Parte IV - O País dos Sonhos

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Quando os outros atravessaram o portal, Roseris ainda se mantinha de pé sobre a grama, parada, com os olhos marejados voltados para o horizonte.

— O que está fazendo? — Indagou Leodor.

— É estranho estar em casa, depois de quase mil anos...

— Não temos tempo. Diga o que devemos fazer.

Roseris se recompôs e formulou uma resposta.

— Estamos nas Terras Encantadas. Ainda não é o País dos Sonhos. Mas há meios de chegar lá.

— Que meios?

— Elas estão nos observando.

— Elas?

— As ninfas. Podemos perguntar a elas. 

— O que vai fazer?

— Me chamo Roseris. Sou uma fada. — ela gritou — Gostaria de prestigiar sua rainha.

— Isso vai funcionar?

— É claro que vai. — cochichou — É só esperar.

Três ninfas saíram das árvores. Uma morena de cabelos negros, uma pálida de cabelos dourados e a outra tinha a pele verde e cabelos de folhas.

Roseris prestou uma reverência, e os outros imitaram o gesto.

— Humildemente peço que me levem a sua líder. Vim como amiga apenas para conversar.

As três se entreolharam e fizeram um sinal para que as seguissem.

Seguiram as ninfas até as profundezas do bosque, onde havia um trono de galhos em que estava a rainha, que tinha pele esverdeada e cabelos escuros e crespos, e olhos totalmente negros. Fez um sinal para que se sentassem. As outras ninfas trouxeram leite, mel e frutas.

Roseris esqueceu de avisar que não deviam comer ou beber qualquer coisa que lhes fosse oferecida em território encantado. Ela recusou educadamente, e os outros entenderam o recado, exceto o mago. Quando viu que ele bebia e comia desesperadamente, Roseris bateu com a mão na testa e xingou o mago mentalmente.

— Me chamo Roseris. Sou uma fada que viveu toda a vida no mundo dos homens. Agora estou numa missão e preciso chegar ao País dos Sonhos.

A rainha se ajeitou em seu trono.

— Conte-me sobre a missão.

— Preciso encontrar minha família. Como não conheço o suficiente desse lugar, meus amigos estão me ajudando.

— E como um mago, um elfo, um anão e uma humana poderiam ajudar uma fada?

— Eles são meus amigos. Não conseguiria sozinha. — respondeu — Isso basta.

— Entendo. — dizia a rainha — E que tipo de ajuda desejas de mim?

— Apenas informação. Preciso saber como chegar ao País dos Sonhos.

A ninfa a encarou seriamente, e depois sorriu.

— Refaça essa pergunta a si mesma.

— Como chegar ao País dos Sonhos? — Roseris indagou, antes de entender — Sonhando?

— Isso mesmo.

— Se dormirmos chegamos lá?

— Sim, se for o que procuram. — ela abriu um sorriso tenebroso — Tomem cuidado, ou jamais voltarão. Não seria um sonho comum. Há chances de gostarem tanto que nunca mais irão querer voltar. Ou podem enlouquecer.

— E se alguém vigiasse nossos corpos? Alguém que pudesse nos acordar?

— Isso facilitaria. — respondeu a rainha — Mas como essa pessoa vai saber que completaram a missão?

— Não saberia. — respondeu, e seus olhos encontraram os do mago — Você vai vigiar nossos corpos.

— Eu?

— Deverá nos acordar em doze horas. Caso não consiga, deve conhecer alguma forma mágica de fazê-lo.

— Bem, eu até conheço...

— Então será você.

As ninfas arrumaram um lugar seguro onde poderiam cair em sono profundo e colocaram ervas ao redor cujo cheiro facilitaria a viagem.

Todos dormiram rapidamente, e despertaram num lugar tão estranho quanto belo.

O céu noturno mudava de tons, as árvores retorcidas pareciam se mover. Flores e cogumelos gigantes davam um aspecto lindamente bizarro ao ambiente.

— É aqui, não é? — Indagou Ysaline — Só pode ser.

Ouve-se um tilintar, seguidos por um bater de asas e risinhos.

— Elas estão aqui. — Roseris murmurou — Saudações, minhas irmãs. Não precisam ter medo. Eu sou uma de vocês, e os outros três são meus amigos.

As risadas ficaram mais altas.

— Apareçam! — berrou Roseris.

Uma única fadinha saiu de trás da árvore. Era pequena, tinha cachos dourados e asas de libélula.

Como fez com as ninfas, Roseris prestou uma reverência, e a fada retribuiu o gesto.

— Se não for incômodo, gostaria que nos levasse ao Labirinto.

A fadinha levantou o rosto e piscou os olhos azuis celestes.

— Será um prazer. 


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O Livro das FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora