquanto deixava que ele fizesse o mesmo em seu rosto. Era quase como se as coisas sempre houvessem sido desse jeito, gentis e simples demais para soarem embaraçosas, como chegou a pensar que seriam no início. A espontaneidade que envolvia cada beijo e cada carinho era mais que uma prova de que as coisas estavam certas exatamente como estavam.