Quando os outros atravessaram o portal, Roseris ainda se mantinha de pé sobre a grama, parada, com os olhos marejados voltados para o horizonte.
— O que está fazendo? — Indagou Leodor.
— É estranho estar em casa, depois de quase mil anos...
— Não temos tempo. Diga o que devemos fazer.
Roseris se recompôs e formulou uma resposta.
— Estamos nas Terras Encantadas. Ainda não é o País dos Sonhos. Mas há meios de chegar lá.
— Que meios?
— Elas estão nos observando.
— Elas?
— As ninfas. Podemos perguntar a elas.
— O que vai fazer?
— Me chamo Roseris. Sou uma fada. — ela gritou — Gostaria de prestigiar sua rainha.
— Isso vai funcionar?
— É claro que vai. — cochichou — É só esperar.
Três ninfas saíram das árvores. Uma morena de cabelos negros, uma pálida de cabelos dourados e a outra tinha a pele verde e cabelos de folhas.
Roseris prestou uma reverência, e os outros imitaram o gesto.
— Humildemente peço que me levem a sua líder. Vim como amiga apenas para conversar.
As três se entreolharam e fizeram um sinal para que as seguissem.
Seguiram as ninfas até as profundezas do bosque, onde havia um trono de galhos em que estava a rainha, que tinha pele esverdeada e cabelos escuros e crespos, e olhos totalmente negros. Fez um sinal para que se sentassem. As outras ninfas trouxeram leite, mel e frutas.
Roseris esqueceu de avisar que não deviam comer ou beber qualquer coisa que lhes fosse oferecida em território encantado. Ela recusou educadamente, e os outros entenderam o recado, exceto o mago. Quando viu que ele bebia e comia desesperadamente, Roseris bateu com a mão na testa e xingou o mago mentalmente.
— Me chamo Roseris. Sou uma fada que viveu toda a vida no mundo dos homens. Agora estou numa missão e preciso chegar ao País dos Sonhos.
A rainha se ajeitou em seu trono.
— Conte-me sobre a missão.
— Preciso encontrar minha família. Como não conheço o suficiente desse lugar, meus amigos estão me ajudando.
— E como um mago, um elfo, um anão e uma humana poderiam ajudar uma fada?
— Eles são meus amigos. Não conseguiria sozinha. — respondeu — Isso basta.
— Entendo. — dizia a rainha — E que tipo de ajuda desejas de mim?
— Apenas informação. Preciso saber como chegar ao País dos Sonhos.
A ninfa a encarou seriamente, e depois sorriu.
— Refaça essa pergunta a si mesma.
— Como chegar ao País dos Sonhos? — Roseris indagou, antes de entender — Sonhando?
— Isso mesmo.
— Se dormirmos chegamos lá?
— Sim, se for o que procuram. — ela abriu um sorriso tenebroso — Tomem cuidado, ou jamais voltarão. Não seria um sonho comum. Há chances de gostarem tanto que nunca mais irão querer voltar. Ou podem enlouquecer.
— E se alguém vigiasse nossos corpos? Alguém que pudesse nos acordar?
— Isso facilitaria. — respondeu a rainha — Mas como essa pessoa vai saber que completaram a missão?
— Não saberia. — respondeu, e seus olhos encontraram os do mago — Você vai vigiar nossos corpos.
— Eu?
— Deverá nos acordar em doze horas. Caso não consiga, deve conhecer alguma forma mágica de fazê-lo.
— Bem, eu até conheço...
— Então será você.
As ninfas arrumaram um lugar seguro onde poderiam cair em sono profundo e colocaram ervas ao redor cujo cheiro facilitaria a viagem.
Todos dormiram rapidamente, e despertaram num lugar tão estranho quanto belo.
O céu noturno mudava de tons, as árvores retorcidas pareciam se mover. Flores e cogumelos gigantes davam um aspecto lindamente bizarro ao ambiente.
— É aqui, não é? — Indagou Ysaline — Só pode ser.
Ouve-se um tilintar, seguidos por um bater de asas e risinhos.
— Elas estão aqui. — Roseris murmurou — Saudações, minhas irmãs. Não precisam ter medo. Eu sou uma de vocês, e os outros três são meus amigos.
As risadas ficaram mais altas.
— Apareçam! — berrou Roseris.
Uma única fadinha saiu de trás da árvore. Era pequena, tinha cachos dourados e asas de libélula.
Como fez com as ninfas, Roseris prestou uma reverência, e a fada retribuiu o gesto.
— Se não for incômodo, gostaria que nos levasse ao Labirinto.
A fadinha levantou o rosto e piscou os olhos azuis celestes.
— Será um prazer.
728 palavras
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O Livro das Fadas
FantasíaO mundo de Astea sobrevive há quatro longas eras. Reinos, reis e rainhas surgiam e caíam novamente. Eras iam e vinham, mas apenas um lugar permanecia intocado pelo tempo. Um lugar tão belo e mágico quanto estranho e trágico, onde o maior perigo é o...