o menino que se tornou mar e seu amigo que nem sequer seria um peixe.

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eu adoro dançar. é um dos momentos em que meu corpo ganha o sopro de vida e se deixa balançar pela melodia. é quando minhas expressões se tornam uma com a harmonia e eu me torno visita em meu próprio local de habitação.

creio que minha alma gosta de vir à tona para brincar com as fortes ventanias. e eu a permitia.

deixei que meus braços fosse para cima e para baixo, que meus pés dançassem sobre o piso amadeirado e que minha coluna se contorcesse o quanto desejasse. era eu quem estava impregnado nela.

fechei os olhos e então bailei, deixando-me fluir, abdiquei todos os meus medos e receios. abri os braços, movimentando-os constantemente, da direita para a esquerda, de frente para trás, de cima para baixo.

então me mobilizei mais furiosamente, sentindo todo o meu torso se contrair em liberação. em meses, eu tinha finalmente me sentido livre.

amar kim taehyung era exaustivo. eu deixava-o me possuir sem desdém, sem meios e sem restrições. usufrui tanto dele que me perdi.

todas as minhas questões tornaram-se lentamente as questões dele. e eu era cego demais para parar, para interromper o fluxo. talvez, mas só talvez eu não quisesse.

e ainda não quero. mas é tão necessário que me arranca o ar.

não tenho a certeza se ele me ama. nunca trocamos 'eu te amo' um para o outro anteriormente. mas em todo meu íntimo eu sabia, eu o amava. não precisava ser um gênio para perceber o quanto meus sentimentos se esvaíram depois que o conheci.

ele sabe. ele deve saber. eu deixo tão óbvio, mas ao mesmo tempo é algo tão natural. somente sobe a mim e eu passo adiante.

senti o sol beijar o meu rosto com seus raios petulantes de quentes. questiono-me se foi uma pitada de consolação.

“você fica tão belo quando dança.” ouvi a voz melodiosa em minha orelha direita, senti sua respiração quente rente ao meu pescoço e respirei pesado.

seria difícil me desvincular deste ser.

“você é um stalker, kim taehyung?” perguntei risonho e abri os olhos, vendo-o agora em minha frente, com os cabelos prateados.

“posso ser o que quiser se for para estar perto de você.” eu ri soprado, tentando soltar-me do meu nervosismo.

eu não sou burro. é claro que havia algo entre a gente. é impossível não ter quando nos olhamos daquele jeito, quando nos abraçamos apertado.

eu sabia. ele sabia. desde o começo estávamos condenados a isto.

“eu amei o seu cabelo, céus, taehy. você me tira dos eixos!” ele sorriu grande, instigando-me a passar a mão sobre suas madeixas.

assim que o fiz, ele arqueou às costas e fechou vagarosamente os olhinhos, aqueles quais eu me perdia.

era um fato. eu estava condenado a amá-lo como físicos amam a natureza, como filósofos amam filosofia, como químicos amam as reações químicas.

mas eu, jeon jungkook não estava para ele, kim taehyung.

talvez ele me amasse sim, mas não da mesma maneira que eu o amo. talvez ele me quisesse, mas não da forma como eu o quero. estamos em proporções diferentes e eu não posso culpá-lo.

se eu me tornasse mar, ele sequer seria um peixe.

decidido, aconcheguei-me mais do torso dele. abracei-o lentamente, pondo forças nos dígitos que dedilharam seus ombros, costas e cintura. declinei minha cabeça no vão de seu pescoço e me lancei a saborear o seu perfume.

fiquei quietinho ali por diversos segundos, escutando seu coração acelerado dentro da caixa torácica. repousei minha ali, mostrando-lhe que eu sabia. eu sabia que estávamos apaixonados. mas não era recíproco.

enquanto eu o amava como uma nebulosa, ele gostava dos meus grandes cílios.

não encaixava.

“eu preciso te dizer algo.” iniciei, o coração prestes a sair na boca.

“pode dizer.” me afastei pouco a pouco, fitando-o intensamente. capturei suas mãos nas minhas, entrelaçando-as.

“nós... a gente, não está dando certo.” a frase saiu em um fiasco de voz, eu estava quebrado. senti-o compressar nossos dedos, então abaixei o olhar.

“amo você. com todo meu coração...” ele me interrompeu, dando um passo mais à frente, encarando-me como um animal selvagem, machucado, ferido.

“deixa-me continuar, por favor...” implorei, sentindo algumas lágrimas quentes despejarem sobre o meu rosto.

ele assentiu, mesmo desnorteado.

“eu não sei como fazer isso. mas eu preciso.” funguei e suspirei.

“pode parecer confuso para você entender isso agora, mas... você não me ama, taehyung. não da forma como eu te amo.” ele mirou-me novamente, as orbes dilatadas e vermelhas; vi-o engolir em seco.

“eu sei que dói. acredite, isso está dilacerando o meu peito.” sacudi levemente nossas mãos entrelaçadas, mostrando-o minha aflição.

“enquanto você é minha capela sistina, eu sou só um pintor mediana para você. e está tudo bem, é só questão de reciprocidade, talvez destino. você não pode me dar o que eu almejo, o que eu mereço... o que nós merecemos. você entende, tae?” vi-lo lacrimejar e me puxar abruptamente para o seu abraço.

“eu passei tanto tempo consumindo de sua identidade que eu esqueci de formar a minha.” disse ao fim. num resquício de voz amargurado e choroso. ele me enlaçou mais forte.

“eu sei.” respondeu amaciando meus cabelos desgrenhados pela dança.

essa era a nossa despedida.

⳽oᑲɾᥱ ᥴᥲƒᥱ́⳽ ᥱ ɾᥱᥴɩρɾoᥴɩᑯᥲᑯᥱ. • taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora