Cinco

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Annabella não deu sinal de vida pelo resto do dia.

Onde estava a amiga? Será que estava chateada com ela?

Fala sério. Quem estava chateada era Aurora, e não ao contrário.

Sem muita opção do que fazer, resolveu que caminhar seria uma boa idéia. Lucas estava treinando muito porque tinha um jogo importante contra o time de outra escola. Então não era uma opção convidá-lo. Mas seria bom respirar ar puro sozinha. A melhor forma de fazer isso seria pedalando.

Foi procurar na garagem por sua velha bicicleta que, graças ao seu pai, estava em ótimo estado. A pintura vermelha ainda era impecável.

Depois voltou no seu quarto e pegou a câmera fotográfica que ganhara de Annabella. Ela lembra de ter dado a amiga um colar que ela tanto queria. Elas trocavam presentes com frequência, desde um bombom de chocolate, até câmeras fotográficas profissionais.

Talvez seria melhor ligar para amiga. Depois daquele episódio desagradável na frente da escola, elas não se encontraram mais. Não. Ela não ligaria. Ela tinha o direito de sumir também as vezes.

Saindo para as ruas de Stratford, uma cidadezinha no sul de Ontario, Canadá, sentiu o sol do verão no rosto.

Seu nome é em homenagem a cidade inglesa Stratford-Upon-Avon, onde nasceu o inesquecível William Shakespeare.

Stratford é inspirada em Shakespeare.

A sensação de liberdade que acompanhava o passeio de bicicleta era muito bem vindo. Quase dava vontade de soltar as mãos do guidom e pedalar de braços abertos. Mas ela não era suicida. Porque o mínimo que ia acontecer era ela se desequilibrar e tombar no chão rolando para um lado e a bicicleta para o outro.

Sorrindo da cena que passou pela cabeça, ela pedalou com cuidado.

O parque era um lugar lindo e mágico. E mesmo que cada canto ali já estivesse registrado na câmera e na memória de Aurora, ela não se cansava de admirar a beleza do lugar.

Uma sensação de felicidade pareceu alojar-se em seu ser. Era sempre bom estar ali.

O sol brilhante no céu azul sobre o gramado verde e as flores de diferentes tipos era o cenário perfeito para se registrar.

Deixando a bicicleta em um lugar adequado, Aurora começou a observar o paraíso diante de si através da lente de sua câmera.

Além das lindas flores, aquelas que são citadas nas obras do autor, ela fotografou as pessoas que por ali andavam, distraídas em seus próprios pensamentos, brincando com seus filhos e seus cachorros. Os turistas tinham no rosto um sorriso deslumbrado.

Sorrateiramente foi essas pessoas quem ela quis guardar na memória do cartão da câmera, eram pessoas com as quais ela não tinha a mínima chance de encontrar de novo. Existia um sentimento aventureiro nisso tudo. Ter a fotografia de um desconhecido, alguém que você nem sabe o nome, nem a sua história, guardados em segredos em algum lugar da sua casa. Enquanto àquele que foi fotografado, nem imaginava que um momento aleatório e uma posse qualquer, foi capturado e congelado para sempre, por outro estranho.

Se ela ouvisse isso de outra pessoa, a chamaria de perseguidora.

Sorriu e continuou fotografando. Um casal de turistas chamou sua atenção. Os dois eram negros. O homem era alto e forte, cabeça raspada, e segurava a bolsa azul da mulher, enquanto, ela tirava várias fotos do lago. Ela usava um vestido florido amarelo, e o seu cabelo amarrado num coque alto na cabeça. Eles eram lindos juntos. E a foto de Aurora ficou perfeita. Meio de lado, então dava para ver através da lente que estavam felizes.

Os Diários Perdidos - AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora