Prólogo

57 3 0
                                    


»»————- ★ ————-««

Apesar de pouco compreender sobre romances, sei que é suposto que toda história se inicie pelo começo. Mas como posso lhes contar este começo se nem mesmo eu o compreendo? Como posso contar sobre o filho da puta que adora me perseguir? Como explicar sobre essas forças que só eu enxergo? O que posso fazer para não os deixar tão confusos quanto eu?

O que me resta é lhes contar do fracasso, e do pouco que me lembro de minha experiência de quase morte, embora eu ache que nenhum de vocês vá acreditar, - eu também sempre achei que as pessoas tendem a ficarem meio loucas após um evento traumático, mas algo me diz que psicólogo algum no mundo vá me ajudar a compreender o que diabos foram aquelas visões - sendo assim, vamos ao que pude compreender até o momento:

A vida é casada.

Com um moço à beira dos quarenta, barbudo e carrancudo. O conheço de outros carnavais, - péssimos carnavais, por assim dizer.

Chama-se Destino.

Não é um casamento feliz, e qualquer um poderia perceber.

Isso até que me conforta, sabe? Saber que todos temos amores impossíveis... E que não foi reservado apenas a nós, humanos, o direito de sofrer.

Vejam o exemplo do Astro rei, o Sol.

Deus foi misericordioso ao lhe conceder o Eclipse, para que ele voltasse a reencontrar sua amada Lua.

Mas esse tipo de milagre não é distribuído por aí, para qualquer um que sofra de amor.

E somos a prova disso.

A Vida, ainda que bela e adorada, não pôde escapar dessas artimanhas.

O seu amor é seu total aposto, em número e grau.

Não sei como funciona a realeza das forças superiores, mas arrisco dizer que este é o amor mais impossível de toda história.

É difícil acreditar que um ser tão majestoso possa ser tão amargurado e, neste caso, amargura e angústia facilmente se confundem. E do jeito que as coisas são, creio que viva tramando junto ao Amor. Assim juntos colocam pessoas opostas no caminho uma da outra, na vaga esperança de que um dia alguém possa sentir ao menos um terço de como se sentem.

E eu entendo, faria o mesmo se tivesse a chance.

Mesmo que a situação não seja tão favorável, fico feliz por ter sido a causa do reencontro.

Deitada em meu leito, observo as duas forças discutirem ao meu respeito.

A Vida, com toda sua glória, braços cruzados rente ao peito. Seus cabelos brancos brilham como uma benção do próprio sol, seus olhos escuros em uma eterna ferida que nunca se fecha.

A falta que o seu amor faz.

Vejo seu rosto enrubescido em raiva, dizendo que ainda não é a minha hora. Que tem tudo arquitetado. Suponho que seja um rabisco mal feito no seu livro, considerando o quão perturbada a minha própria vida é.

A Morte está impassível, com as mãos nos bolsos de seu manto. Seus cabelos negros como um céu estrelado, seus olhos em um branco cintilante; São conformados.

Se conformou e aceitou as consequências das coisas que não tem controle. Como se apaixonar pelo mais belo dos seres. E por ser seu total oposto, teve sua punição.

Seres divinos não devem embarcar em romances astrais.

Tudo conforme o que está escrito, cada qual com seu qual: A Vida e o Destino.

E a Morte...

Bem, não restava muito para ela além da companhia dos outros cavaleiros do apocalipse, mas isso é apenas conspiração minha, devaneios de uma mente entorpecida pelo cheiro horrível de hospital, e talvez possa ser apenas as luzes refletindo em todo branco da sala, ainda assim posso jurar que já faz algumas horas que as vejo discutir enquanto minha cabeça insiste em dar voltas.

Assim pude fazer algumas suposições, e tomar minhas próprias conclusões. A Morte diz que a Vida está apenas dificultando o seu trabalho, que teria que me levar logo, e não havia nada que pudessem fazer a respeito. Sua delicadeza ao escolher cada palavra dita, me faz acreditar que para ela aquele encontro estava longe de ser agradável.

O que dizem os AstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora