Falsidade

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Sacos repousam no chão pouco depois da entrada. A velha e sua cria para a cozinha se dirigem, em seus segredos se escondem, suas conversas obscuras e traiçoeiras partilham, por uma nova briga buscando. Mãe e sua pequena amostra de anjo para o nosso quarto se dirigem, os seus rostos são tão felices e inocentes, tão doces, tão puros. Na inocência da conversa que na cozinha azeda se distanciam, do nosso quarto se aproximam, uma primeira vez a porta puxam, mas trancada, se recusa a abrir. Dois toques suaves, pelo nosso nome chamando, mas nenhuma voz de volta responde. O tranquilo rosto de nossa mãe em preocupação aos poucos se derrete, o anjo em dúvidas se decaí, da situação nada entende. Um silêncio perturbador continua em nosso lugar respondendo, o ruido natural enquanto, sem nenhuma voz nele soando. Nosso anjo uma vez mais na porta bate, sua manhã começa a contar, uma tentativa de nos alegrar como sempre o fazia quando em mágoas nos afogávamos. Doces ofertas, belas piadas, delicados contos, uma natureza tão ingénua que de pena qualquer coração era capaz de afogar. Nossa Mãe por sua chave suplente buscava, por um modo de abrir nossa porta procurava. Trancarmo-nos e adormecermos, de tanto chorar que incapaz somos de nos levantar, surdos pela música nada escutávamos em nosso mundo perdidos nos encontrávamos. Tantas possibilidades mas ela sempre o pior pensava, com razão se preocupava, mas nada por nós era capaz de fazer, com nossa dor ela não poderia carregar, nem nossos males resolver, ela mesma nos seus se afogava em sua depressão lentamente se afundava.

A chave encontrando e o anjo em seu conto continuando. Nossa porta abrindo e num grito reagindo, em prantos de decaindo. Nossa mãe em gritos de socorro se muda, em suas próprias lágrimas se sufoca, para longe sua mente é levada, sua sanidade de vez é apagada. Sem saber nosso anjo chora, seu coração se abala, seus olhos não processam o que vêem, sua mente no impossível tenta acreditar, por nós insiste em chamar, instável se torna nervos lentamente a consomem, trémula e perdida, nos braços da mãe se esconde, a situação teme, pois ela não entende as sombras sua mente domam. Nossa mãe não mais reage, nosso anjo abraça, nos encarar não é capaz se parar. A figura que como pai se assume, a nosso quarto vem ver o que se passa, qual a razão de tantos gritos e prantos pela casa não pararem de ecoarem. Pela porta entrando, e ele mesmo congelando, pela primeira vez o seu lado fraco revela, sobre si seus pecados pesam, seus erros de verdade magoam, todas as suas consequências à tona ressurgem. Num silêncio se perde, quase em suas próprias lágrimas afogando, é como se sua máscara de violência aos poucos se despedaçasse e mostrasse o Pai e humano que se encontrava no fundo daquele posso de amargura e traumas, ocultados num húmido bosque de seu passado perdido. Por sua vez a velha vê a cena e pouco se importa, choque por momentos, mas em seguida sua expressão retorna ao normal. Sua face poderia não transmitir mas no fundo estava abalada, perdida e de certo modo, como se parte de seu plano houvesse sido rompida. Fisicamente nada sentia e pouco demonstrava, nas psicologicamente os danos surgiam, os pensamentos culposos tentavam sua mente penetrar, e aos poucos seu sucesso iam alcançando. Em pouco de que lhe restava de sua sanidade e estabilidade afirmou que iria ligar para o número de emergência para pedir "ajuda", assim se retirando do quarto. Num gesto nossa mãe conjunto com o anjo se retira para a sala, lá seus restantes pêsames deitando para fora, lamentando pela dor que sentimos e pelo que nosso anjo dali para a frente iria passar. Pela primeira vez, com carinho nosso pai nos trata, a cadeira no sítio coloca, nossa corda corta, e na cama nos repousa. Ele repara, de nosso bolso um papel retira, de primeira vista a palavra "Sociedade" édestacada, a carta não abre, em seu bolso guarda e para o computador se dirige. Nosso Mail lê, uma vez mais lágrimas sobre si se decaí, ao ler o que escrevemos, e as mensagens de apoio de nossos amigos que nunca seremos capazes de ler. A última mensagem de papel que sobre o computador se encontrava, e destacada como "Família" junta à anterior, e para junto e nossa mãe retorna, nosso corpo estendido ali deixando, em nossa cama uma última vez descansando, um corpo ausente de calor, aos poucos assumido de uma frieza eficazmente crescente que nossa cor retira, como neve nos torna.

O último diaOnde histórias criam vida. Descubra agora