o garoto que não gostava de caramelo mas que apreciava a coloração alaranjada.

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“meus olhos não vão a lugar nenhum
eles não conseguem te deixar
eles te miram ao longe
da colina eles te perseguem
do pico eles te observam
de cima eles te gritam
de lado te consomem.

meus toques estarão sempre a disposição
sempre estou quando se trata de você
minha pele pede pela sua
meu dedos cedem ao encontrar com os seu dígitos macios
eu me falho e você me concerta.

eu sou tão teu que não sei quem sou.”

escrevi. minha alma necessitava desabafar, e as letras foram minhas melhores amigas. fazia seis meses. seis meses que conhecia taehyung, o garoto da lanchonete pouco movimentada. o garoto dos sorrisos bobos e olhares extasiantes.

eu estava para enlouquecer. toda vez que possuía mais conhecimento dele eu me perdia. seus olhos eram a porta do outro mundo para mim. eu evitava olhar em suas orbes, mas ele sempre me pegava os escondendo. então sempre punha seus dedos no meu maxilar o levantando gentilmente, como sempre fazia desde que criamos uma intimidade.

“o que tanto pensa?” ouvi-lo perguntar. a voz rouca e charmosa que me vinha atormentando há meses. era impossível confundí-la, mesmo que ele estivesse há milhas de distância, se ele me gritasse, eu escutaria. todo o meu corpo tremeria e olharia ao redor para encontrar o par de olhos castanhos.

taehyung sentou-se ao meu lado no sofá da lanchonete. eu fiquei ao lado da janela, que mais uma vez chovia. mas era forte e o clima mais frio.

“nada específico. apenas em possibilidades.” o respondi sentido-o pôr em mim sua jaqueta preta cheia de detalhes metálicos.

“você deve se cuidar.” me fitou sério e eu fiquei aéreo por alguns segundos. eu amava aquele lado dele.

eu assenti com a cabeça, reclinando-a até seu ombro esquerdo e me aconcheguei sem medo.

eu gostaria de poder ter fotografado essa cena, ela estaria em anexo na parede do meu quarto. na verdade, gostaria de fazê-lo ser meu modelo.

e todas às suas fotos se fariam eternizadas. no meu coração e na memória daquela câmera ultrapassada.

“qual café você vai querer hoje?” questionou risonho, sem mover sua cabeça sobre as minhas madeixas.

“um caramelo macchiato.” ele sorriu soprado. eu adorava aquele som.

“você nem gosta tanto de caramelo.” observou atento, ainda sem me fitar.

“mas gosto da coloração alaranjada do café.” disse firme, formando um biquinho em meus lábios poucos brilhantes — devido ao gloss de melancia passado —.

havia tantas coisas desconhecidas sobre a galáxia de taehyung que eu me afundava cada vez mais em uma areia movediça. eu queria que fosse mais fácil descobrir o seu coração, da mesma forma como olhamos telescópios para vermos as estrelas.

“você é caso de poesia.” ele riu estridente, o que fez meu corpo tremelicar por completo.

e na instância desse minuto, eu me apaixonei perdidamente pela suas paredes convergentes e traços não-encontrados. deixei uma lágrima teimosa cair sob meu rosto inundado (daquelas incertezas que a vida traz).

quando a garçonete chegou com nossos pedidos — meu macchiato acaramelado e o expresso dele — sorrimos.

“quando vou ler algo que você escreveu?” paralizei, e deixei minha  respiração se esvair lentamente.

“qualquer dia desses.” contravi, quieto e pouco sorridente.

as minhas escritas só se falavam dele. cada adjetivo, paráfrase, estrofe era únicamente pertencente a ele.

ele era o sol de saturno, e eu estava há milhas de migrar para lá.

⳽oᑲɾᥱ ᥴᥲƒᥱ́⳽ ᥱ ɾᥱᥴɩρɾoᥴɩᑯᥲᑯᥱ. • taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora