o garoto lembra pietà rondanini, doces gelados e macchiatos.

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clic, clac, clic, clac, clic, clac...

lá se foram três fotos. três posturas diferentes. taehyung era um modelo nato. suas expressões faciais, seus biquinhos, seus sorrisos, seus olhares, sua sensualidade, suas pintinhas.

já não havia como negar, eu suspirava penosamente toda vez que o via. ele era esplêndido, céus. um dos seres mais lindos que os deuses poderiam presentear-me. sim, isso cai bem, o kim era o meu presente. o mais precioso de todos.

“vamos dar uma pequena pausa de cinco minutos, pode ser?” questionei o observando sentar-se na pequena poltrona alaranjada. não era um estúdio grande, mas era o suficiente para fazer meus convidados ficarem à vontade.

enquanto taehy ficava mexendo em seu smartphone, eu contemplava as fotografias recém tiradas. suspirei pela segunda vez naquele dia, ele era realmente esbelto.

“ei, gukie... você gosta de fazer comparações, não é?” o maior perguntou, apenas assenti positivamente tomando um gole do meu cappuccino.

“ao que você me compararia?” mirou-me e meu coração tremeu. minhas mãos suaram pela pergunta audaciosa. eu poderia negar, mas não quis, não iria armazenar esse sentimentalismo no meu coração.

“à capela sistina. aos deuses, ao pó de vida. à van gogh, à mozart, à filosofia.” tomei ar, observando-o impiedosamente, marcando-o em minha mente congestionada, amando-o e guardando-o em meu coração cheios daqueles buraquinhos.

“você é uma dádiva bem rara, daquelas que te puxam, te prendem e não largam.” olhei para baixo. tímido, constrangido.

“e-eu...” ele tentou argumentar, mas eu o impedi. andei até ele vagarosamente e pus dois de meus dedos em seus lábios ressecados.

“você me lembra pietà rondanini¹. você me lembra a noite estrelada. céus, comparo-o com aquelas esculturas expressivas, esbeltas e altas de michelangelo, comparo-o a uma obra singular, doces gelados e macchiatos.” sorri, mas não estava satisfeito.

ainda havia tanta coisa para falar, para comparar... eu gostaria de ter dito mais. mas me contive e me silenciei.

levantei meu rosto para encará-lo, e surpreendentemente o vi com os lábios entreabertos, e olhos brilhantes. acho que ele não esperava aquilo.

“você roubou todas as minhas falas.” eu sorri ladino.

“como você pode manipular a poesia desse jeito e a dedicar a mim?” ele abaixou o olhar. mas ainda sorria e eu aproveitei e toquei em sua pintinha abaixo do maxilar pouco travado.

“você roubou todas as mais belas e velhas palavras sem deixar-me nada.” admitiu com a voz rouca e pouco embargada. o envolvi em um abraço fraternal. mas que dizia muitas outras coisas. dizia amor.

eu me pintaria em uma tela branca para que ele notasse e morasse em em mim. como as cores moram e se abraçam nas telas.

eu me tornaria pintura a óleo e o deixaria deslizar sobre minha tez — se assim ele o quisesse —.

me tornaria giselle² e o protegeria.

ainda há muito o que ser dito, mas se até os anéis de saturno continuam a nos impressionar creio que fiz certo em me calar.

fiquei ali, em pé. o abraçando, confortando-o. pouco tempo depois beijei-lhe a testa inúmeras vezes com pequenos estalares que me fizeram sorrir grande.

meu gloss sabor melancia deve ter entrado em contato com a pele alva e lisinha dele, mas este não se incomodou e tampouco limpou o local outrora beijado. aproveitei a chance e baguncei suas madeixas cheirosas e hidratadas.

taehyung era mesmo um caso de astronomia. mas é uma pena que nem todo astrônomo possa alcançar o total conhecimento dessa ciência tão bonita.

entretanto, para mim o kim era as estrelas e eu, o pobre observador sem telescópios, vislumbrando sua beleza a olho nú.

¹: escultura de michelangelo.

²:  balé romântico composto por dois atos.

⳽oᑲɾᥱ ᥴᥲƒᥱ́⳽ ᥱ ɾᥱᥴɩρɾoᥴɩᑯᥲᑯᥱ. • taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora