Parte III - A Ilha do Dragão

51 10 4
                                    

Por um mês, aqueles que tentaram ser conhecido como "Carrascos", saquearam e vandalizaram a cidade. Ao invés do nome escolhido, ficaram conhecidos como "Arruaceiros do Norte". Ninguém sabia porque o "Norte". Provavelmente quem deu esse nome gostou da sonoridade.

Roseris derramou peças de ouro na mesa da taverna. Ysaline estava de vigia na porta, enquanto os irmãos e o mago bebiam. Leodor chegou e Ysaline pediu para revistá-lo.

— Eu sou parte da equipe! — Ele bradou.

— Eu não faço as regras, senhor.

— Não, eu faço!

Roseris foi até eles.

— Ysaline, deixe ele entrar.

Ela obedeceu.

— De onde saiu tanto ouro? — ele questionou.

— Parte disso veio livrando vilas de goblins, e roubando tesouros de dragões. O resto, saqueamos.

— Espero que estejam em forma para a missão.

— Quando começamos?

— Imediatamente.

— Como assim? — Roseris indagou, atônita — Não planejamos nada.

— Podiam ter feito isso ao invés de saquear a cidade. Mas quem precisa de planos quando temos uma fada conosco, não é?

— Faz algum tempo que eu não visito o País dos Sonhos...

— Quanto tempo?

— Cerca de 936.

Leodor murmurou um palavrão altamente cabeludo.

— Precisamos começar logo.

— Não sou totalmente ignorante sobre meu povo. Vamos para a Ilha do Dragão, onde descansa o rei Draconato em sua forma petrificada. Em seu tempo houve uma forte aliança com as fadas. Ele conhece o caminho.

— Como um dragão de pedra pode nos ajudar? — Questionou Araloth.

— É preciso saber ouvir sua voz. — Roseris respondeu, com um largo sorriso.

O rei providenciara um navio para a Ilha do Dragão. Roseris relembrou seu passado como pirata, quando saqueava e enchia a cara de rum.

Pensando bem, pouca coisa mudou.

Chegando à ilha, um guia local os levou até o Dragão de Pedra. Havia todo um santuário ao redor para o outrora rei Yriatos.

— Vou tentar entrar em contato com o espírito de Yriatos. — disse Roseris.

— Sabe fazer isso? — Leodor indagou, desconfiado.

— Confie em mim.

A estátua tinha seis metros de altura. Roseris voou até o dragão.

Ela encostou sua cabeça na dele, e com o indicador tocou a esmeralda cravada na testa da estátua.

Os olhos do dragão adquiriram uma luz esverdeada, e suas escamas de pedra voltaram a cor de ouro original por alguns instantes. Os olhos de Roseris ficaram totalmente brancos, suas asas falharam e ela caiu, sendo pega à tempo por Jarek.

Quando voltou a si, ela disse:

— Eu vi. Ele me mostrou o caminho.

— Detalhes, por favor. — pediu Leodor.

— Há um Caminho de Flores na ilha. Mas há um problema... — hesitou —  Nem todos chegarão ao final.

— Então alguém morrerá?

— Não necessariamente... Há muitas formas de ficar para trás. O País dos Sonhos é cheio de armadilhas.

— Podemos lidar com isso! Estou pronto para matar fadas! — bradou Araloth, até se lembrar que Roseris estava ali — Sem ofensas, moça.

A Ilha do Dragão era grande, porém em pouco mais de um dia, já haviam procurado o portal por quase todos os cantos, sem sucesso.

Estavam quase desistindo, quando Galahar tropeça em algo. Ele falou um palavrão bem alto, antes de ver a coisa em que tropeçou se mexer.

Era uma cauda de dragão.

— É um dragão! — ele berrou.

— Se contenha, mago. — disse Roseris — Isso podia acontecer. Estamos na Ilha do Dragão. Por sorte, esse ignorou nossa existência.

De fato, o dragão se mantinha dentro de uma caverna, apenas com a cauda para fora, pouco se importando com o que acontecia.

Iam seguir seu caminho, quando Ysaline diz:

— Se olharem para dentro da caverna, poderão ver algumas pétalas pelo chão. Isso poderia ser um Caminho de Flores?

— É um lugar estranho para crescer flores. — respondeu Roseris — Então sim, poderia.

— Temos que entrar nessa caverna com um dragão dentro? — Questionou Galahar.

— Não temos escolha, temos? Eu vou na frente.

Um por um adentrou a caverna, seguindo o caminho de pétalas. Ironicamente, o caminho terminava onde começava a grande boca do dragão adormecido.

— Alguém precisa distrair o dragão. — ela disse, e todos permaneceram em silêncio. — Se ninguém se candidatar, eu mesma terei que escolher alguém.

— Quem a tornou nossa líder? — Leodor perguntou, indignado.

— Eu sou uma fada, lembra? Precisam de mim até o final.

Os irmãos se entreolharam.

— Tem certeza, Jarek? — perguntou o anão, e o gigante assentiu com a cabeça. — Meu irmão vai cuidar do dragão.

— Tem certeza?

— Não se preocupem, minha tribo come tipos como esse no café da manhã.

Jarek acordou o dragão e o atraiu para outra parte da caverna. Onde ele antes repousava, agora podia-se ver algo que parecia a silhueta de uma porta desenhada na parede da caverna, bem onde terminavam as pétalas.

— Prontos? — perguntou Roseris, e todos assentiram — Podemos ir.

Ela tomou impulso e correu até a porta, fechando os olhos quando se aproximou, temendo que houvesse se enganado e acabasse batendo na parede.

Mas não foi o que aconteceu. Ela sentiu um ar fresco e perfumado, e as gotas de orvalho na grama macia sob seus pés. O lugar parecia uma pintura imaginada pelo mais inspirado dos artistas.

"Estou de volta." — pensou Roseris, segurando as lágrimas — "Finalmente em casa".


904 palavras 

O Livro das FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora