6. San Saba

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Sábado

Safira,

Passamos por trechos de duas autoestradas e avistamos algumas pequenas cidades em paisagens tão planas que meus olhos se perdem na quase infinitude do horizonte. Minha visão também alcança terras avermelhadas com árvores e plantações espaçadas, alternando-se por outros cenários acinzentados, de terras em tons claros, de aspecto mais seco e com arbustos sem folhagens.

O clima quente e úmido perdura por quase o ano inteiro nessa região. É metade do dia e o calor não alivia, apesar do céu nublado. Quando saímos de Austin, o céu aberto nos acompanhou por pouco tempo e nuvens pesadas começaram a se acumular no céu.

Agora estamos passando pela cidadezinha de San Saba, considerada a capital da noz-pecan. Deixamos para trás um moinho de água, que me faz lembrar de uma roda-gigante. Observo curiosa da janela do carro. Tudo que queria era parar, tirar uma foto e fazer uma postagem na minha rede social de poucos seguidores, porém não quero pedir isso a Edgard.

Encanto-me com os sobrados geminados nos tons terrosos e com construções em acabamentos em pedra. Edgard reduz a velocidade, porque também se interessa pela pequena cidade e abaixa o volume de sua playlist.

— Bonitinho aqui, né?

— Ah, Ed, eu amei, poderíamos parar um pouco.

Ele bufa.

— Sah, não viemos aqui turistar e essas cidadezinhas texanas são todas iguais. Quero logo chegar a esse rancho. Todos já estão lá, só nós que saímos tarde. — Ele faz um muxoxo. — Se você não tivesse tido aquela crise e me desestabilizado, teríamos acordado mais cedo. — Ele me fita com um olhar pesado e depois voltar a prestar atenção à direção. — Amanhã quando voltarmos, paramos um pouco e tiramos algumas fotos. Combinado?

Balanço a cabeça de modo afirmativo.

A última construção que me chama atenção é o imponente tribunal de San Saba e suas inscrições: "From the people to the people", ou seja, do povo para o povo. Não se pode dizer que todas as cidadezinhas são iguais.

Percebo só alguns traços semelhantes, como o de que os texanos gostam de demonstrar o orgulho por seu Estado. É comum encontrarmos residências e comércios com a bandeira do Texas e, às vezes, a texana e a americana, hasteadas em suas entradas.

Edgard aumenta o volume de sua playlist de novo. Aliás, durante o trajeto, ele a manteve nas alturas e sei que foi para evitar conversamos. Tivemos uma discussão complicada ontem à noite.

Eu me entrego às recordações difíceis.

— Estou excitado, Sah, com a expectativa de ser cortejada por vários homens. Não faz ideia como me sinto — ele confessou.

— Ed, não consigo entender essa fissura que só aumenta. Mas eu cansei disso — desabafei nervosa, sustentando o corpo com as mãos sobre a mesa, assim que servi o jantar. — Me causa angústia imaginar estranhos me tocando.

— Eles não são estranhos e você poderá escolher qual peça do jogo será nosso primeiro brinquedinho!

Levei a mão à cabeça. Pensei em Eric, no seu olhar dirigido a mim.

— Ed, nós... nós estamos doentes, não vê? Precisamos rever a nossa relação. Não podemos basear a nossa vida sexual à presença de uma terceira pessoa.

Edgard se levantou zangado, ignorando o prato de filé e batatas assadas, que servi para nós. Mas continuei:

— Onde preciso desenhar pra você entender que não sinto mais prazer nisso? — gritei e saí da cozinha.

A ESPOSA DO MEU AMIGO ⚠️  (Degustação) Só os capítulos iniciaisOnde histórias criam vida. Descubra agora