2. Eric

1.4K 318 33
                                    


Eric,

Ela é linda. Cada gesto e movimento tem uma cadência tão harmônica que é um afago aos sentidos. Os olhos são de um azul tão profundo e melancólico que tocam almas mais sensíveis. E o sorriso, embora fascinante e com potencial de se tornar iluminado, deixa escapar certo ar tristonho e sombrio.

Não consigo parar de observar Safira.

Uma mulher em que o sorriso é um grito de socorro.

Quer dizer, penso eu...

É que, observando-a melhor nesse churrasco, não percebo o ar de mulher predadora, dominante, que está feliz com as aventuras eróticas em que é rifada pelo marido. Esperava que a esposa de Edgard tivesse um jeito seguro, típico de mulheres fortes, dessas que sabem o que quer e desafiam os padrões em nome do próprio prazer.

Mas o que eu vejo é uma flor maltratada. Uma mulher tímida, que pode estar sendo persuadida a participar dessas transgressões.

Você não sabe, cara. Pare. Ah! O que você tem a ver com a vida da esposa de um amigo do trabalho?

De repente, freio o ritmo dos meus pensamentos enquanto a vejo sorrir por educação para a esposa de Rodrigues, Kimberly.

Henry Smith dedilha no violão Thinking Out Load, do Ed Sheeran, e arranha a canção em sua voz sem potência. Alguns param para escutar e acompanhar o marido da Tabata.

Enfim, Edgard é meu camarada das horas extenuantes no desenvolvimento de softwares nos projetos da STW. Esporadicamente, em geral às sextas-feiras, costumamos sair para tomar drinks e escutar música ao vivo, em algum pub ou bar na Sixth Avenue. Também gostamos de comer em algum food truck e conversar sobre o trabalho.

Quando ele chegou à Austin, costumava levá-lo à ponte da Congress Avenue, para admirar uma das vistas mais bonitas da capital do Texas, com os caiaques atravessando o rio Colorado e assistir a encantadora revoada de morcegos.

Ele falava pouco da esposa, raramente comentava sobre fatos corriqueiros do cotidiano da sua vida. Quer dizer, até os últimos meses, quando passou a me sondar. De repente, se tornou curioso sobre as minhas peripécias sexuais. Dei corda, pois desde Samantha, estou solteiro e me tornei um pegador sem compromisso.

O meu amigo me surpreendeu com a sua proposta, numa noite que bebíamos e beliscávamos nachos.

— Você não acha Safira gostosa? — ele indagou logo após tomar um grande gole do seu destilado.

— Ah, eu, eh... — gaguejei surpreso com a questão. — Nossa, Ed, sua esposa é linda, mas nunca pensei nesses termos.

— Poderia pensar, aliás, pode pensar — ele disse de maneira penetrante, como se me autorizasse algo.

A princípio imaginei que a culpa fosse do excesso de álcool que já havíamos ingerido. Mas naquela noite, Edgard me deu carona até o apartamento onde moro.

— Eu não me importaria mesmo que você tivesse um envolvimento físico com Safira. Ela é uma mulher bonita, sei que é desejada por muitos homens, sei que ela desperta instintos.

— Acho que bebemos demais, mano, e falamos muita merda — respondi e fui abrindo a porta do carro, mas ele pegou no meu antebraço de um jeito firme.

— Não é a bebida, amigo, estou sóbrio. É uma proposta.

É uma proposta...

Aquilo ficou martelando na minha cabeça.

A ESPOSA DO MEU AMIGO ⚠️  (Degustação) Só os capítulos iniciaisOnde histórias criam vida. Descubra agora