Jorge

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Como conheci meus amigos?

Bem, acho que tudo começa naquela taverna em Firece.

Toquei por muitas horas naquela noite e as gorjetas foram generosas a ponto de eu ter dificuldades de carregar tudo.

O velho taverneiro perguntou meu nome e me ofereceu toda a sua hospitalidade para que eu tocasse ali com mais frequência, mas recusei.

Naquela época eu ainda era jovem e queria me encantar com o mundo.

A estrada me chamava.

Como um velho andarilho que conheci uma vez me disse: "É perigoso sair porta a fora. Você pisa na estrada e se não controlar seus pés, não há como saber até onde poderá ser levado"

Pois bem, apesar de minha ânsia por deixar Firece, gastei algumas moedas com uma boa bebida e dormi num quarto nos fundos da taverna naquela noite.

Saí antes do nascer do sol seguinte, não queria mais me demorar naquela região.

Enquanto caminhava pela estrada principal, minha espinha se arrepiou.

Tateei em busca da adaga que carregava em minha capa e me preparei para o pior.

E minha intuição estava certa.

Logo quatro homens me cercaram.

Perguntei o que queriam enquanto sacava minha adaga.

"Guarde esse palito de dentes garoto, só queremos o seu dinheiro" disse um dos homens.

Quando ele se aproximou, lhe dei uma estocada na barriga.

Ele urrou de dor, mas imediatamente os outros homens vieram para cima de mim.

Recebi diversos golpes, entre eles um forte soco no rosto que me fez perder um dente e sentir uma profusão de sangue encher minha boca.

Ergui as mão para proteger meu rosto e recebi uma joelhada no estômago. Achei que deixaria meu café da manhã sair naquele momento, enquanto caía ao chão e era chutado por todos os lados.

Quando achei que tinha encontrado meu fim, ouvi uma voz.

Parecia um milagre, algo digno de um santo, por mais simples que fossem as palavras: "parem com isso".

Ouvi os bandidos rindo, ainda não tinha coragem de abrir meus olhos que eu havia fechado numa tentativa fútil de evitar a dor por não ver os golpes sendo desferidos.

Apenas ouvi um impacto metálico, seguido de um som seco de um punho contra a carne.

Mas não era minha carne que havia sido golpeada.

Respirei fundo e abri meus olhos a tempo de ver um dos bandidos caído inconsciente e com o sangue jorrando de seu nariz enquanto os demais sacavam suas espadas.

"Ah, vocês usam espadas, então posso sacar a minha sem tornar a luta uma desonra" disse meu salvador enquanto retirava seu belo e brilhante armamento da bainha.

O primeiro bandido avançou golpeando de baixo para cima, mas sua lâmina encontrou um escudo posicionado com maestria e brandido por um braço poderoso.

O impacto  desequilibrou o atacante que foi derrubado com uma rasteira e nocauteado com um golpe de cabo de espada.

O outro bandido tentou aproveitar o momento de distração de meu salvador e estocá-lo enquanto ele se levantava, mas não foi rápido o bastante.

Novamente, o desconhecido foi rápido e antes de ser atingido contra-atacou, cortando uma das pernas de seu adversário.

Com os bandidos derrotados, o desconhecido se aproximou de mim e perguntou se eu estava bem.

Tudo que fiz foi perguntar-lhe qual o seu nome.

Quando ele me respondeu, fui o primeiro a chamar-lhe pelo nome com o qual ele entraria para a história.

São Jorge.

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